No ano passado, o círculo Carlo Vanza (do Ticino, a Suíça de fala italiana) celebrou seus trinta anos de existência. Fundado como associação em Minusio, em 2003 se mudou a uma nova sede em Locarno, e desde 2014 se transladou a um espaço mais amplo em Via Convento 4, em Bellinzona.
Sua biblioteca conta atualmente com mais de cinco mil e quinhentos livros, cujo catálogo se pode consultar na página web anarcobolo.ch/vanza, onde também se podem ver as próximas atividades e as já realizadas, junto a diversos documentos, ademais de um amplo arquivo de coleções documentais e de revistas libertárias. A maior parte delas estão em italiano, francês ou alemão.
Tenta especializar-se no movimento libertário na Suíça e nas novas tendências do anarquismo, em particular o antimilitarismo e a autogestão, sem esquecer o feminismo ou o livre pensamento.
Anualmente promove uma dezena de iniciativas culturais, manifestações e eventos libertários, não só de tipo “anarquista tradicional”, com o fim de oferecer a um público mais amplo momentos de debate, diálogo, confrontação e convivência sobre o pensamento e a práxis anti-hierárquica.
O Círculo se financia unicamente com as cotas anuais ordinárias e extraordinárias de seus cinquenta sócios (aproximadamente). Publica anualmente o Bolletino del Circolo Carlo Vanza. Aparte, companheiros do Círculo publicam cada quatro meses a excelente revista Voce libertaria. A sede está aberta no sábado pela tarde, o que oferece a ocasião de desfrutar de momentos informais e de convivência, encontros e intercâmbios entre companheiros.
O Círculo faz parte de REBAL (Rete delle Biblioteche e archivi anarchici e libertari) e é membro da Federación Internacional de Centros de Estudio y Documentación Libertarios (FICEDL), ademais de colaborar com o Centro Internacional de Investigaciones sobre el Anarquismo (CIRA) de Lausana, no Cantiere Biografico degli Anarchici in Svizze ra, que recolhe mais de duas mil fichas de anarquistas que desenvolveram alguma atividade na Suíça.
Por quê Carlo Vanza?
Certamente, não se pode esquecer a Carlo Vanza, especialmente agora que completam quarenta anos de sua morte.
Carlo Vanza nasce em Biasca em 11 de maio de 1901. Ainda que obteve o título de professor do ensino elementar, jamais trabalhou na escola. De fato, filiado desde muito jovem ao Partido Socialista, em 1922 abraça o anarquismo, e nesse mesmo ano acompanha clandestinamente – junto a Giuseppe Peretti, Giuseppe Bonaria e outros – ao anarquista italiano Errico Malatesta desde Bellinzona até Saint-Imier por causa do cinquentenário da Internacional antiautoritária. “Em meu regresso me encontrei com a desagradável surpresa da vingança consumada contra mim pelos socialistas que governavam em meu povoado, que, não sabendo superar o ressentimento por eu ter abandonado seu partido, não encontraram nada melhor que negar-me a confirmação que devia dar-se nessas datas, impedindo-me desse modo e para sempre a possibilidade de exercer o magistério ao qual com toda confiança me havia dedicado”.
Desde 1923 colabora no Risveglio comunista anarchico (a partir de 1925, Risveglio anarchico) de Genebra. Nos anos vinte estará ativo no grupo de Bellinzona junto a Giuseppe Peretti, Antonio Gagliardi, Giuseppe Bonaria, Antonietta Griffith, Franz Moser, Rosalia Griffith, Cleia Dotta, etc., que ajuda a numerosos exilados antifascistas italianos a estabelecer-se na França ou na América, em colaboração com Luigi Bertoni e Carlo Frigerio de Ginebra, e de Ferdinando Balboni na Basileia.
É animador desde 1928 do grupo anarquista de Biasca, surgido com o objetivo de contrastar “a incessante penetração fascista na Suíça, e em particular modo em nosso Ticino (…) mediante uma ação enérgica e digna”. À petição de informação por parte da polícia cantonal, a gendarmeria local responde em 1930: “gestiona em Biasca a Hosteria do Norte, com uma loja de comestíveis anexa. Professor, ainda que não trabalhou na escola. Caráter áspero e violento, foi al gum tempo adjunto nos escritórios da Prefeitura de Biasca. Mediante instância do 20 de abril de 1929 solicitou autorização para publicar a revista Vogliamo“. Efetivamente, entre 1929 e 1931 será redator da revista anarquista do Ticino Vogliamo! (Queremos!), que se subtitula “Revista mensal de cultura social, histórica e literária”.
Precisamente nesta revista aparece em janeiro-fevereiro de 1931 o Manifesto da Federação Anarquista do Ticino (Federação fundada no Pleno de Bellinzona de 23 de novembro de 1930, primeiro com sede em Lugano e depois em Biasca). Em 1931 conhece o anarquista italiano Rodolfo Guscher (depois expulso com Pacciardi da Suíça a pedido de Mussolini) que residirá em Lugano. A tentativa de Gunscher e outros companheiros de organizar uma manifestação frente a delegação italiana em Lausana no verão de 1932 não se realiza por causa de alguns provocadores fascistas residentes no Ticino (expulsos mais tarde), e algumas cargas explosivas cairão em mãos de Vanza, das quais se desfazerá em seguida.
No verão de 1948, Vanza abre uma biblioteca com o grupo anarquista de Biasca. É membro da Federação Anarquista Italiana (FAI) e continua sua colaboração intermitente em diversas publicações anarquistas: Il Risveglio anarchico de Ginebra, Il Libertario de Milán, Umanità Nova, Bolletino interno della FAI, L’Internazionale, de Ancona, e outros periódicos do Ticino comoLibera Stampa, Il Pungolo, de Lug ano, Il Dovere, de Bellinzona. Para o primeiro de maio de 1950 é rechaçada pela Câmara de Trabalho uma intervenção pública sua.
Participa no VII Congresso Nacional da FAI em Rosignano, em 1961, como delegado dos anarquistas italianos na Suíça. Em setembro de 1972 está presente no Centenário da Internacional antiautoritária em Saint-Imier, acompanhado por Romano Broggini, onde se reencontra com outros companheiros de sua idade de Zurique.
Aqui toma contato com as novas gerações, tanto que, desde 1974, participa em ocasiões nas reuniões da recente Organização Anarquista do Ticino, fundada em dezembro de 1973. Morre em Biasca em 31 de agosto de 1976, pouco depois de voltar de uma viagem, procedente da Basileia para visitar o companheiro F. Balboni.
Alice Vanza, de solteira Rodoni (1905-1992) doou em finais dos anos oitenta uma parte da biblioteca de seu marido – cerca de trezentos e vinte títulos – ao recentemente criado Círculo.
Gianpiero Bottinelli
Fonte: http://www.nodo50.org/tierraylibertad/345articulo5.html
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Caneta gira
ao reflexo do sol
gira gira girassol
Lucas Eduardo
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!