Estamos de volta, depois da excelente recepção do primeiro número. Rebeldias volta com uma nova edição, carregada de reflexões coletivas, entrevistas, memórias, informações e, sobretudo, pelo desejo de contribuir às resistências e REBELDIAS em cada canto do planeta.
O novo número de nossa revista aparece em setembro, um mês emblemático para a história desse povo. Além de lembrar que há 44 anos se produziu o golpe de Estado fratricida e começou a perseguição a todas as formas de resistências ao regime tirânico de Pinochet, esse dia, terça-feira 11 pela manhã, também tentou-se destruir toda a construção política que o povo havia gerado, em uma longa trajetória de décadas e décadas de um lento acumular de conhecimentos. A ditadura, não se contentando em tentar destruir as resistências e organizações populares, tentou instalar um sistema político, econômico e cultural profundamente violento, condenando a uma maioria à exploração e à subordinação frente ao capital, instalando a ditadura de mercado: o neoliberalismo.
Definitivamente, depois de arrasar com toda a construção e organização popular, ficou apenas estéril, sobre o qual os donos do poder celebraram sua vitória durante anos, aumentando grosseiramente suas riquezas e subjugando de maneira cada vez mais brutal às e aos oprimidos. E o problema, é que além de se manter essa memória e o dever de se enfrentar à história oficial (resistir), cada setembro, a pequena inalação de memória, se perde rapidamente frente ao patriotismo barato de 18 de setembro. E se pensarmos bem, entre ambas datas há muito em comum. Se em 1973 os ricos e poderosos, receosos por manter seus privilégios, se uniram para derramar o sangue do povo que os havia desafiado, em 1810 foram os mesmos que se rebelaram contra a coroa espanhola, mas não para “liberar” ao povo, senão que para permitir o livre desenvolvimento de suas empresas e continuar com a exploração dos setores populares, usando aos mesmos – está claro-, como a carne de canhão para brigar em suas batalhas. Neste sentido, apenas seriam dois momentos de adaptação do capitalismo, em diferentes escalas e com matizes, mas se derramando o sangue dos mesmos de sempre, para o benefício dos mesmos privilegiados de sempre.
Este patriotismo – familiar direto do fascismo -, longe da solidariedade e da fraternidade que naturalmente nascem do povo, busca impor uma “união” fictícia carregada de ódios, discriminação e violência aos “outros/as”, que não são os “outros/as” dos oprimidos/as (que seriam os opressores), senão os “outros/as” dos ricos e poderosos. E a cada dia 18, nos convidam a nos embriagar com SUAS tradições, posto que qualquer pessoa que conheça o campo chileno saberá que o inquilino ou o campesino pobre jamais usou a vestimenta de “huaso¹” ou poderia participar na estupidez do rodeio. E, claro está, é ESSA a tradição que buscam impor a nossas e nossos irmãos imigrantes, como um passaporte para serem aceitos neste país e em SUA cultura. Tristemente vemos como a maneira de “incluir” à e aos imigrantes têm sido a de travesti-los com a roupagem das “festas pátrias”, negando as diversas culturas deles mesmos, negando-lhes seu próprio “canto à diferença” como uma vez cantou Violeta Parra).
Chamamos que a cada setembro seja um setembro de memória e resistência, não mais de passividade e letargia frente ao triunfo dos poderosos ocorrido há mais de 40 anos. Chamamos a recolher as tradições próprias do povo, que sempre se encontram carregadas de fraternidade, solidariedade e respeito à alteridade, que não lhe pedem adaptação (imposta) ao migrante, senão que lhe abram suas portas ao reconhecimento mútuo e à aprendizagem coletiva.
Pela fraternidade entre povos e pela resistência permanente aos poderosos, que viva a anarquia!
Comitê Editorial
Revista Rebeldias
> Clique aqui para ler a íntegra da publicação:
https://revistarebeldias.files.wordpress.com/2017/09/rebeldias-web.pdf
[1] Figura clássica da tradição chilena, se usa para se referir ao indivíduo que vive no centro ou sul do país, os que se dedicam às tarefas das fazendas dessa região. São os camponeses dessas regiões.
Tradução > KaliMar
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