[Fazemos um chamado na segunda-feira 12.3.2018 para começar com esta campanha militante em qualquer lugar, que possamos golpear aos governantes. Tomemos partido de maneira radical, criativa e valente. Organizemos ações locais como prelúdio de uma resistência que mostrará aos poderosos deste mundo que Afrin não está só. Como dizem em Rojava, nós também dizemos: “Lutaremos juntos, perderemos juntos ou venceremos juntos”.]
Durante mais de 6 semanas vimos o ataque e a ocupação de Afrin, o cantão ocidental de Rojava, por parte do Estado turco junto a grupos islâmicos vinculados a Al-Qaeda e ao ISIS. Nesta campanha de extermínio, os invasores não se amedrontam em usar bombardeios deliberados contra a população civil e, inclusive, armas químicas. Os mercenários islâmicos e os fascistas soldados turcos deixam um rastro de devastação, saque, violação e assassinato, praticam uma limpeza étnica no território dos curdos. Até o dia de hoje mais de 300 civis e muitos militantes deram suas vidas, dezenas de aldeias foram destruídas e centenas de milhares de pessoas tiveram que abandonar seus lares.
Apesar da resistência decidida da gente de Afrin e das unidades de defesa YPG / YPJ / SDF, o exército turco consegue ganhar mais terreno a cada dia. Enquanto que a ofensiva turca estava estancada na área fronteiriça do cantão durante o primeiro mês, nos últimos dias importantes cidades como Raco e Shera foram conquistadas pelos invasores. Seu destino é a cidade de Afrin, o lugar onde até agora encontraram refúgio os civis que fugiram das aldeias e dos pequenos povoados que foram conquistados.
Isto é possível graças ao uso massivo da tecnologia moderna da OTAN, como aviões de combate, artilharia, tanques e drones. A guerra fascista-islâmica contra Afrin não é só a tentativa de Erdogan de destruir o movimento de libertação curdo. Enquanto a Rússia abre a porta às forças aéreas turcas o regime sírio de Assad se mantém de fato inativo. A OTAN ativamente apoia esta guerra com informação de inteligência, tecnologia militar, armas e munições das fábricas ocidentais. As mensagens hipócritas dos palácios do poder não podem ocultar o fato de que esta guerra não é nada mais que o cálculo dos governantes com a revolução de Rojava. É o cálculo contra a tentativa de enfrentar o sistema capitalista com uma alternativa auto-determinada de democracia radical, liberação das mulheres, verdadeira igualdade de gênero e ecologia social.
A esquerda radical em todo o mundo devemos ser conscientes da histórica importância destes dias. O ataque a Afrin é uma tentativa de destruir o projeto revolucionário mais promissor de nossa geração. A revolução de Rojava não é só a única perspectiva emancipadora significativa no Oriente Médio, é também um dos últimos raios de esperança que ficam para tornar possível outro mundo.
Como nenhuma outra revolução das últimas décadas, Rojava nos inspirou e nos mostra quão radical e bela pode ser a luta pela liberação da sociedade. A heroica resistência das YPG e YPJ em Kobane e a auto-organização da população, sob a iniciativa de mulheres liberadoras encantam a milhares de esquerdistas, anarquistas, socialistas e feministas. Em todo o mundo esta revolução é discutida, admirada e motivo de solidariedade; centenas de pessoas percorreram seu caminho a Rojava e participaram na resistência contra o ISIS e na construção de uma nova sociedade. Apesar de todas as contradições, o movimento de Rojava, com sua determinação, sua conexão com as pessoas e a implementação concreta de nossas utopias, se converteu no mais importante foco da luta global contra o capitalismo, o patriarcado e o racismo.
Hoje, este projeto se encontra entre a espada e a parede. A guerra em Afrin é uma luta entre a existência ou não-existência para a revolução em Rojava. Se Afrin cai, Minbij cairá também. Com uma vitória para o Estado turco a oeste do Eufrates, o imperialismo estadunidense também reformulará sua estratégia regional e considerará entregar o norte da Síria às milícias islâmicas filiadas a Turquia, sob a etiqueta de FSA – novo aliado do ISIS – e Al-Qaeda / Al-Nusra. Isto seria não só o início de uma limpeza étnica e o sangrento final da revolução de Rojava, mas também o começo de uma nova fase no desenvolvimento do fascismo turco como fonte do islamismo mundial: os sonhos de Erdogan sobre o novo Império Otomano, com ele como Sultão à cabeça, já não teria nenhuma contrapartida. A ditadura interna se consolidaria durante décadas, a expansão colonial se estenderia ao exterior. O Oriente Médio seria conduzido mais profundamente no caos da guerra e a aniquilação sem uma força que possa desenvolver uma alternativa emancipatória.
