por Isbel Díaz Torres
Na madrugada desta segunda-feira (09/04) foi finalmente libertado o grupo de oito adolescentes e um menor, que foram detidos arbitrariamente¹ pela polícia cubana na sexta-feira, 6 de abril.
Apesar das informações que tinham oferecido aos familiares de que seriam condenados à prisão por até quatro anos, ou que seriam multados em 2.500 pesos (como aconteceu em outras ocasiões), agora, cada um deles recebeu uma Carta de Advertência.
Esse é o típico modus operandi da polícia cubana, que muitas vezes não oferece informações confiáveis sobre o paradeiro dos detidos, nem revela as reais acusações ou motivos da prisão.
No caso dos punks, se soma a discriminação institucional em relação a esse grupo social.
Quase não lhes permitiram visitas aos adolescentes. Depois que mães e pais descobriram por conta própria que seus filhos e filhas, estavam injustamente atrás das grades, os guardiões lhes deram apenas 5 minutos para vê-los e puderam comer o que eles levaram. Muitos não conseguiram terminar o prato de comida, em tão pouco tempo.
É claro que não acredito no ditado de que a polícia está lá para fazer cumprir a lei. Há muitos anos que os exemplos abundam de como justamente essas forças repressivas violam as leis em vigor, ignoram a letra da lei, e aplicam com total discrição punições injustas, às vezes obedecendo julgamentos e preconceitos pessoais.
Neste caso, os punks afetados deveriam reclamar juridicamente a Lei de Advertência que os forçou a assinar, pois se trata justamente do tipo de antecedentes criminais que justificarão futuras escaramuças contra esse grupo de adolescentes incômodos, radicais e críticos.
A violação de julgamento justo é a norma nesta instituição cubana, e as principais vítimas são os párias desta sociedade: punks, pessoas racializadas, gays, trans, “buzos”, dissidentes políticos, anarquistas, defensores dos direitos humanos, enfim, qualquer pessoa cuja simples existência questiona a imagem idílica de uma sociedade que é muito retrógrada.
Sei que algumas pessoas em Cuba prefeririam que esse evento permanecesse como uma anedota, e que generalizações desse tipo não fossem feitas para as instituições. É assim que, inclusive, muitos ativistas preferem: brincar com a corrente, mas não com o macaco.
Mas é nossa responsabilidade cívica denunciar o estado de decomposição que sofre a institucionalidade cubana, a arbitrariedade que move as decisões de todos os tipos e em todos os níveis, dado que essa decomposição infelizmente acaba refletida em nossas famílias, em nossos bairros.
Portanto, temos que suportar essas reportagens baratas na TV nacional, culpando a indisciplina social (e até mesmo “popular”), ignorando olimpicamente que o principal violador de suas regras é o próprio Estado, onde as pessoas vêem o exemplo.
Fonte: https://www.havanatimes.org/sp/?p=132150
[1] https://www.havanatimes.org/sp/?p=132039
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