Por C. Shardae Jobson
Tentei vistar o Centro Lucy Parsons pela primeira vez em uma tranquila tarde de Sábado. Depois de perceber que a livraria estava fechada, espiei pela porta da frente e tudo o que pude ver foram duas estantes de livros e uma série de degraus para um segundo andar pequeno como uma sala de café de um escritório.
Este encontro perdido exemplifica a presença enigmática da livraria independente, sem fins lucrativos e radical. Quando aberta, uma placa de madeira retalhada discretamente aparece nesta parte de Jamaica Plan, caracterizada por bodegas de língua hispânica, lojas de produtos de beleza e locais de comida caseira.
Minhas visitas seguintes a 358A Centre St. tiveram mais êxito. O centro está aberto de Segunda a Quarta. Os horários da loja no resto da semana são atualmente incertos, devido à falta de voluntárixs. (Visitantes são encorajadxs a checar a página do Facebook da loja onde os horários são postados, embora de forma intermitente.)
Do lado de dentro, prevalece uma atmosfera de “casa da avó”, da cafeteira Black & Decker no parapeito da janela, às estantes de madeira de diferentes alturas e o sofá de camurça verde musgo. Sou recebido por um caloroso olá que parte dx voluntárix por detrás de um computador não tão na moda, e então deixado para que pesquisasse; funcionárixs de livrarias preferem que os livros, revistas e zines falem por si mesmos.
E falam, já que as publicações do centro defendem a luta contra a discriminação e a injustiça, assim como pontos de vista radicais e contraculturais. Trabalhos artísticos incluem o poster “Refugiadxs são bem vindxs aqui” na entrada e, na parede, acima de uma ilustração amigável a pessoas trans, uma coluna de posters revolucionários vintage, incluindo um que declara “Assata Shakur está Livre”.
A vida de Shakur – uma ativista política e formadora do Black Liberation Army, que escapou da prisão depois de ser condenada por assassinato em um tiroteio policial – tem alguns paralelos com a homônima da loja, Lucy Parsons.
“[Parsons] foi uma organizadora radical. Ela foi vista como mais perigosa do que mil manifestantes por sua habilidade de oratória”, explica Jay Scheide, voluntário da loja nos últimos 21 anos, compartilhando uma descrição comum de Parsons. “A história não conhece muito sobre ela – a história que incorpora. Queríamos publicizar ela e suas contribuições.”
No início deste verão, três jovens mulheres viajando pela estrada encontraram a livraria do Centro Lucy Parsons quando uma delas pesquisou na internet sobre “livrarias excêntricas”.
“Peguei muitos livros usados, e estava pegando muitos com os mesmos tipos de perspectiva”, disse uma delas, que nos deu seu nome apenas como Kyle. Nativa de New York, usava um vestido vermelho e uma bolsa cruzada ilustrada com uma caveira. Seu longo cabelo preto tinha restos de turquesa no topo. “Então estou tentando completar minha coleção. Estou particularmente interessada em materiais queer, lésbicos, trans, e perspectivas diferentes das minhas… Então afro-americanas, latinas… especialmente coisas que não sei muito como economia e política”.
Kyle esteve viajando com sua irmã e uma amiga. Na Lucy Parsons, disse ela, se deparou com muitos livros sobre violência, especialmente em países da América Latina, e como “a violência pode ser uma forma de reclamar identidades”.
“Isso é algo que não se vê em muitas livrarias”, complementa com o punho cerrado. “Você precisa saber o que está procurando [em livrarias grandes] e o que gosto aqui é, eu apenas venho e encontro estes assuntos”.
Nascida no Texas em 1853, Lucy era seu nome real. Mas ela usou vários sobrenomes na tentativa de barrar o preconceito contra sua origem “afro-mestiça”. Sua família era mexicana, afro-americana e nativa americana. Supostamente, seu sobrenome era Gonzalez.
Em 1871, violando leis de miscigenação, ela casa com Albert Parsons, socialista, anarquista, repórter e ex-soldado confederado. Juntos, foram punidos pela polícia e políticos por seus incansáveis esforços em elevar os direitos dos trabalhadores e lutar contra todas as formas de repressão.
No início de Maio de 1886, o casal esteve envolvido em dois acontecimentos históricos. Em 1ºde Maio, se uniram a primeira manifestação de 1º de Maio em Chicago, reivindicando as 8 horas de trabalho. Três dias depois, Albert e outras lideranças falaram em apoio aos 2 mil trabalhadores de colarinho azul de Chicago, protestando contra a brutalidade policial. Naquela noite, enquanto 500 civis permaneciam ali, uma bomba foi jogada e explodiu em meio a multidão. Albert e sete líderes sindicais foram injustamente acusados por conspiração. Em 11 de novembro de 1887, foi executado – e 130 anos depois, a identidade de quem lançou a bomba permanece desconhecida.
Lucy Parsons continuou sua ocupação como oradora rebelde, socialista, escritora e ativista, e em 1905, ajudou a estabelecer o sindicato Industrial Workers of the World. Em 1942, morreu em um incêndio aos 89 anos. (Então, não possuía nenhum parente imediato na família. Sua filha Lulu e seu filho Albert Jr. morreram ambxs em 1919). Após sua morte, a polícia de Chicago confiscou a maioria de seus pertences e cartas, tornando difícil para historiadorxs futuros encontrarem informações sobre ela.
O reconhecimento de seu legado não se manifestaria na região de Boston até que a Red Book Store, que abriu na Central Square de Cambridge no início dos anos 70, se renovasse à semelhança de Parsons em 1992. Em 2011, a loja volta a se mudar para Jamaica Plain, onde já havia se situado brevemente, continuando como Centro Lucy Parsons.
A equipe está constantemente reorganizando “A People’s History of the United States” de Howard Zinn e novos livros de autorxs renomadxs como Junot Diaz e Chimamanda Ngozi Adichie podem ser facilmente encontrados nas estantes. Há uma livraria de empréstimos que surge a partir do Occupy Boston e livros em espanhol. “Gostaríamos de ter mais pessoas que falem espanhol como voluntárias”, disse Scheide. “Mas temos algumas”.
Os infoshops de Boston – vitrines onde literatura política ou alternativa é distribuída para ativistas – diminuíram e, em 2002, o feminista New Words em Cambridge fechou. Mas livrarias independentes parceiras como Brattle Book Shop, More Than Words e Porter Square Books permanecem. Por todo o país, seu número tem crescido significativamente.
Os negócios do Centro Lucy Parsons tem sido estáveis. Disse Scheide, com uma mescla de frequentadorxs regulares e curiosxs.
“As pessoas lêem menos”, concluiu Scheide uma vez, enquanto ajustava a trilha sonora que ia de “Fight the Power” a Bessie Smith em volume baixo. “Devido a todas as outras mídias, pegar livros em Kindles e coisas assim… Mesmo as maiores livrarias estão sentindo. Mas as pessoas que sabem quem somos frequentemente tem um projeto do tipo de livros que querem”.
The Lucy Parsons Center
358A Centre Street
Jamaica Plain, MA
02130
Fonte: http://www.wbur.org/artery/2017/08/07/lucy-parson-center-shardae-jobson
Tradução > Imprensa Marginal
Conteúdos relacionados:
Mais fotos:
agência de notícias anarquistas-ana
Joaninha caminha
no braço da menina.
Olhar encantado.
Renata Paccola
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!