Por José Luis Gutiérrez Molina
De novo, a iniciativa de um grupo de moradores de Casas Viejas, aos quais este ano se somou a colaboração da Prefeitura, vão recordar na próxima quinta-feira 24 o aniversário do assassinato de María Silva Cruz, “La Libertaria”. A jovem que sobreviveu ao incêndio da choça de seu avô em janeiro de 1933, se converteu em símbolo da crueldade estatal e das esperanças transformadoras de uma parte do povo espanhol e, em agosto de 1936 acabou sendo assassinada pelos golpistas do 18 de julho.
Este ano, também, se quer recordar a sua irmã Catalina, falecida há poucos dias em seu exílio em Montauban, França. Desta forma voltam a se unir as duas irmãs que estiveram em um grupo anarquista feminino, “Amor y Armonía”. Viveram os terríveis acontecimentos de forma direta e, em 1936, Catalina se separou definitivamente antes de que os assassinos de sua irmã a encontrassem. Ao menos, na memória de sua gente permanecerão juntas já que Catalina se foi sem conhecer o lugar onde podem estar os restos de sua irmã; como outras tantas milhares de famílias.
De novo se celebrará na “plaza de los Jornaleros”. No lugar em que estava a escultura que a CGT colocou em 1983, e que foi banida, na Alameda e que parece ser que incomodava tanto que não só se tirou com pretexto de umas obras senão que “desapareceu”, com intenção de que se fosse para sempre, até que foi resgatada. Sempre pensei que a obra de Carlos Fraga deveria estar no lugar onde primeiro se colocou. Bem é sabido que os espaços públicos são lugares de memória e os diferentes grupos sociais lutam para que reflitam a sua. Não é casual que na Alameda esteja a igreja, que estivera o quartel e que seja um dos principais lugares de relação social de Casas Viejas.
Normalmente, são os que “mandam”, à luz pública ou na sombra, os que decidem sua ocupação e denominação. Daí que incomode tanto que a memória dos que devem obedecer ocupe um espacio ali. Muito menos, ademais, se se mostraram desobedientes e se saíram das normas bem pensantes. Ademais, neste caso, é recordatório de uns crimes cometidos em nome do Estado. Demasiadas coisas para que estejam na Alameda. E todavia falta alguma.
Se, os que colocaram a escultura foram os anarquistas, já se sabe que, normalmente, são uns descontrolados, não sabem o que fazem e não sei quantas coisas mais. Mas foram eles que, em 1983, vieram, colocaram a escultura em homenagem às vítimas e suas ânsias de liberdade e de viver em um mundo mais justo. Assim que, quando saiu do armazém e se colocou na “plaza de los Jornaleros”, desapareceu qualquer referência a quem o havia feito. Uma moderna aplicação da “damnatio memoriae romana”. Todo um paradoxo nestes tempos de elogio da memória! Ainda que muito receio que se tende a uma memória seletiva. E mais quando se trata dos anarquistas. Esses que são uns terríveis come-curas quando se trata de explicar os abusos e assassinatos na zona governamental entre 1936-1939 e se convertem em mártires da democracia quando se somam as cifras da repressão franquista. Então, os anjos caídos alçam seu vôo ao céu republicano.
No dia 24 as memórias de María e Catalina Silva estarão presentes de novo em Casas Viejas. Ocuparão os espaços simbólicos da população. E com elas as memórias de todas aquelas vítimas de uma determinada concepção de como fazer frente às desigualdades sociais e da razão de Estado; das de todos os que foram assassinados e reprimidos pelos golpistas e o franquismo e as de todos que só tiveram no exílio e a emigração a forma de escapar a tanta sem razão. Melhor seria que a escultura estivesse na Alameda, com sua autoria assinalada e que, seja dito de passagem, os gabinetes da administração se abriram para aprovar a declaração de BIC que aguarda já demasiados anos.
Tradução > Sol de Abril
Fonte: https://www.lavozdelsur.es/maria-y-catalina-silva-de-nuevo-juntas-en-casas-viejas
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