A murga regressa com um de seus espetáculos mais emblemáticos e transgressores
O regresso da Anarquia, o emblemático espetáculo criado por Falta y Resto para o concurso de carnaval de 2007, será a sala cheia. A próxima quarta-feira, com entradas esgotadas, a murga [gênero artístico que combina música e teatro] celebrará 10 anos desse show com uma atuação especial, que precede a um giro pela Argentina. Após a mesma virão os ensaios para a prova de admissão ao carnaval de 2018 e logo, dado o surpreendente êxito deste regresso, é provável que Anarquia se apre sente em dezembro e no Teatro de Verão. Ademais, a murga dirigida por Raúl Castro tem outros planos, como dar um giro pelo Chile no próximo verão.
Castro – apelidado Tinta Brava, pelo tom crítico de seus textos –, disse estar “emocionado” pelo respaldo do público e adiantou “vamos dar-lhe uma justa recompensa, com um show inesquecível”.
A volta do primeiro escrachador
Anarquia “é o nome de uma murga que nunca competiu, que atraiu um tipo que foi o primeiro escrachador destas paragens, mas também é uma loucura que se tornou realidade e transcendeu à própria Falta y Resto”, explicou. A frente dessa loucura há dois personagens. Um, interpretado por Orlando “Mono” Da Costa, é Viruta, o escrachador e diretor dessa murga imaginária. Outro, seu ajudante, o amigo que conta sua história, é Tatita, um bêbado do Mercado do Porto e esse é interpretado pelo próprio Castro.
Tatita, quando no tablado apresenta a seu amigo, diz que Viruta é “dos primeiros poetas anarquistas que assolaram o arrabalde montevideano”, autor de “versos rantifusos”, dono de uma “prosa proibida, com cheiro a umidade”, um personagem que cada vez que “saia da cana” gritava seus versos “frente aos balcões dos poderosos” em “uma quixotesca tentativa de minar com sua poesia os hipócritas cimentos da sociedade burguesa”. Viruta foi o primeiro escrachador, anarquista, criador de uma “prosa proibida, com cheiro a umidade”. Um exemplo dessa “poesia de ação direta”, como a definia Viruta e o canta o coro da murga, é: “Anarquia / voz que rima com poesia, fantasia e alegria, verbo de ressurreição / Anarquia / musa de minhas utopias, vermelha e negra rebeldia, vontade do coração”.
Vermelho e negro não é casualidade. São as cores de Falta y Resto e as do anarquismo. “Viruta quer o que queremos os murguistas, ajudar a melhorar a vida de todos, mudar a realidade, denunciar, gerar consciência, chamar a atenção, sacudir as estruturas”, ressaltou Castro (o verdadeiro criador dos textos). O show dura meia hora mais que o que se apresentou no concurso, com aspectos inovadores até para quem já o observou. Outro atrativo é que entre os murguistas haverá vários consagrados: Freddy “Zurdo” Bessio, Gerardo “El Alemán” Dorado, Javier Carvalho, Jorge “Coca” Vidal e Felipe Castro, entre outros. Também Matías Bravo, premiado como melhor solista de murga no carnaval 2017 e ganhador do primeiro prêmio com Don Timoteo.
Anarquia, proposta que deu muito que falar ainda que o jurado não a colocou na zona alta do concurso murguero, estabeleceu um marco nessa contenda: o 100% da música que integrou sua proposta foi criada para isso, era inédita, nada foi adaptado. “Se se tem em conta que o início da murga no Uruguai data de 1907 com La Gaditana que se vai, e isso que fez Falta y Resto foi em 2007… passaram 100 anos de murga sem uma murga com o 100% de sua música criada para o show!”, expressou, após o qual acrescentou que “com isso nos pusemos as calças largas e já não podemos voltar a pôr as curtas”.
Em poucos dias as entradas para ver “Anarquia” se esgotaram. Em seguida surgiram propostas para acrescentar apresentações, mas não era possível. Estava agendada uma turnê pela Argentina que envolvia atuações em Buenos Aires, La Plata, Córdoba, Rosario, Santa Fe, Salta, Jujuy e várias localidades mais, em cada ponto cardeal do país vizinho. Ao regressar, anunciou Castro, “nos pusemos a ensaiar para dar a prova de admissão para poder participar no concurso de carnaval do ano que vem”.
Se vem uma murga mista para a missa murguera
E para essa instância vem outra surpresa: Falta y Resto, acostumadas a não passarem desapercebidas, em seu coro de 14 murguistas terá sete damas e sete cavalheiros, em um espetáculo que já tem título: Missa Murguera.
Raúl Castro tem 67 anos e deles seis décadas pintando a cara. Começou de menino com sua própria murga, Los Caminantes, logo armou Los Penados Mercantes até que em 1980 com Hugo Piruja Brocos, Ovidio Cabal e outros amigos criou Falta y Resto, “a murga de minha vida, que continua nos enamorando e surpreendendo, soubemos que na Colômbia há três murgas estilo uruguaio e uma do sul de Bogotá, que se chama Zumba Zumba, a criaram a imagem e semelhança de Falta y Resto… pavada de orgulho!”, concluiu Castro.
Dois campeonatos
Falta y Resto –”a murga das quatro estações” porque foi uma das que inovou atuando fora da safra carnavalesca de verão – ganhou o primeiro prêmio em 1988 e repetiu em 1989 quando o compartilhou com Los Saltimbanquis.
Detalhes de “Anarquia”
– Data: quarta-feira 21 de junho
– Hora: desde às 21 horas
– Duração: 75 minutos
– Lugar: sala Eduardo Fabini do Auditório Nacional do Sodre “Dra. Adela Reta”, Montevidéu
A cifra
37 anos completou Falta y Resto, a murga que foi criada em 10 de junho de 1980.
Fonte: https://www.elobservadormas.com.uy/noticia/2017/06/19/41/diez-anos-de-anarquia_1086382/
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Joaninha caminha
no braço da menina.
Olhar encantado.
Renata Paccola
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!