O seguinte texto foi publicado faz uns dias no Atenas Indymedia, por causa da chegada dos esbirros da empresa mineradora Eldorado Gold a Atenas com a finalidade de “protestar” pelo atraso nas obras de extração de ouro no noroeste de Calcídica. Não é a primeira vez que a empresa usa estes “mineiros” como trabalhadores desesperados em suas negociações com o governo. Além das questões abordadas no texto, para nós surgem outros dois temas: A falta (esta vez) de uma resposta adequada aos lacaios do Capital, a nível teórico e sobretudo na rua, e o estudo do fenômeno dos antropoides lobotomizados, dispostos a serem manipulados pelo Capital, e a destruir totalmente o meio ambiente em que vivem pelo lucro de seus amos e pelas migalhas que estes lhes vão jogar.
Hoje a empresa fecha sua fábrica em Skuriés. O exército da empresa desce a Atenas. Pedem que lhes concedam de imediato uma licença pela quarta vez. A discrepância principal entre os dois partidos e Eldorado Gold é a concessão ou não de uma licença de funcionamento de uma fábrica à empresa mineradora.
Mas recorremos à lógica. Imagino que (o canal televisivo) Sky não mostra as árvores cortadas. Em vez disso mostra imagens de seu arquivo de um ou dois anos. Um exemplo é esta turbina vermelha da fossa de resíduos que nos mostram até hoje em todas as fotos. Faz tempo que as fossas são duas. Também, ninguém diz que durante todo o verão a empresa esteve fazendo perfurações em Tsikara e em outros lugares. Temporariamente estas obras foram impedidas pelos poucos que seguem lutando até hoje, seja com concentrações de protesto nos locais em que se realizam estas perfurações, ou com a celebração durante dez dias de eventos antimineração na montanha, durante os quais algumas obras se suspenderam só por celebrar-se perto delas estes eventos. A empresa se viu forçada a limitar as obras no terreno que lhe concederam, mudando, claro, sua política com respeito à atitude dos mineiros para com os habitantes permanentes da província que reagem à extração de ouro. Também, mudou a política das forças de repressão. Se fez mais suave, com o fim de apaziguar as tensões, que o contrário não contribuiria com a realização dos planos da empresa mineradora.
Para restabelecer a verdade queremos dizer que a empresa nunca parou suas obras ou despediu pessoas. Não poderia tê-lo feito, já que necessita de todos os mineiros e a suas famílias, como podeis entender vendo na televisão cenas do protesto dos mineiros e dos membros de suas famílias. Visito a província a miúdo e me fixo em como a empresa mineradora transformou a estes 1.200 “trabalhadores da morte”, de agricultores e proletários a soldados de seu exército. Desde logo, este tema tem um certo passado. Alguns deles são filhos de mineiros que vieram de outros lugares à província e se alojaram nas vivendas obreiras de Bodosakis. Stratoni é um povoado deste tipo. Vivendas deste tipo há no povoado de Megali Panaguiá e em outros povoados mineiros montanhosos.
Uma verdade mais é que estas pessoas são manipuladas e usadas por todos da pior maneira: Primeiro pela empresa, a qual lhes dá uma primeira tarefa (missão) antes de contratá-los, para escolher aos menos inteligentes e mais manipuláveis de cada família. Em 2012 lhes disseram por telefone em Stratoni: “Se queres trabalho, todos à fábrica já”. Até as sirenes soaram na fábrica. Em seguida os carregaram em caminhonetes da empresa e os levaram a destruir o posto de guarda que estava montado na montanha para a proteção da zona montanhosa. Este posto havia sido construído por um grupo de moradores, que por muitos anos haviam posto em relevo o caráter problemático dos modos de extração velho e moderno, através da criação de uma iniciativa contra as nocividades. Desde logo, tudo isto não está escrito no contrato de trabalho dos mineiros, nem se diz nas noticias da televisão.
Também, algo que ninguém disse ou criticou, é quem são na realidade estes notórios trabalhadores que saem nos canais de televisão e nos bombardeiam com declarações de tipo “se somos despedidos, não poderemos dar de comer a nossos filhos”. Por exemplo, vimos (na televisão) a um “mineiro” fazendo tais declarações. Contra esta pessoa se apresentou uma denúncia, acusando-a de haver apoiado junto com outros “mineiros” uma surra a um habitante de seu povoado que está contra a extração. Esta mesma pessoa que “vai passar fome” se fecha a fábrica, é o presidente da equipe de futebol do povoado Megali Panaguiá. As pessoas que protestam fora do ministério, disfarçadas de obreiros pedindo que não feche a empresa, levam o uniforme e o capacete de segurança que lhes facilitou a empresa, comem grátis a comida que lhes oferece uma companhia de serviço de catering [serviço de gastronomia] contratada pela empresa, e protestam em jornadas de oito horas. Claro, nenhum deles dorme em barracas de campanha, mas estão alojados em um hotel pago pela empresa durante os dias de sua estadia em Atenas.
Se isto se chama sindicalismo e estas pessoas se chamam obreiros, como se chamam os dirigidos e espoliados pelo Capital?
