Por Massimo Serini
Esta manifestação ácrata, organizada pelo Ateneu Libertário de Florença, ocorre bienalmente e constitui a mais estruturada entre as atividades que, na Itália, se propõem a oferecer um olhar para o panorama atual das publicações, dos projetos, das autoproduções e das mais variadas atividades culturais expressas pelo movimento.
Na edição deste ano, como sempre, além de muitas realidades libertárias da península italiana estiveram presentes também algumas expressões do exterior (vi mesas e “distris” de livros, entre outros, de compas franceses, e da editora “La Baronata”, de Lugano (Suíça), que também haviam participado nas passadas edições da Vitrine, e dos compas da Black Rose.)
Durante os três dias da atividade (22, 23 e 24 de setembro de 2017), se conseguiu desenvolver um sem número de apresentações, debates, mostras, iniciativas, concertos, nesse lugar que se tornou, apesar talvez de umas contradições inerentes, já tradicional para esta manifestação: o Teatro Obihall, próximo do rio Arno, no sul de Florença, que se encontra localizado também em um endereço peculiar por causa de uma grata e rara coincidência: a rua se chama Fabrizio de Andre, que foi (e ainda é, depois de 18 anos de falecido) o mais renomado cantautor italiano de inspiração e simpatias ácratas.
Na grande sala do teatro estavam postas as mesas das realidades presentes (que expunham seus “produtos”: livros, quadros, artesanatos, alimentos, autoproduções, etc.). No cenário, separado do resto da sala por um painel móvel, e próximo do mesmo cenário, aconteciam os concertos, e muitas das apresentações e debates programados. Ademais, no primeiro nível do teatro havia outra sala onde tinham mais debates e apresentações.
O programa se apresentava complexo e rico e, como não somos onipresentes, havia que escolher às vezes entre propostas, igualmente interessantes, que iriam se desenvolver ao mesmo tempo e todas, com surpreendente pontualidade.
Havia também mostras permanentes:
– A cargo do mesmo Ateneu Libertário de Florença: A) “Periódicos anarquistas no mundo”; B) “Propostas dos cartazes para a promoção da Vitrine”; C) “Cem anos de antimilitarismo anarquista”;
– A cargo da Biblioteca Franco Serantini : “Colônia Cecília e Utopias libertárias”;
– A cargo do Coletivo Emile Henry: “Cinema e Anarquia”;
– A cargo de Lavinia Raccanello: “Retrato anarquista da Itália – Cartografia das ruas dedicadas na Itália a anarquistas”.
Funcionavam oficinas de restauração de livros e espaços artesanais e artísticos para crianças e adultos.
Nas paredes: os murais de Francesco do Casino. Muito apreciada e variada, a comida preparada pelos e pelas compas anfitriãs, com muitas especialidades e receitas da região Toscana.
Em seguida vai o programa das apresentações e eventos. Agrego também algumas poucas notas acerca de umas das atividades às quais assisti pessoalmente.
No primeiro dia (sexta-feira, 22), houve:
1. A cargo da revista “Cenerentola” uma conferência de Luciano Nicolini sobre “Demografia e Política”.
2. Um espetáculo teatral: “Co.R.P.I.” da Companhia Resistente Popular Internacional.
3. Um concerto em memória de Caterina Bueno (cantora e pesquisadora toscana do gênero etno folk, falecida no ano de 2007).
4. A apresentação do “Coro 16 de agosto com Bube e i Mazzacanidellasoffitta”, um projeto musical onde se mescla o “canzoniere” anarquista coral e tradicional com propostas de arranjo em rock.
5. Um concerto de rock acústico dos “Deja Vu” (que tocam um Rock and Roll “clássico” muito agradável).
6. Apresentação de “Chidduchisentu-Quello che sento”, livro de Giuseppe Canzoneri, apresentado pelo autor e por Pippo Gurrieri da Editora Sicilia Punto L.
