Esta manhã (13/09) recebi a triste notícia do falecimento de Rai Ferrer. E quem era Rai Ferrer? Como profissional: um magnífico escritor, jornalista, ilustrador, desenhista de HQ, diretor artístico, crítico literário… Ideologicamente: um libertário de pura estirpe. E pessoalmente: um homem simples, bom e solidário, entre outras grandes virtudes.
Conheci Rai por causa dos preparativos do centenário da CNT, quando um belo dia me ocorreu que talvez pudesse fazer para o sindicato um livro em formato de HQ sobre a centenária história do sindicato. A ideia veio através de sua obra mais conhecida; “Durruti”, a biografia do bem conhecido anarquista que lhe marcou a vida e que possivelmente provocou sua inclinação para o mundo ácrata quando sua mãe lhe contava ainda pequeno que presenciou o multitudinário enterro do líder cenetista.
Apesar de não nos conhecermos, lhe fiz chegar a ideia que me rondava a cabeça e apesar de que se havia proposto fazer uma pausa após cinco livros publicados, em seguida mergulhou de cabeça para que o projeto chegasse a bom termo. À comissão organizadora do centenário também pareceu uma boa ideia publicar um livro com um formato mais ameno e próximo do público juvenil. E foi assim que a Fundação de Estudos Libertários Anselmo Lorenzo (FAL) publicou em 2010 a obra “Viento del Pueblo”, escrito e desenhado por Rai com as colaborações de vários colegas (também de profissão) como o desenhista Carlos Azagra e o rotulista Josep Solá, companheiro de mil batalhas em seu grande projeto vital: o coletivo Onomatopeya que tão bons resultados deixou e algum outro susto como quando estiveram a ponto de acabar presos em La Modelo por umas ilustrações satíricas sobre Millán-Astray. Mas isso eram outros tempos… Ou talvez não? Em dita aposta saímos ganhando todos: o sindicato por conseguir um interessante e didático livro, Rai por aproximar-se das novas gerações de libertários através de apresentações do livro, conferências sobre o anarquismo através da HQ ou artistas do anarquismo e colaborações como a realizada em 2015, também editada pela FAL do livro “El anarquismo en Burgos”, e quem escreve este obituário por conseguir uma grande amizade.
Desde então sempre nos escrevemos com maior ou menor assiduidade, ele tinha minha casa para o que necessitasse e eu a sua, e assim fizemos em um par de ocasiões enquanto trocávamos pareceres sobre o que acontecia ao nosso redor. De frágil aparência física, certamente marcada por uma parte de sua infância lutando contra a tuberculose, em seu interior aninhava uma enorme vitalidade, pois em seus 75 anos estava envolvido em vários projetos, entre eles um livro com uma centena de biografias ilustradas do anarquismo espanhol e internacional, e outros recém finalizados, como a publicação do livro “La aventura de Strong”, a revista juvenil que formou seu outro grande projeto profissional ou a exposição “40 efemérides”, com uma recompilação das efemérides revolucionárias que realizou para o Diário 16 de Madrid e o Diário de Barcelona. Memoráveis eram suas felicitações natalinas a maneira de periódico satírico no qual ele mesmo figurava como estagiário da diretora Marie-Claire Uberquoi, sua companheira sentimental. O que mais recordo de seus últimos envios foi seu sentimento de repúdio ante a deriva nacionalista da sociedade catalã que convertia sua querida Barcelona, cidade à qual se transladou com a idade de 7 anos desde a localidade natal de Manciles, Burgos, em particular, e Catalunha no geral, em um ambiente irrespirável. É que ele sempre teve claro que “o movimento obreiro é o único respeitável que ocorreu neste país”.
Definitivamente, nos deixa uma pessoa única, trabalhador incansável em várias mídias e empresas (Bruguera, Argos, Por Favor, Diário 16, El Viejo Topo…), grande amante da cultura e da novela popular, possuidor de uma ampla biblioteca sobre o tema, e sobretudo um bom homem, no melhor sentido da palavra.
Que a terra te seja leve Rai, sempre estarás em minhas recordações.
I.N.C.
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Escondidinha
na copa da árvore.
Cigarra canta!
Juliana Valéria dos Santos Pinto – 9 anos
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!