Após a morte de Eduardo Galeano, nos vem muitas imagens dele, de suas palavras, de seus versos, a nossa mente. Hoje queremos recordá-lo com esta entrevista que ele realizou ao companheiro Alberto “Pocho” Mechoso, militante da Federação Anarquista Uruguaia e de seu braço armado “Organização Popular Revolucionária 33 Orientales”, que se encontrava preso nos anos 70 e conseguiu escapar do cárcere depois de várias torturas feitas pelos serviços de inteligência, o que demonstra uma vez mais que a pena de Galeano sempre esteve disposta como uma espada para as lutas dos povos, assim, a tarefa de entrevistar Pocho Mechoso, a assumiu Eduardo com a altura que se requer, com a dor de ver a repressão no Uruguai e com a convicção de que uma saída revolucionária e antiautoritária era necessária.
Tendo as precauções de segurança devidas à cruel repressão do governo, Galeano muda o nome e afirma realizar a entrevista na Espanha, ainda quando foi realizada no Uruguai, para que a polícia pensasse que Pocho Mechoso havia já saído do país e assim poder descansar um pouco frente a ele.
Devemos recordar também o companheiro Alberto Mechoso, que posteriormente fugiu à Argentina, cujo paradeiro seria descoberto pela ditadura do país gaúcho, em 26 de setembro de 1976, que o desapareceram. Seus restos foram encontrados em dezembro de 2012.
A reportagem depois da fuga
A reportagem de Eduardo Galeano a Pocho Mechoso começa dizendo: “O Pastor Georges Casalis, professor da Faculdade de Teologia Protestante de Paris, acaba de denunciar a evolução fascista dos países do Rio da Prata… Referindo-se ao Uruguai… é o horror austral. Parece que se alcançou o fundo do abismo”. Nos diz depois Galeano: “Entrevistamos a um homem que emergiu do fundo do abismo e relata o que sofreu e viu… Fugiu do quartel em 21 de novembro, em uma ação espetacular… Ainda urina sangue, não recuperou a sensibilidade da mão direita e duas de suas costelas ficaram afundadas pelos pontapés que lhe deram os oficiais. Tem pressa, no entanto, por retornar ao Uruguai. “Volto para incorporar-me à luta”, nos diz. “A luta se dá tanto dentro do quartel, na tortura, como fora, na rua…”.
Pergunta Galeano: Foste torturado desde o princípio?
Pocho: Sim… queriam que lhes dissesse onde estava a Bandeira dos 33 (uma bandeira insígnia no Uruguai, recuperada pela guerrilha anarquista), que a OPR levou do Museu Histórico Nacional. Também queriam que lhes falasse do sequestro de Molaguero…”.
Pergunta Galeano: “Mas se não havias falado, era preciso que fugisse?
Pocho: Não iriam me deixar sair em liberdade. Eu o sabia. Colocar-me em liberdade era como deixar clara sua impotência, o fracasso de seus métodos.
Galeano: Que viste?
Pocho: Bom, mais que ver escutei. Porque estive encapuzado todo o tempo. Mas não há pior tortura que sentir como torturam aos demais. No Quinto de Artilharia tinham a um menino de seis anos preso junto a seu pai e a sua mãe. O menino escutava os gritos da mãe quando a estavam torturando. A uma mulher grávida de sete meses, torturavam a seu marido diante dela no 2 e 3 da Infantaria… vários casos de violações…
Galeano: E agora?
Pocho: Quando alguém vê bem claro como são os inimigos, quê outra coisa pode fazer que voltar e ocupar seu posto? Se algo se sente bem dentro do submundo dos quarteis de meu país, em meio do aguilhão, do cavalete, do submarino, é de que lado da trincheira sempre há que estar. Eu vou estar de novo metido entre as pessoas. Uma referência de luta de minha classe. Lutando. Ali vou me reencontrar com meus filhos, junto com meu irmão. Agora perseguidos os dois.
Galeano: Mas depois da fuga, andarão te buscando por todos os lados, será muito difícil estar no Uruguai?
Pocho: Isso está claro. O momento é muito difícil para todos os que lutam. Sei que para mim é coisa de “Liberdade ou Morte” como diz a Bandeira dos 33”.
Fonte: https://noticiasyanarquia.blogspot.com.br/2015/04/cuando-eduardo-galeano-entrevisto-pocho.html
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Sopra o vento
Pássaros correndo
Atrás de sementes
Rodrigo de Almeida Siqueira
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!