Retrato íntimo de um imprescindível
Ana Bayer é a responsável deste documentário “caseiro”, no qual se reflete a cotidianidade do escritor e jornalista. Poderá ser visto amanhã [18/02] às 17h30 no microcine Espacio ECuNHi, por ocasião dos festejos do 91 aniversário do autor de “La Patagonia rebelde”.
Por Silvina Friera
A pátria de Osvaldo Bayer é a rebeldia. “Me propus a não ter piedade com os desapiedados. Minha falta de piedade com os assassinos, com os verdugos que atuam desde o poder, se reduz a descobri-los, deixá-los desnudados ante a história e a sociedade e reivindicar de alguma maneira os de baixo, os que em todas as épocas saíram às ruas para dar seus gritos de protesto e foram massacrados, tratados como delinquentes, torturados, roubados, atirados em alguma fossa comum”, explicou o jornalista, historiador e escritor. Desta vez seu aniversário não se celebrará no “El Tugurio”, nome que pôs Osvaldo Soriano à histórica casa de Belgrano, na rua Arcos. Os 91 anos de Bayer se festejará amanhã às 17h30 no microcine Espacio ECUNHI (Avenida Libertador 8151) com a projeção de “Mi viejo rebelde”, um filme realizado por sua filha, Ana Bayer.
“Os anos tem seu significado, cada ano que passou nesta Argentina, plena de histórias e de desgraças. Eu estou muito satisfeito da vida que fiz, ainda que tenha pago bem caro todas as ações por mais democracia. Quantos heróis tivemos, esquecidos completamente, que deram sua vida, exilados pelo destino do país”, diz Osvaldo em um breve vídeo filmado no pátio de sua casa, rodeado de suas plantas e livros – esses seres que ele define como “sábios” pelo silêncio que guardam – nos dias prévios a seu aniversário. O autor de excepcionais ensaios como “Los anarquistas expropiadores, Severino Di Giovanni, el idealista de la violencia” e “La Patagonia rebelde” admite que “foi bonito seguir de perto o destino do país; interpretar a história e realizá-la, em um país cheio de histórias e de traições também ao espírito democrático”. O velho rebelde luta e resiste. Ninguém calará sua voz. Não puderam fazê-lo quando teve que exilar-se na Alemanha em 1975, depois que “los heraldos negros” proibiram sua obra e o ameaçaram de morte. Há melhor presente, para seus leitores, que escutá-lo e voltar a ler todas as vezes que sejam necessárias? “O melhor que podemos fazer em nossas vidas é tratar de realizar o destino, o ímpeto, de todos aqueles que queriam um país bem democrático, um país da igualdade – propõe o autor da novela Rainer e Minou. Seguiremos lutando para que nossa rica história seja vista cada vez mais próxima, e para que aprendamos com nossos heróis diários, quanto fizeram. Não demos passos atrás; mais democracia, mais igualdade”.
Ana, a filha de Osvaldo, conta na Página12 que “Mi viejo rebelde” é um filme “muito caseiro”, uma espécie de retrato íntimo do historiador e jornalista. “Desde sempre filmei meu pai em particular, com seu humor, suas coisas cotidianas, mas também seu trabalho, seus comentários, as conversas com a família. É o olho da filha, no qual prevalece certamente o familiar, mas creio que justamente é isso o que o faz mais humano a Osvaldo para quem o conhece por suas obras. Não sou profissional de cinema, mas neste caso fiz este filme para meu pai, para seu aniversário. Não busquei a perfeição da imagem, mas acima de tudo quis documentar muita vida vivida juntos”. Longe de eclipsar a imagem pública do autor de “Rebeldía e esperanza”, “En camino al paraíso”, “Ventana a Plaza de Mayo” e “Fútbol argentino”, Ana busca no doméstico, o que não se vê nem se conhece portas adentro. O espírito combativo de seu pai – ela bem o sabe – é conhecido. Se antes denunciou a exploração e morte de peões rurais na Patagônia e acompanhou as “Madres de Plaza de Mayo”, agora apela ao engenho da palavra para protestar contra o avassalamento dos direitos humanos e sociais do governo de Mauricio Macri, que Osvaldo já o disse, “é como voltar à Idade Média”.
O ano passado publicou uma bela e dolorosa carta pela desaparição de Santiago Maldonado. “Detrás do rosto de outro desaparecido, andaremos sem desandar nem um só milímetro percorrido”, encorajou Bayer neste texto que foi publicado em “La garganta poderosa”. “E a vocês, irmãs, irmãos mapuches, os abraço uma vez mais na mesma luta, na mesma resistência, na mesma dignidade, essa que nasceu faz séculos e vale a pena reconhecer, porque não só soube transcender, também soube fazer valer a força da consciência, sem exercer mais violência que os saberes organizados, frente a exércitos de robôs armados”. Após o assassinato de Rafael Nahuel, no marco de uma nova repressão ao povo mapuche, o historiador gravou um vídeo no qual questionou o acionar da Justiça e das forças repressivas. “Senhor Juiz Villanueva, o senhor é que ordenou um desmedido operativo no qual participou a Polícia Federal para prender os membros da comunidade mapuche do Lof Lafken (…). E para garantir o desalojo e a repressão cortou a Rota 40 em um raio de dez quilômetros com a Gendarmeria Nacional contra famílias mapuches, a maioria deles mulheres e crianças, vulnerando todos os reconhecimentos legais e internacionais”.
O velho rebelde prometeu que viverá até os 100 anos. Há que ver seus cílios piscando nomarco de seu olhar cristalino quando fala de sua “amada” Marlene Dietrich, a atriz e cantora alemã que pontualmente todas as noites segue cantando-lhe canções, justo quando Osvaldo fecha os olhos e começa a sonhar. O sonho – e a luta – continuam.
Fonte: https://www.pagina12.com.ar/96228-retrato-intimo-de-un-imprescindible
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Nuvens,
sem raízes
até que chova.
Werner Lambersy
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!