7. Apresentação do livro: “Eretiche-il ‘900 di Maria Luisa Berneri e Giovanna Caleffi”, por seu autor, o historiador do movimento, Giorgio Sacchetti.
8. Apresentação do livro “Storie di vita e di anarchia. Guelfo Guelfi e Erminia do Colombo tra Volterra e Bruxelles”, editora “Collettivo le distillerie!”, pelo mesmo autor Duccio Benvenuti.
9. Apresentação do livro “La banda dello zoppo”, histórias de resistência armada contra o fascismo, ed. Coessenza, feita pelos autores e a cargo de Maurizio Rafanelli.
No segundo dia (sábado, 23):
1. Conferência e projeção do documentário “La Lotta delle ZAD -Zone a defendre”, de Sebastien Bonetti, contra a descarga de resíduos nucleares enterrados em Bure, um pequeno município do noroeste da França.
2. CSSVP: Projeto e preparação de um painel artístico apresentado e promovido por Stefania Mori.
3. Apresentação do Nº 3 do livro ilustrado “La Rivoluzione Russa in Ucraina” a cargo da “Associação Arquivo Germinal”, feita pelo autor Jeanne Pierre Ducret e seus editores.
4. Palestra sobre o livro “Brassens et autres enfants d’Italiens”, acerca da origem italiana do grande cantautor francês e de muitos imigrados de sua época, com Isabelle Felici e Pippo Gurrieri; intervenções musicais de Alessio Lega.
5. Performance teatral “L’estasi della neve”, de Duccio Scheggi, por Edizioni Collage de Pataphysique.
6. Conferência de Dimitrios Roussopoulos, pela Black Rose Books, “A crise climática, ecologia política e a nova agenda social”.
7. Apresentação de “Il fondo Piazza Fontana”, pelo Centro de Estudo Libertário/Arcquivo Pinelli, com a participação de Silvia Pinelli, Claudia Pinelli e Lorenzo Pizzica.
8. Debate organizado pelo Ateneu Libertário de Florença sobre: “Spagna ’36-Rojava 2017: le donne protagoniste do cambiamento sociale”.
9. Simpósio organizado pelo Instituto De Martino (importante centro de pesquisa cultural e musical, da área esquerdista, fundado por Gianni Bosio em 1966 “per la conoscenza critica e la presenza alternativa do mondo popolare e proletario”, ou seja para “o estudo crítico e a presença alternativa do mundo popular e proletário”. O tema do Simpósio foi “O Canto Anarquista como ferramenta de narração e propaganda”, com a participação de muitos interventores, coordenados por Stefano Arrighetti, e com as “incursões musicais” de Alessio Lega.
10. Apresentação do último número da bonita Revista ApARTe dedicado a Woody Guthrie: “With Woody on our side: Veniamo com la polvere e andiamo com il vento”.
11. Concerto de Tiziano Mazzocchi: “Ferro e Carbone”.
12. Concerto, espetáculo musical, com Alessio Lega: “Fedeli a Pietro Gori: Storie cantate degli anarchici”.
13. Apresentação do livro”Anarchici a Milano 1870-1926” de Fausto Buffá, a cargo de Franco Schirone, ed. Zero in Condotta.
14. Palestra sobre o livro de Francesco Codello (estudioso da pedagogia libertária) “Dalla natura umana alla condizione umana”, entre o autor e Stefano Boni.
15. Apresentação do livro ”Pioniere e rivoluzionarie: Donne anarchiche in Spagna”, pela autora Eulalia Vega, ed. Zero in Condotta.
16. Apresentação de “Taoismo e Anarquia” feita pelo mesmo autor, Giuseppe (Peppe) Aiello, que desenvolve a interessante tese que nas obras atribuídas a Laotzi e Zhuangzi (IV e III século da era antiga) se podem encontrar ideias e conceitos afins à ideologia anarquista, e que não seria atrevido colocá-los entre um imaginário elenco de “precursores”.
