Segunda-feira, 9 de abril
Ainda que o movimento tenha conseguido evitar durante anos, começou uma nova tentativa de desalojo da ZAD [Zona A Defender] de Notre-Dame-des-Landes. Desde as três da manhã a operação se estendeu com toda sua brutalidade: filas intermináveis de furgonetas cor azul marinho, tanques blindados, gases lacrimogênios, primeiros feridos e primeiras detenções. A gendarmeria [polícia] anunciou que a presença de jornalistas estava estritamente proibida “em todas as etapas do dispositivo” e bloquearam seu acesso ao local. Afirmaram que a tomada de imagens com fins jornalísticos está proibida e que os meios teriam que contentar-se com as que foram entregues pelos gendarmes.
Estes desalojos confirmam a pretensão do governo de restabelecer o direito ao mesmo tempo que o pisoteia de maneira grosseira. A prefeitura sequer deixou a possibilidade axs habitantes da ZAD de terem acesso às bases mínimas do direito à moradia, neste caso não se respeitou o procedimento de entabular ações legais nominativas e amparos no caso de vontade de desalojo. Isto ocorreu apesar de que os habitantes da maior parte da ZAD haviam se identificado em vários momentos durante os últimos anos.
O lamentável jogo duplo da prefeitura mostra-se hoje em toda sua hipocrisia: anuncia uma certa vontade para que a situação evolua de maneira “serena e aliviada” enquanto nos manda 2.500 policiais para arrasar com nossas casas e quartos. Nos anuncia uma seleção que se operará segundo categorias que são meras ficções, que não servem mais do que para suprir as necessidades de um story-telling repressivo no qual o governo se fechou. Aqui não há radicais de um lado e camponeses de outro, mas um conjunto de formas interligadas de compartilhar este território. Diferentemente do que afirma o ministro do Interior Gérard Collomb, ninguém se regularizou individualmente nas últimas semanas em detrimentos dxs outros. . O conjunto do movimento propôs um marco de convenção coletiva para o conjunto dxs habitantes e dos projetos.
Mas o governo não podia limitar-se a admitir que o projeto de aeroporto fora inútil, tinha que forçosamente se vingar contra xs que o forçaram a abandoná-lo. A terra morre, as formas econômicas mais brutais atrofiam nossas vidas, e em todas as partes há pessoas que aspiram a sair desta situação. Eram 30.000 em 10 de fevereiro passado que se comprometeram a apoiar o futuro da ZAD. Mas a mensagem política do governo nesta manhã é clara: se tem que fechar qualquer possibilidade de espaços de experimentação.
A nossa raiva é profunda nesta manhã ante o lamentável desperdício que representa a destruição em curso de casas e espaços de vida que havíamos construído aqui. A nossa comoção é grande ao pensar que a experiência coletiva da ZAD pode ser posta em perigo ante esta onda policial. No entanto, a ZAD não desaparecerá. Vivemos aqui, estamos enraizados a estes campos e a este bosque e não sairemos daqui. Saudamos a coragem das pessoas que já chegaram aqui para juntar-se conosco e que responderam a nossos chamados. Em 2012, a arrogância esmagadora do Estado terminou por se voltar contra ele. Em um contexto em que as greves, as marchas e as ocupações em todo o país aumentaram, apostamos no fato de que este desalojo se tornará um novo motor de rebeldia que se difunda aqui e agora. Esta operação de destruição se reverterá novamente contra os seus autores.
Chamamos a todas e todos que possam vir à ZAD para se juntar conosco desde agora ou nos próximos dias. Já há mais de 80 concentrações previstas em toda França esta tarde-noite, particularmente às 18 horas em Nantes e em Rennes, as grandes cidades mais próximas. A resposta ante este desalojo também terá de realizar-se a longo prazo. Se convoca a uma marcha este sábado em Nantes e a uma convergência na ZAD neste próximo fim de semana.
Fonte: https://zad.nadir.org/spip.php?article5333
Tradução > Sol de Abril
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