Em 8 de fevereiro, o velho revolucionário, grande cientista e principal teórico do anarquismo, Piotr Kropotkin, morreu aos 78 anos de idade, em Dmitrov, perto de Moscou. Em 10 de fevereiro, o caixão foi transportado de trem para a capital, onde o corpo foi velado por dois dias na Casa dos Sindicatos. O enterro ocorreu em 13 de fevereiro, diante de 20 mil pessoas.
O Departamento Panrusso de Cinema e Fotografia (VFKO) realizou uma reportagem completa sobre esse evento.
Nenhuma tendência libertária podia se permitir estar politicamente ausente. Mas outras correntes se fizeram igualmente representar, quer se tratasse dos socialistas-revolucionários, dos mencheviques ou dos bolcheviques.
Sobre essas imagens excepcionais podemos claramente identificar algumas bandeiras. Percebe-se, então:
– as bandeiras de organizações libertárias controladas pelo regime, tais como a Federação Panrussa de anarquistas-comunistas e a Seção Panrussa dos anarquistas-universalistas;
– a de uma organização libertária oposicionista: a Confederação anarquista ucraniana Nabat (que, na verdade, à aquela altura já havia sido desmantelada);
– a União dos sindicalistas revolucionários maximalistas, grupo de extrema-esquerda pró-regime;
– um grupo de anarquistas repatriados dos Estados Unidos, que juntaram-se ao regime.
Encontra-se igual diversidade dentre os anarquistas identificados na tela, dos quais alguns foram próximos de Kropotkin. Estão lá:
– militantes que coperaram com o regime soviético: German Sandomirski, Alexandre Atabekian, German Askarov, Vladimir Barmach, Alexei Borovoi, Nikolai Lebedev, Alexandre Schapiro;
– outros que, àquela altura estavam em vias de romper com o regime: Alexander Berkman e Emma Goldman;
– opositores perseguidos pelo regime, como Efim Yartchouk, Grigori Maximov, Nikolai Pavlov e Markous (saídos da Confederação Panrussa dos Anarcossindicalistas), mas também Lev Tchernyi e Aaron Baron (do Nabat);
– personalidades independentes, como George Gogellia e Piro;
– outros, enfim, dos quais não temos informações: Anosov, Petrovsky, T. Schapiro;
Diante do túmulo, uma plêiade de oradores e uma oradora tomam a palavra: Emma Goldman; Isaac Steinberg (SR de esquerda); Alfred Rosmer, sindicalista revolucionário apoiador de Moscou; Sandomirski; Pavlov; Aaron Baron, que voltaria à prisão naquela noite mesmo…
Algumas semanas depois desse funeral, estouraram as greves de Petrogrado e a famosa revolta de Kronstadt. O governo comunista decidiu erradicar todo espaço de livre expressão. As organizações anarquistas pró-regime o farão frente, e serão desmanteladas antes do fim do ano. O funeral de Kroptkin foi, então, a última ocasião em que eles se manifestaram publicamente.
> Assista o vídeo aqui (10:58): https://vimeo.com/226210260
Fonte: http://www.alternativelibertaire.org/?Reportage-d-outre-tombe-Les-obseques-de-Kropotkine-1921
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Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!