A seguir, Emmanuel nos conta quem é seu amigo Santiago Maldonado.
Quando éramos garotos
“O conheci ainda menino, próximo de um quiosque do bairro. Era um garoto muito traquina, me atirava pedras; assim começou nossa amizade. Com Santi brincávamos, entrávamos na piscina, merendávamos, jogávamos futebol, era um perna de pau, mas brincava assim mesmo, eu o sacaneava. Batemos muita bola, em vários cantos, andávamos de bicicleta. Depois, fomos crescendo. Já maior, Santi me fez ver o mundo de uma forma diferente; me fez acreditar, deixar de acreditar em coisas. Cada vez estou mais convencido de que tem razão em tudo. Ele não acredita nos governos, na política, na igreja. Está contra o sistema. Sempre dizia que os meios de comunicação vendiam ‘merda’, hoje me dou conta de que é assim mesmo, porque escondem tudo, porque desviam a informação, segundo seus interesses. Estão fazendo isso com ele. Eu via televisão, e ele insistia, sempre, com muito respeito com um diálogo forjado desde sua alma: ‘não compres o que te vendem’. ‘Tens que ler, se aprofundar mais em cada coisa’, comentava, mas eu retrucava: ‘louco, te admiro pela vida que tens, pela vontade’. Ele agarrava a mochila e saía, comia do que a natureza lhe dava. É um aventureiro, um tipo muito humano, muito puro”.
A prática de ouvir, o humor e perguntar sobre tudo
“Ele respeita a crença do outro, ouve, depois fala. Hoje todos falam de sua barba, de seu cabelo, de como é, mas eu te asseguro que ele não via isso. Ele me escutava. Uma pessoa que me aconselhava, que aconselha, que sempre o faz com um sorriso. Utilizava o humor para convidar-me a refletir sobre a construção dos fatos. Inclusive, na escola, renegava com os professores, porque sempre lhe mostravam as coisas como eles queriam, como única verdade. Santi sabe que não há uma única verdade. Também, quando nos juntávamos de muito garotos a escutar música, ele me dizia: ‘olha o que diz, escuta a letra, escuta a letra’. É muito inteligente, como processa cada tema. Aprende de tudo, muito detalhista”.
Ante cada aventura
“Ele viaja muito porque explicava que aqui, em 25 [bairro], ‘se aborrecia’. Gostava de mover-se. Sempre dizia que o povo era ‘o retorno ao cachorro, a lagoa, não tinha mais nada’. É um aventureiro em pleno movimento. Ele gosta de viajar, se atira de cheio em cada lugar, em cada cultura, para explorá-la, estudá-la. De tudo aprende”.
Como parte do universo
“Santi dizia que estávamos de passagem, que havia que ter admiração, amor com a natureza. ‘Somos insignificantes, pequenos para este mundo’, seu lema, sempre”.
Encontrar o lugar em diferentes lugares
“Santi caminha, percorre tudo. Para sustentar-se economicamente, faz tatuagens, artesanatos. Uma vez estava no Uruguai, conheceu uns velhos que faziam licores; notou que só a tatuagem não dava, começou a fabricar licores com estas pessoas. Aprendeu algo que jamais havia planejado aprender. Vendia os licores ou trocava uma garrafa por um pacote de arroz. Uma vez uma menina do Bolsón me contava que Santi recolhia maçãs que as levava. Ela sempre disse que se sentia ‘protegida por ele’”.
Meu amigo
“Ele sempre estava aí para dar uma mão, repito, para escutar-te. Quando faleceu meu avô, me levou a sua casa, me fez uma tatuagem nas costas, como forma para recordá-lo. Quando nasceu minha filha, me tatuou o nome dela. Santi usa a arte para expressar-se. Em cada mural que ele fez, aqui, em 25 de Mayo, Santi nos disse algo. Com a música, também, disse algo. Santi escreve, reflete, estuda muito. Sonha com um mundo em plena igualdade, diariamente. Oxalá fossemos todos como ele, que se animou a trocar sua vida ante tanto autoritarismo. Por exemplo, quando éramos meninos íamos à praça, e se punha a ler poemas e repetia: ‘nunca tens que deixar de sonhar, de perseguir o que queres, o que te faz feliz’. Para alguns é ‘o Bruxo’, para outros, ‘Lechuga’, para mim: Santi, MEU AMIGO. O que me abraçou quando estive mal, o que ria comigo quando estava alegre, ao qual não lhe importava as decisões que eu tomava, ainda que as vezes me desafiava. Mas sempre estava aí. Quero que Santi, meu amigo, APAREÇA COM VIDA”.
Tradução > Sol de Abril
Conteúdos relacionados:
agência de notícias anarquistas-ana
Árvore amiga
enfeita meus cabelos
com flores amarelas
Rosalva
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!