Quiçá para alguns soe pretensioso iniciar um projeto editorial agora que os ecrãs mediam todas as formas de comunicação. Para outros, porém, pode ser básico. Para nós, é imprescindível articular um espaço de comunicação, ver os resultados e os esforços de uma publicação em papel, dar importância aos livros e sua potencialidade subversiva.
Sentimo-nos motivados por esse espírito de luta que outrora abundava e em que a produção editorial tinha um papel fundamental.
Quando pensamos em livros subversivos nos inspiram exemplos como o de Severino Di Giovanni, capturado em 29 de janeiro de 1931, na saída de uma oficina de linotipia, onde fora em relação com as matrizes de um livro de Reclus. Arriscando sua liberdade e sua vida para obter as matrizes de que necessitava. Sabendo que as gráficas estavam no ponto de mira e que permaneciam vigiadas, mas valia a pena se arriscar mais uma vez para um novo livro.
Também pensamos em Jean-Marc Rouillan, Oriol Solé e outros companheiros que, no início dos anos 70, assaltavam bancos e expropriavam máquinas de impressão para fazer tudo o que precisava para imprimir livros em Toulouse e passá-los clandestinamente à Barcelona e outras regiões do Estado espanhol.
Ou quiçá num exemplo em grau mais inspirador, a dos jovens anarquistas da cidade de Bialystok, que dedicavam grande parte de sua energia e seus meios para traduzir, imprimir e transportar material escrito. Em 1905 expropriaram 330 quilos de tipografias para montar Anarjiya, a primeira gráfica anarquista na Rússia. Com o tempo, muitos anarquistas russos imitariam o gesto, vários deles se arriscando a ir para a prisão, de serem banidos, condenados ao trabalho forçado ou a morrer.
São apenas alguns exemplos inspiradores não só porque os livros – muitos dos quais eram considerados perigosos ou simplesmente estavam proibidos – imprimiam-se e difundiam de maneira clandestina, ignorando todas as proibições e afastando-se de qualquer relação com a lógica do consumo da que hoje parece não ter escapatória. Senão por tudo relacionado ao desenvolvimento desses projetos editoriais, a maneira como eles colocaram em marcha, assim como a ilusão e o espírito de luta. Tentando não entrar em – mas também tentando dinamitar – todo processo de produção/consumo, a lógica do lucro, as relações comerciais e trabalhistas, buscamos retomar esse espírito subversivo, já que uma mensagem radical deve estar contida em uma forma de difusão à sua altura.
As condições em que imaginar, pensar e praticar a confrontação revolucionária, estão hoje longe de serem favoráveis. Mas pensamos que “Ardora”, como projeto de comunicação, pode ajudar a vincular e confrontar diferentes ideias, debates, perspectivas e propostas.
Animamos você a colaborar seja como distribuidor ou enviando artigos e propostas. Para tudo isso, contate: ardora@riseup.net.
Através do nosso site, ardoraeditora.info, você pode encontrar informações sobre as nossas edições e pontos de distribuição.
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!