Na esteira dos recentes confrontos em Charllotesville, na Virgínia, envolvendo manifestantes de extrema-direta, neonazistas, supremacistas brancos e contramanifestantes, o ativista negro e filósofo Cornel West concedeu uma entrevista ao programa “Democracy Now!”, conduzido pela jornalista Amy Goodman. A seguir, reproduzimos um trecho da entrevista.
Havia um grupo de valentes estudantes, de todas as cores, que estavam na Universidade de Virgínia protestando contra os neofascistas. Os neofascistas tinham suas próprias armas. E isto é algo muito importante a ter em conta, porque a polícia, em sua maior parte, retrocedeu. No dia seguinte, por exemplo, os 20 dos nossos que estávamos ali parados, muitos deles parte do clero, teríamos sido esmagados como baratas se não tivesse sido pelos anarquistas e os antifascistas que se aproximaram, uns 300 ou 350 antifascistas. Nós éramos 20. E estávamos cantando “This Little light of Mine“. Sabe a que me refiro? De maneira que…
Os antifascistas, e logo, algo crucial, os anarquistas, porque na realidade nos salvaram a vida. Teríamos sido esmagados completamente, e nunca o esquecerei. Quê significa isto? O que significa é que a polícia estava retrocedendo, isso por um lado, assim que nem sequer teríamos sido presos. Estávamos ali para sermos presos. Não teríamos sido presos, porque a polícia havia se retirado, deixando aos concidadãos atacarem-se uns aos outros, com todas as consequências que se poderiam derivar disso.
Assim que, nesse sentido, creio que o que realmente estamos vendo, irmã Amy, é o declive do império estadunidense, com o reinado das grandes fortunas, com o militarismo massivo, facilitado pela utilização dos mais vulneráveis como bodes expiatórios: imigrantes, muçulmanos, judeus, árabes, gays, lésbicas, trans e bissexuais, e da gente negra. A supremacia branca era tão intensa. Nunca vi esse tipo de ódio em minha vida. Ficamos ali parados, e passaram nove unidades, olhando-nos diretamente nos olhos. Insultando-nos também. Tiveram sorte de que o Espírito Santo não me abandonou, para ser sincero, porque queria deixar-me levar. Sou cristão, mas não pacifista, já sabe? Mas me contive. No entanto, essa classe de ódio… mas isso é só o lugar do conflito. Isto se trata das grandes fortunas, da indústria armamentística, e do modo em que esta civilização capitalista nos está conduzindo para uma obscuridade e desolação incrível. E o mais belo é ver as pessoas lutarem contra. Foi algo bonito ver a toda essa gente respondendo. Mas havia mais fascistas que anarquistas, mais fascistas que gente respondendo.
> Entrevista na íntegra:
https://www.democracynow.org/2017/8/14/cornel_west_rev_toni_blackmon_clergy
Tradução > Sol de Abril
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!