Entre 21 e 23 de setembro passado, foi realizada na cidade italiana de Reggio Emilia, no Círculo Cucine Popolo Massenzatico, a Primeira Conferência Internacional de Geografias e Geógrafos Anarquistas (ICAGG) intitulada “Geografia, mudança social e práticas antiautoritárias”. Participaram da Conferência 45 palestrantes, a maioria deles da Europa e das Américas. As apresentações, todas apresentadas em assembleia plenária para promover o confronto entre todas as pessoas que participaram e, assim, evitar cair nos esquemas hierárquicos das conferências de moda, foram agrupadas por áreas temáticas e ampliadas em vários tópicos, dos casos mais teóricos as várias pesquisa-ação e reflexão concretas sobre o valor agregado que o libertário pode trazer para a geografia. De fato, remover da disciplina geográfica seu componente oficial e de Estado, que passa pela cartografia militar para alcançar a aplicação do poder em todas as áreas, só pode ser feito do ponto de vista libertário, fora dos cânones da autoridade.
Durante a Conferência, o território foi mencionado como produto da ação coletiva dos cidadãos em seus espaços de vida, em uma relação circular e recíproca com o ambiente natural, fora da lógica da exploração do capital e da dinâmica do poder, que enxergam no território apenas a porção do espaço onde eles podem concentrar suas forças de rapina e comando. Se falou sobre antifascismo, descolonização e espaços urbanos liberados e autogestionados; falou-se de uma geopolítica que parte do anarquista, sendo relegada aos geógrafos anarquistas do século 19 como Élisée Reclus e Piotr Kropotkin. O contributo à geografia da época desses pioneiros do pensamento anarquista e, ao mesmo tempo, cientistas físicos e sociais foi exposto e debatido em uma sessão, mas o debate como um todo e muitos outros documentos deixaram claro como essa contribuição não se esgotou no século XIX e como, pelo contrário, permaneceu viva e vital até hoje. Como um rio subterrâneo, a geografia anarquista tem atravessado todas as tendências burguesas e marxistas do século XIX, e agora veio à tona para influenciar e permear uma geografia crítica que, nas palavras do geógrafo Simon Springer, “não pode ser mais do que anarquista”.
Durante os três dias da Conferência se tratou sobre movimentos indígenas, migrantes e refugiados, ecologia e movimentos urbanos. Para alguns temas de grande interesse e atualidade, duas sessões foram dedicadas, como no caso dos movimentos radicais e auto-organizados que, com sua ação direta, criam territórios e espaços livres, para experimentar e viver aqui e agora uma sociedade diferente. Também as práticas de contra-mapa e cartografia crítica encontrou espaço em uma sessão dupla para verificar a necessidade de usar representações que colidam de frente com a couraça opressiva de mapeamento do estado, controle, classificação e esquemas. Não faltou uma apresentação sobre a experiência concreta de Rojava, onde entre uma guerra feroz, e milhares de outras dificuldades se está construindo uma sociedade de valores libertários, ação muito importante em uma região caracterizada por Estados autoritários desde sempre e fanatismo religioso.
A Conferência terminou na tarde de sábado no salão do Teatro Artigiano de Massenzatico, que está localizado nas instalações da primeira Casa Popular Italiana, fundada pelo pioneiro do socialismo Camillo Prampolini. Após as últimas apresentações, foi realizada uma assembleia para extrair um primeiro balanço da Conferência e coletar ideias para o próximo compromisso. Foi decidido realizar a próxima edição da Conferência na cidade francesa de Lyon, em torno da qual gravita um grupo de ativistas, acadêmicos e pesquisadores ativos há anos e bem enraizados no território.
A Conferência não só foi um lugar para o intercâmbio de ideias e notas científicas, de fato – e não poderia ser de outra forma – as refeições e os jantares preparadas pelos voluntários do Círculo Cucine del Popolo foram ocasiões de conhecimento mútuo e de socialização, com shows musicais e teatrais, até o jantar final do sábado, que terminou com as notas de A las Barricadas Barricadas e La Internacional.
Até daqui dois anos em Lyon!
Gianmaria Valent
Fonte: https://www.nodo50.org/tierraylibertad/351articulo3.html
Tradução > Liberto
Conteúdo relacionado:
agência de notícias anarquistas-ana
As pontas quebradas
dos lápis que te desenham
inda estão na mesa
Everton Lourenço Maximo
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!