O fato de que os acontecimentos no Oriente Médio tenham um impacto direto em processos políticos e sociais também na Europa e outras partes do mundo, foi demonstrado não só pelos ataques do ISIS nos últimos anos. Também o aumento do racismo, do sexismo e do antissemitismo nas sociedades europeias, do novo militarismo e dos crescentes chamados ao Estado autoritário com o regresso da direita radical, estão diretamente relacionados. Devemos ser conscientes que as condições sob as quais nós, a esquerda radical, estamos lutando nos centros de poder, também estão afetados em grande medida pelo equilíbrio internacional de poder. Assim como também as condições políticas nas metrópoles do capitalismo, influem nas condições sob as quais nossos amigos lutam em Afrin.
As pessoas de Rojava seguem em pé, YPG / YPJ / SDF se opõem a estes desenvolvimentos. E até agora esta resistência teve êxito só porque as pessoas decidiram dar tudo por isso. No entanto, Afrin não poderá defender-se contra a brutal superioridade dos ataques do exército turco e seus colaboradores islâmicos sem apoio internacional. Mas apesar de semanas de protestos em todo o mundo, os Estados da América do Norte até a Rússia, passando pela Europa, se aferram a sua cruel decisão de pôr fim a esta revolução, e parecem haver selado o destino das pessoas em Rojava. A resistência em Afrin só terá êxito se estamos prontos para dar tudo, inclusive se é o mais valioso.
Não continuaremos contemplando passivamente esta injustiça. Não deixaremos sós as pessoas em Rojava e a nossos camaradas na luta, porque a guerra contra Afrin é uma guerra contra nós. O ataque turco em Afrin é o impulso político, econômico e militar da OTAN no coração de nossas lutas revolucionárias, nossos sonhos e esperanças. Vamos devolver esta guerra onde foi aprovada, respaldada, legitimada e produzida. Elevaremos os custos para aqueles que se beneficiam desta guerra. Faremos que prestem contas os que apoiam o assassinato de civis, o legitimam como uma suposta “guerra contra o terror”. E faremos que o ensurdecido público europeu escute, recordaremos a nossas sociedades que todos nós somos responsáveis daquilo que os governos estão fazendo em nosso nome.
Neste sentido, fazemos um chamado às forças emancipadoras de todo o mundo a romper o silêncio, e dar voz às pessoas de Rojava para que ninguém mais possa ignorá-la. Se não somos nós, quem mais poderá reclamar responsabilidades a nossas sociedades? A situação em Afrin é uma ameaça existencial a todas nossas perspectivas revolucionárias. Quando, se não agora, é a hora de arriscar tudo? Se Afrin cai, será demasiado tarde. Só se damos tudo, poderemos ganhar tudo.
As ações de solidariedade passadas com a resistência em Afrin foram corretas e acertadas. Saudamos a todos os camaradas que estiveram se organizando, se manifestando e levando a cabo ações diretas durante semanas. Estes foram momentos importantes, mas não são suficientes. Na situação atual, o silêncio assassino e o apoio do fascismo Turco por parte da comunidade internacional nos obriga a outros meios. Devemos exercer o direito à autodefesa de nossas esperanças.
As ações diretas podem não só ser uma intervenção concreta na guerra e máquina de propaganda do Estado turco e seus apoiadores, pois tem muito mais potencial para chamar a atenção da extraordinária urgência da situação. Queima de embaixadas e consulados turcos, sabotagem de empresas armamentísticas e ações militantes massivas contra os símbolos do capitalismo e o governo imperialista, romperão o silêncio e farão com que as atrocidades do fascismo turco sejam impossíveis de ignorar. O sistema na Europa se nutre de nós para fazer-nos dependentes e aturdir-nos, para pacificar conflitos e contradições. Deixemos que a ilusão de paz social se consuma pelas chamas. Demostremos aos governantes que resistiremos aos ataques com as pessoas de Rojava e defenderemos tudo o que significa a revolução em Rojava, que é também nossa revolução.
Fazemos um chamado na segunda-feira 12.3.2018 para começar com esta campanha militante em qualquer lugar, que possamos golpear aos governantes. Tomemos partido de maneira radical, criativa e valente. Organizemos ações locais como prelúdio de uma resistência que mostrará aos poderosos deste mundo que Afrin não está só. Como dizem em Rojava, nós também dizemos: “Lutaremos juntos, perderemos juntos ou venceremos juntos”.
Afrin não cairá!
Biji Berxwedana Afrin
Viva a solidariedade internacional!
Tradução > Sol de Abril
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agência de notícias anarquistas-ana
A sensação de tocar com os dedos
O que não tem realidade –
Uma pequena borboleta.
Buson
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!