Formado nos anos de 1980, o Cólera ficou conhecido pelas letras sociais e engajadas na voz do saudoso Redson Pozzi
por Cristiano Martinez
Rápido, intenso e politizado. Dentro da melhor tradição do punk rock paulistano, o Cólera está no ar com seu mais recente disco de estúdio, “Acorde! Acorde! Acorde!”. Mesmo sem Redson Pozzi (falecido em 2011), o material presta reverência a um dos símbolos da cena musical independente de São Paulo.
Com produção de João Noronha, as 16 faixas do novo trabalho são composições de Redson Pozzi, Pierre Pozzi, Valdemir Pinheiro, Fábio Belluci e Wendel Barros; sem contar a coautoria de Alonso Goes nas faixas 1, 2, 5, 7, 8 e 11.
Em “Acorde! Acorde! Acorde!”, Pierre (bateria e voz), Val (baixo e voz), Wendel (voz) e Fábio (guitarra) se basearam no legado de Redson para dar continuidade à trajetória de liberdade da banda. “Este álbum foi idealizado e composto em grande parte pelo Redson, que infelizmente não teve tempo para vê-lo concluído. Mesmo com a sua ausência, todos nós nos esforçamos ao máximo para concluir esta obra que conta com 13 faixas inéditas e mais três músicas bônus retiradas de uma demo feita em 2009 com o Redson”, diz a banda, em suas redes sociais.
Para tirar o projeto do papel, a banda teve sucesso em uma campanha de financiamento coletivo na internet. Durante um período de tempo, os fãs e interessados no trabalho da banda paulistana puderam contribuir financeiramente com o projeto “Acorde! Acorde! Acorde!”. Assim, o quarteto de punks conseguiu os recursos necessários para financiar o trabalho, que já está disponível nas plataformas digitais de streaming (Deezer, Spotify, Youtube e Bandcamp).
ABERTURA
Logo de cara, o Cólera mostra a que veio com “Somos Cromossomos”, primeira música de trabalho e que abre o novo disco. Os primeiros acordes simples e distorcidos preparam o clima para versos de reflexão sobre o dia a dia: “Abra a porta, acenda a luz/Acorde pra acordar/Todo dia a sensação/O mundo vai acabar/Hoje não tenho tempo/ E nem você também/Pra onde eu vou correndo/Nem eu mesmo sei”.
Simples assim, em um rock sem firula ou frescura. Ao estilo punk, talvez essa primeira faixa não possa acrescentar muita coisa: instrumental direto e rápido, com letra provocadora. Claro que a produção musical fica a milhares de quilômetros de distância da técnica precária dos primeiros discos de punk no Brasil.
Mas, no fim das contas, o que importa mesmo é o recado dado pelo Cólera que ainda está vivo e forte na cena roqueira do país.
FAIXAS
Nas demais faixas de “Acorde! Acorde! Acorde!”, o Cólera trafega por temas como festividades, consumismo, aproveitadores, entre outros. Sempre em alto e bom som.
Apesar da decantada crueza sonora, o novo disco do Cólera tem um colorido diferente: metais a cargo dos trombones de Felippe Pipeta e Victor Fão e do sax de Bio Bonato. Essas participações especiais preenchem os espaços rítmicos deixados pela banda em algumas faixas.
Nesse sentido, chama atenção a ligação temática de cinco canções, que fazem parte de uma espécie de ópera punk, a “Ópera do Caos”, cujo conceito surgiu com Redson. Elas têm em comum a continuidade sonora e a reflexão sobre violência e belicismo, como é o caso de “Mr. Gamble”, um personagem militar que atrai para a morte com seu poder místico (“ele é um Buda, um bode ou um Papa de bigode”); ou seja, uma figura perigosamente atraente e que leva tudo.
Em “Hino”, a ópera se fecha, com a questão do militarismo e a ditadura brasileira nos anos de 1960; mas passando pelas gerações seguintes, como na década de 1970, com “bateria e guitarra”, que preparou a chegada do punk rock e a sua posição contra a censura e a repressão. Ou seja, a proposta da “Ópera do Caos” é utilizar a música como solução contra a violência militar.
“Com o novo disco, trazemos uma sonoridade nova, como fizemos durante toda a carreira. Mantendo sempre a essência punk, com a cara e peso do Cólera, dessa vez misturando com outros gêneros musicais e presença de arranjos de trombone, trompete e saxofone”, explica a banda, na campanha do Catarse.
Fonte: https://www.correiodocidadao.com.br/noticia/em-novo-disco-colera-continua-com-mesma-pegada-punk-rock
agência de notícias anarquistas-ana
Como que levada
pela brisa, a borboleta
vai de ramo em ramo.
Matsuo Bashô
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!