Em 15 de novembro de 2017 um grupo de pessoas procedeu à ocupação da velha Escola Politécnica de Atenas, em cujo recinto cada ano, de 15 a 17 de novembro, se celebram eventos em memória da rebelião de 17 de novembro de 1973 contra a Ditadura militar. Segundo o primeiro comunicado conciso da ocupação, seu primeiro objetivo político é “a expulsão das organizações políticas e partidárias que pretendem manipular a rebelião”. No mesmo texto se fez um chamado a “fazer realidade a insurreição e enfrentar-nos com as forças policiais”. No segundo comunicado, igualmente conciso que o primeiro, a frase “organizações políticas e partidárias” foi substituída pelas frases “parasitas partidários” e “manipuladores partidários e institucionais”.
No mesmo dia, vários grupos esquerdistas realizaram uma marcha de protesto fora dos recintos da velha Escola Politécnica. No dia seguinte, vários partidos e grupos esquerdistas (e poucos anarquistas) chegaram em marcha à Escola e encerraram a ocupação. Até a hora de escrever essas linhas, o grupo que ocupou a Escola Politécnica não emitiu nenhuma declaração sobre o final da ocupação. A seguir, o texto da coletividade anarquista “Anarquistas comunistas de Patras” contra a ocupação.
A Escola Politécnica pertence aos lutadores e as lutadoras. O 17 de novembro não se pode manipular, a anarquia não se pode aviltar.
Com surpresa, tristeza e raiva, nos informamos da ocupação da velha Escola Politécnica por um grupo de pessoas na manhã de quarta-feira (15/11), e a consequente exclusão de associações estudantis e grupos esquerdistas do recinto da Universidade. Estes coletivos tradicionalmente celebram neste recinto as atividades de memória histórica realizadas cada ano durante três dias.
Como anarquistas comunistas e lutadores que levamos quase vinte anos participando tanto em Patras como em Ioánnina nas atividades de memória histórica e de classe, realizadas por causa do aniversário da revolta da Escola Politécnica (o 17 de novembro de 1973), deixamos claro que ninguém tem o direito de impor uma lógica de propriedade das lutas da Escola Politécnica. A tradição lutadora, de classe e insurrecional da Escola Politécnica e das lutas dos estudantes e dos obreiros contra a junta militar dos coronéis, pertence aos lutadores e as lutadoras daquela ocasião, do presente e do futuro. Pertence aos de baixo da sociedade e a todos os que montamos barricadas contra a investida do totalitarismo do Estado e do Capital.
De as todas formas, sabemos de sobra que um dos desejos fervorosos da Soberania é incorporar e absorver as lutas, assim como distorcer aqueles rasgos radicais delas, por causa dos quais podem ser perigosas no futuro. Portanto, a ação da ocupação da Escola Politécnica pode ser somente daninha com respeito a manutenção da memória histórica social e de classe, quando proíbe a associações estudantis ou juventudes políticas esquerdistas celebrar suas atividades (eventos) em seu recinto.
Nos mostramos relutantes, pois, a qualquer tentativa de manipular e tratar de tirar lucro político das lutas coletivas dos de baixo, tanto das do passado como das do presente. Ainda quando se os okupas quiserem proteger as mensagens da rebelião da Escola Politécnica da manipulação partidária, na prática o que conseguiram é reproduzir esta manipulação, tendo como símbolo o A circulado, e invocando a Anarquia. Ainda mais, posto que uma ação semelhante é uma ação de elitismo e vanguardismo, separada dos desejos e das necessidades do movimento de classe contestatório neste período. Enfim, os métodos empregados pelos okupas não são os dos lutadores anarquistas e libertários. São os métodos das chefaturas da esquerda, da noção das vanguardas políticas que se põem acima dos lutadores e das lutadoras, e tomam decisões por eles e sem eles.
Por conseguinte, cremos (consideramos) que dita ação política reproduz invenções ideológicas perigosas, pretendendo pôr na prática dentro do movimento contestatório (com seus vários matizes) uma polêmica que na conjuntura atual se deve realizar contra os soberanos. Somos claramente relutantes ao translado ao terreno do movimento da guerra social e de classe contra o Capital, o Estado e os fascistas.
Ao mesmo tempo, podemos reconhecer alguns pontos de partida ideológicos comuns após dita ocupação-isolamento da Escola Politécnica, entre o ataque contra comunistas e anarcossindicalistas faz dois anos, no marco da celebração de eventos no aniversário da rebelião da Escola Politécnica, e o ataque contra estudantes em Atenas, durante as últimas eleições estudantis. Em ambos casos falamos de valentões com manto anarquista. Aparte da diferente composição dos sujeitos destes ataques diferentes, o conceito que tem alguns segmentos do “âmbito” anarquista destas ações, em realidade se baseia em uma lógica e atitude anticomunista e pequeno burguesa, a qual identifica os e as estudantes comunistas com as chefaturas dos partidos esquerdistas e os classifica na categoria dos inimigos, junto com o Estado e o Capital. Esta lógica nos dá asco.
A única coisa positiva (se existe algo semelhante) em tais ações de pessoas que (possivelmente sem dar-se conta) operam como os idiotas úteis para a Soberania, é que, dado que (cremos que) certos segmentos organizados de anarquistas mantêm distâncias deles, se demonstra de a maneira mais clara que já o “âmbito” anarquista é uma nuvem, uma referência a períodos históricos do passado. O desafio é que (este âmbito) comece já a adquirir as características de um movimento que tenha um discurso social amplo. Nesta direção é necessário manter distâncias de tais ações.
16 de novembro de 2017
Anarquistas comunistas de Patras
O texto em grego:
https://athens.indymedia.org/post/1580089/
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