17. Apresentação, a cargo de Claudio Venza, do livro de Octavio Alberola, traduzido em italiano com o título de “Rivoluzione, Tra Caso e Necessitá”. Claudio Venza, apesar de seu atual estado de saúde, quis dar sua colaboração extremamente nítida e cativante, começando a falar do pai de Octavio – professor racionalista das escolas da CNT – e logo elucidando a trajetória existencial e política, e as reflexões “heterodoxas” sobre “a revolução” do autor. Ed. La Fiaccola.
18. Apresentação da mesma autora do livro “É che ilPotere é maledetto e per questo io sono anarchica”, de Anna Maria Falabbi. Ed. Il Ponte.
19. Apresentação feita pelo mesmo autor e editor do livro “Una vita proletaria”, de Giuseppe Galzerano.
20. Apresentação do livro “Rivoluzionarie russe di Fine Ottocento: Lettere e memorie di Olimpia Kutuzova Cafiero”, de Martina Guerrini, ed. BFS-Biblioteca Franco Serantini, por parte da autora e de Stefania Gennai.
21. Apresentação do livro “Livorno clandestina”, Ed.BFS, de Marco Rossi, apresentado por Giorgio Sacchetti.
22. Apresentação do texto “L’irresistibile esercito di Barlandia, piccole storie antiautoritarie, Perche’ gli anarchici non editano libri per l’infanzia?”, ilustrado por Federico Zenoni, ed. Libera e Senza Impegni.
23. Apresentação do livro “L’Oasi, romanzo arabo”, de Leda Rafanelli, Ed. Archivio Famiglia Berneri, pelos editores.
24. Apresentação do livro de Raul Vaneigem “Disumanitá della Religione”, a cargo do tradutor Andrea Babini e do editor Massari.
25. Apresentação do livro “L’affare Camenish – un caso internazionale”, a cargo do Norman Lipari; ed. La Baronata.
26. Apresentação a cargo do e editor Giuseppe Galzerano do livro: “Il tribunale speciale fascista”.
No último dia (domingo, 24 de setembro):
1. Debate: “Autogestione per una economía alternativa al capitalismo”, cargo do Ateneu Libertário de Florência, entre vários autoprodutores presentes. Coordenador: Vincenzo Mordini.
2. Reunião pública da REBAL, Rede de Bibliotecas e Arquivos Libertários.
3. Apresentação da Biblioteca L’Idea de Roma, presente na Vitrine desde a primeira edição, que está festejando os “20 Anos Viajantes” (uma série de festas e encontros na Europa), seus 20 anos (já mais 1) de vida. Esta biblioteca, autogestionada e autofinanciada, mantém um notável arquivo de documentos e textos dos movimentos (não somente ácratas) de luta e revolucionários desde os anos 80 até hoje. No projeto estão incluídos a “distro” de edições anarquistas e a publicação de textos.
4. “Carta desde el futuro”, entrevista, música e leituras com Paolo Pasi, a cargo da “A Rivista”.
5. Leitura cênica sobre Aldo Braibanti: “Ad esser Franca”, com Kiki Franceschi, Massimo Tarducci, Sandra Garugheri.
6. Apresentação de “Costruire evasioni”, do Coletivo Prison Break Project de Trento, e do “Manuale di difesa legale”, da “Ascociacion Mutuo Soccorso per la Libertá di Espressione” de Bolonha, a cargo do Círculo Anarquista Camilo Berneri de Bolonha.
7. Conferência e debate sobre “El Poder Popular nel Venezuela del séc. XXI: Politici, Mediatori, Assemblee, Cittadini”, com o autor Stefano Boni e Vincenzo Mordini
8. Espetáculo-Concerto “Spagna 36 de I Disertori”.
9. Concerto de Francesco Gabrielli e do Quartet Jazz.
10. Concerto de Massimo Liberatori e La Societá dei Musici.
Tradução > Sol de abril
Conteúdo relacionado:
Mais fotos:
agência de notícias anarquistas-ana
depois de horas
nenhum instante
como agora
Alexandre Brito
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!