Historicamente, o pior inimigo dos povos têm sidos eles mesmos. O exercício do poder absoluto, como todas suas consequências lesivas, sempre necessitou de artífices obedientes, dispostos a se vender pelo melhor preço. Algumas vezes o óbolo que tem servido de pagamento pelos serviços prestados tomou forma material, ideológica e religiosa, remetendo a questões de pátria, nação, fé, Igreja e o paraíso. Em qualquer caso, infelizmente, os carrascos da opressão e escárnio de nossa classe saem de nossa própria classe, valha a redundância. Quiçá por isso doem mais essas mortes que vivemos diariamente desde as páginas dos jornais ou das emissoras televisivas do canal de turno, não importa que seja em Barcelona, Berlim, Afeganistão, Argentina, Iraque ou Síria, os assassinatos indiscriminados de pessoas inocentes nos mostram um cenário terrível do mundo que habitamos e que temos consentido por ação ou por omissão. Todo este acontecer é lamentável em muitos aspectos. O primeiro aspecto desprezível é o que deriva do sofrimento das vítimas diretas e indiretas das guerras que se fragmentam ao nosso redor, não importa que tenham se por questões ecológicas, migratórias, religiosas, imperialistas, de gênero, laboral ou consequência imediata da simples pobreza. O segundo aspecto a destacar é que as pessoas executoras da ação violenta, em geral, são de extrato humilde, na melhor das hipóteses, da classe média, se é que esta existe no país de origem; as vítimas costumam ser pessoas da rua, pessoas que passeiam, crianças que vão à escola, etc. Explodem poucas bombas nos bairros ricos, nos parlamentos nacionais ou autônomos, nos tribunais, nos quartéis policiais ou militares, nos centros financeiros. Morremos nos passeios, nos mercados, viajando no metrô, em um avião ou em um ônibus, ou em campos de batalha próximos ou distantes. Se acreditasse em um deus onipotente diria que sua ira ante o comportamento ignominioso de sua criação se lança sempre sobre os mesmos setores da população, os mais débeis. Este acerto que fazemos é estúpido, primeiro porque deus não existe e segundo porque somos nós mesmos quem lançamos nossa frustração sobre as vítimas, sem castigar os pecados dos carrascos.
Em resumo, tanto a vítima como o verdugo procedem, na maioria das ocasiões, da mesma classe, essa que não possui nem a riqueza nem os meios de produção.
O terceiro aspecto a destacar é a bandeira pela qual se mata, constantemente alheia a uma razão moral, ao bem-estar comum da maioria, em nome de interesses alheios à nossa classe, espúrios, carregados de ideias e valores que nada tem que ver com o apoio mútuo e a solidariedade entre as pessoas e os povos.
Perdemos muitas batalhas nos últimos cem anos, mas quiçá as mais importantes se encontram ao lado da consciência de classe, da defesa do pensamento crítico, da racionalidade como ferramenta de relação entre iguais. Não esqueçamos de quais são nossos verdadeiros interesses como indivíduos submetidos à escravidão do trabalho. Não apenas sofremos a dominação que exercem os diferentes poderes estabelecidos no mundo, senão que os defendemos e matamos e morremos por eles.
Temos muito que aprender, reaprender e mudar. Somos nosso pior inimigo, não obstante, no problema está a solução.
Nos perguntamos em que esse modo de vida sem compaixão e egoísta que desenvolvemos está nos convertendo. O capitalismo não está ganhando a guerra de classe porque nos mantêm presos sob sua bota exploradora, mas sim porque conseguiu que perdêssemos a memória e abandonássemos aqueles horizontes revolucionários que a princípios do século XX puderam mudar o mundo.
Grupo Pensamento Crítico
Fonte: http://grupopensamientocritico2014.blogspot.com.br/2017/09/siglo-xxi-n-26.html
Tradução > KaliMar
agência de notícias anarquistas-ana
Da página aberta
salta a pétala seca
e a primavera antiga.
Zuleika dos Reis
Muito bom! Só reforça o que eu penso. Estamos juntos aliados!