A revista do GERA (Grupo Erva Rebelde Anarquista) já saiu! Este número dedica-se à Revolução Russa e vem com uma separata escrita por mulheres sobre/para mulheres russas e um DVD com uma vasta compilação de materiais. Veja abaixo um pouquinho desta edição.
1905… 2017…
Eram 50
Eram 100.000
Eram muitas e nenhuma, mas nem Deus, nem Czar atormentariam os 2000 corpos de Odessa.
No meio da rua, gritavam Pão, Paz e Liberdade e no crepúsculo sombrio de uma vida camponesa de 35 anos, ao raiar do dia dormiam as 40 horas, a noite era branca e a manhã nunca chegou.
Eram 100 talvez 200.000, que nem Deus, nem Duma salvariam da repressão. Num surto de culpa, o amante poeta do povo berrou “Então o Oceano está vivo!”
Eram 1.000.000, não mais reformas, só as botas e os punhos erguidos das greves lavrariam a calçada.
Nem pão, nem botas, apenas 3 meses de armamento e nas trincheiras, a morte era branca e a manhã nunca chegou.
No arsenal, 100.000 armas vibravam ao rugir do povo. Chegaram com os poetas para cantar o Pão, a Terra e a Paz. Por uma salsicha e umas batatas os aedos indecisos entre ocidente e oriente, entre herança e mundo novo, reviravam a linguagem e vendiam os versos famintos de uma dor
aqui
a noite foi longa e disseram que a manhã seria com Terra, Paz, Pão e Todo o Poder aos Sovietes. A noite foi longa e os poetas suicidaram-se.
Repetidamente, cada ano que passou 4100 bombas
1792 quilos de pólvora
200.000 cartuchos
32 armazéns de armas
21 laboratórios da liberdade
110 tipografias
73 cidades e mais…
40.000 anarquistas?
A noite foi longa e percebemos que “o poder não deve ser conquistado, mas destruído”.
Gisandra Oliveira
E D I T O R I A L
Passados cem anos, grande parte dos mitos do comunismo da Rússia soviética foram derrubados e as suas atrocidades desvendadas. Mas reduzir o que aconteceu na Rússia, no início do século vinte, a uma data em particular, a alguns nomes conhecidos e algumas decisões políticas descarta o importante legado da experiência de um movimento popular, da natureza da sua organização e práticas, do impacto que teve nos meios anarquistas e do consecutivo debate que se iniciou entre plataformistas e sintetistas, entre método insurrecionalista e método sindicalista. Talvez possa parecer anacrônico ou nostálgico, quiçá até será! Mas pouco importa ao desafio que se fez o coletivo Gera, porque lhe permitiu remexer na História para falar do pequeno povo, das suas lutas e mortes, revisitar um importante movimento popular e fazer uma recolha histórica dando relevo às anarquistas e aos anarquistas da Rússia desde 1880.
Entendemos a revolução russa como uma mudança profunda que se construiu no seio da sociedade e que se desenvolveu a partir do final do século dezenove. Foi um movimento popular de descontentamento e sofrimento com aspirações à liberdade e dignidade que levou ao movimento insurrecional contra o poder do Czar em 1905 e à sublevação popular que antecipava alterações profundas nas estruturas sociais, políticas e econômicas em Fevereiro de 1917.
Assim, este número da Erva Rebelde dedica-se exclusivamente ao tema da revolução russa, não para trazer novamente os grandes nomes da História, mas para visitar os outros nomes destas histórias da História. Aquelas pessoas que se envolveram nas atividades anarquistas de 1903 a 1917, aquelas que morreram em 1905, as que foram fuziladas, assassinadas, deportadas, exiladas, as que voltaram com a miragem de uma possibilidade em 1917, as que morreram na Grande Guerra 1914-1918 ou na guerra civil de 1917-1921, todas as que pereceram ou sofreram por acreditar num ideal anarquista. Este número da Erva Rebelde apresenta textos de reflexão, traduções, notas de leituras, mas também uma separata composta apenas por mulheres que empreenderam um trabalho de investigação e escrita criativa sobre anarquistas russas, intitulada “O Manuscrito encontrado na Utopia”. Contém, além disso, um DVD com documentos (uma cronologia, uma bibliografia, um índice biográfico e outros textos), várias pastas de imagens (fotografias, gravuras, mapas, pinturas, retratos), vídeos e ficheiros de som.
> Para ler e baixar revista clique aqui:
https://ervarebelde.noblogs.org
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!