Isto com respeito ao espetáculo que nos oferecem os canais televisivos. A aproximação dos partidos ao tema está fora de lugar. O líder do partido da oposição defende as assinaturas coletadas por seu partido (a favor da extração), como alguém que está disposto a vender tudo. Para ele as únicas árvores que tem algum problema são as queimadas, porque se puderam cortar, a única catástrofe ocorrida no mar é a de Ática, porque o povo não terá praias para banhar-se e porque se perdeu muito petróleo que usaríamos para cortar mais árvores com serras mecânicas. E à mãe que leva o seu filho à praia de Stratoni para banhar-se, e lhe dirá que todos os dejetos produzidos nas minas chegam a um aquífero que está no universo. A família de Mitsotakis nos tem acostumado a estas coisas, simplesmente este último saiu muito bonachão.
Nas antípodas deste ponto de vista (opinião) estava o Syriza, não obstante, este partido se transformou (alterado), como se transformarão (se alterarão) os habitantes de Calcídica dentro de pouco. Recordo aos deputados do Syriza Karanikas e Igglezi insultando aos policiais das chamadas forças antidistúrbios, acompanhando os ônibus com os manifestantes antiautoritários, e dizendo “No dia 25 tomamos o Poder, no 26 se vão (as minas)”. Os habitantes de Calcídica no entanto estão esperando. A alteração, no entanto, não tem que ver com isto. A alteração das ideias se vê no tema da extração: Agora (os do governo) dizem “A onde se levará o ouro? Quem o processará? Nós!”, e põem condições para a realização da extração. Eu digo que eles entraram no jogo e se distribuem os cargos e o dinheiro. Isto não tem nada que ver com a possibilidade de fechamento das minas. O fechamento é ficção científica para os que conhecem a situação. A mudança da posição do Syriza neste tema não é uma surpresa depois da alteração e a traição da maioria dos gregos depois de sua decisão de sair da União Europeia. É simplesmente uma traição da sociedade que o elegeu acreditando que iria fechar as minas.
Depois de tudo isto, hoje depois da publicidade que lhe deu o tema propositalmente tanto Eldorado Gold como Sky, o canal televisivo de Alafuzos, de repente os membros do Syriza puseram em funcionamento os comitês, seguindo a linha política do partido, a qual é a suposta resistência. Atenção companheiros. Por algo regressaram (os do Syriza). Certamente que não o fizeram para fechar as minas.
E com respeito aos “gálatas”, cujo caldo mágico se acabou: Tem cuidado, está cheio de fascistas do Aurora Dourada. Eu esperava que os acusados estivessem na primeira fila e não escondidos em seus buracos. O temor ganhou e os gálatas estão divididos, assim como antes da luta. Neste caso o erro não é político e não foi cometido só por eles, mas também pelas várias organizações políticas que foram chamadas à luta. O erro foi um, mas é muito grande: A luta se deslocou da montanha ao povoado de Ierissós, 40km longe da montanha. Alguns lemas de tipo “Beyond Europe” e “No Border” não ajudaram ao regresso das pessoas à montanha. O primeiro conduziu as pessoas a uma praia, ao mesmo tempo que havia gente na montanha. O segundo transladou à montanha as reflexões de Tessalônica. Reforçaram instantaneamente ao movimento, mas logo este se desinflou notavelmente, ao não haver a presença constante das pessoas e a propaganda igualmente constante do tema de Calcídica.
Portanto, hoje há que saber que a luta se ampliará, não porque os moradores vão mudar e vão sair às ruas, mas porque quando se acabe o tema de Skuriés lhes tocará a outras zonas de Macedônia. Se alguns não podem ver o quadro, digo que a empresa tem planificação e estratégia. Se abrirão fossos [escavações] em todas as partes, e o fim e o anseio da empresa é a destruição ambiental da região da Macedônia. De toda a região!
Novas zonas se incorporarão à luta, a qual poderia ser vitoriosa, se houvesse interconexão, se os partidos e os políticos fossem sinceros, se o dinheiro não fosse muito, e claro, não se cometesse este grave erro. Sempre a luta se dava na montanha. Na montanha teria que seguir dando-se.
Hoje, nós em Atenas somos chamados a mover estas fichas no tabuleiro de xadrez da empresa e dos governos que não são bem-vindas. Não os queremos aqui. Os exércitos empresariais e as pessoas que sacrificam a prosperidade, a saúde e o futuro de uma sociedade em aras de seu interesse pessoal, são as escórias da sociedade. A ignorância e a manipulação não lhes permitem ter outros critérios que o lucro (interesse econômico). Lamentavelmente para eles, este interesse é a curto prazo.
Companheiros e companheiras, teremos que reagir de imediato. A partir de amanhã temos que estar aí para expulsá-los uma vez mais, como ocorreu aquela vez que se foram quanto antes. Estamos a favor dos trabalhadores que com suas lutas reivindicam uma vida melhor, e que saem às ruas contra o Capital e não manipulados por ele, servindo a seus interesses.
A mensagem da luta em Skuriés chega a todos. Não concerne só aos habitantes da província, é uma luta que se se perde, com sua massividade a nível local e a solidariedade que como movimento buscamos e temos conseguido, não parará, limitando-se a anular algum dos fins secundários da empresa. Os habitantes de Nigrita, Serres, assim como de outras zonas da Macedônia estarão ante fatos consumados. Não poderão reagir contra a extração, qualquer que seja a forma que tenha esta em sua província.
Que os mandemos, pois, a casa. “Mineiros” de Eldorado Gold saiam. Não sois bem vindos.
Contra o saque da natureza, luta pela terra e a liberdade.
O texto em grego:
https://athens.indymedia.org/post/1577995/
O texto em castelhano:
http://verba-volant.info/es/los-mineros-de-el-dorado-gold-no-son-bienvenidos-en-atenas/
Tradução > Sol de Abril
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!