Cada ano, editoras, livrarias, autores e leitores se encontram na Feira Anarquista de Sevilha, um lugar de encontro para a criação literária com visão libertária.
Não se trata só de letras. A oralidade, a música e o audiovisual jogam um papel fundamental no encontro que cada mês de março implica a alguns espaços autogestionados do centro mais subversivo de Sevilha: a Feira Anarquista do Livro de Sevilha (feriaanarquistasevilla.org).
Literatura e História com ótica libertária estão representadas nas obras que 15 livrarias e editoras independentes apresentam. São títulos difíceis de encontrar em outros âmbitos e são imprescindíveis para compreender, de forma crítica e necessária, o bairro e o mundo que habitamos. Assim, durante o fim de semana de 16 à 18 de março, os espaços de Tramallol, Lanónima e La Revo acolheram uma série de propostas e intervenções artísticas e culturais que complementam o papel insubstituível que tem os livros como “desaborregadores” de mentalidades.
O fato de que esta feira do livro também incluia o apelativo de ‘anarquista’ não é fruto só das temáticas e das perspectivas que se abordam nas centenas de livros e fanzines ou nas mesas de palestra e debate, como a que narrou o ativista curdo Ercan Ayboga sobre a nova sociedade que está sendo construída em Rojava (norte da Síria), com base na democracia direta, na luta contra o patriarcado, no ecologismo e no respeito intercultural e religioso.
De acordo com o espírito autogestionário, a feira funciona com “independência econômica e logística frente a qualquer instituição”, indica uma das dez pessoas que formam a assembleia que cada outubro começa a organizar a edição do ano seguinte. Neste ponto se começam a propor eixos temáticos para as palestras, oficinas, debates e demonstrações artísticas. Também a conceber a identidade da nova edição da feira ou as possíveis necessidades logísticas.
Mais à frente, segundo se vai aproximando a data, se vão somando pessoas e coletivos para colaborar, com um caráter cooperativo e ativo que é fundamental no ideário anarquista. Desde propor e contribuir com conteúdos intelectuais, culturais e artísticos que desenvolvem alguns dos eixos temáticos, até os turnos do comedor, do balcão ou da ludoteca.
Ademais do anteriormente mencionado sobre a revolução de Rojava, os eixos temáticos desta nona edição foram Fronteiras, Anarquismos Periféricos (uma perspectiva libertária do processo independentista da Catalunha, abordado por dois coletivos catalães), Memória Histórica e Feminismos. Este último eixo foi o protagonista da sexta-feira inaugural, com a violência como elemento comum em ambas. Abria a feira a oficina As violências como filtro e contexto de nossos sentidos, que se apresentava com a missão de provocar a reflexão sobre como se estrutura o sentir a partir das violências. Após este — e a abertura de portas do espaço expositivo—, as Violências sexuais nos espaços comuns foi o tema que abordou a mesa redonda que contou com a participação de representantes do Movimento Feminista de Iruñea, o Coletivo de Prostitutas de Sevilha e o Grupo de Apoio e Resposta do COAF La Revo.
A mesa de Fronteiras pôs o foco sobre a repressão a ativistas pró Direitos Humanos na chamada Fronteira Sul, com a participação de pessoas às quais lhes tocou muito de perto, como é o caso de Ernesto G. Maleno, de Caminando Fronteras, Dorothea Lipper-Ringler, da Asociación Ceutí Elín, e José Palazón, da melillense Prodein.
Já no domingo, a Memória teve um alto componente emocional com uma visita pelo cemitério de San Fernando às fossas comuns do franquismo, guiada por Cecilio Gordillo. Integrante do Grupo de Trabalho Recuperando a Memória da História Social de Andaluzia da CGT, é uma das pessoas que dedicou mais empenho em manifestar o alcance da repressão durante a Guerra Civil e o pós-guerra na Andaluzia.
Mais componentes: a música pôs fim aos dois primeiros dias da Feira Anarquista. Na sexta-feira, a modo de festa de inauguração, a guitarra de Raúl Cantizano (colaborador habitual de artistas iconoclastas como Pony Bravo ou Niño de Elche) encontrou a harmonia com as peças visuais de Miranda VJ. No sábado, um concerto de punk e hardcore co-organizado com o coletivo Andalucía Über Alles, com um cartaz no qual encontramos os toledanos Sudor e as almerienses Partenogénesis.
E o encerramento. O ciclo se fechou, enquanto o eixo temático, já que o feminismo libertário reluzia entre as palavras declamadas no recital do jovem coletivo poético Herederas de Salem. Foi o “até a próxima!”, que já será a décima edição, da Feira Anarquista do Livro de Sevilha.
Fonte: https://www.elsaltodiario.com/literatura/la-otra-feria-la-feria-del-libro-anarquista-de-sevilla
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
o rio ondulando
a figueira frondosa
no espelho da água.
Alaor Chaves
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!