Em 28 de abril, começará a funcionar a Biblioteca Comunitária “Xosé Tarrío¹”, projeto promovido por companheiros libertários presos na Penitenciária Norte da Cidade do México. Para acompanhá-los, uma atividade antiprisão está sendo chamada do lado de fora da Penitenciária, a partir das 13 horas. Haverá música, comida, informação dos compas presos e denúncias do sistema prisional. A seguir, carta do companheiro anarquista Fernando Bárcenas, encarcerado na Penitenciária Norte.
Carta aberta aos companheirxs presxs no cárcere exterior
Enviamos saudações fraternas a todxs xs que permaneceram atentxs nestes últimos anos as batalhas que aconteceram não só do lado de dentro das prisões físicas, mas especialmente nesta grande prisão a céu aberto que muitxs chamam sociedade…
Porque aqui “dentro” das muralhas, também assumimos parte dessa guerra, uma guerra que não queremos e que nos foi imposta pela condição social a que pertencemos.
Nesse sentido é que venho para transmitir estas palavras… porque como muitxs de vocês nos opomos a esta máquina gigantesca que tenta nos despersonalizar, arrebatar os nossos sonhos e desejos mais profundos para fazer deste mundo uma prisão de segurança máxima…
Porque acreditamos firmemente que não existe uma solução pacífica e, nesse cenário, a única maneira de obter a liberdade é construir novas realidades fora do sistema econômico de exploração.
Assim, dentro deste centro de extermínio chamado Penitenciária Norte decidimos abandonar a atitude de vítimas, para abordar a necessidade de construir um espaço separado no qual possamos tecer redes de solidariedade e mediante a organização de nossas pequenas forças combater os estragos da máquina de controle.
Não vamos continuar na velha dinâmica de fazer exigências àqueles que administram a nossa morte, porque não queremos ser ouvidos pelos poderosos, não queremos ser aceitos, nem que nos deem participação no poder.
Nos opomos fortemente a essa lógica que, em vez de causar rachaduras na máquina, a fortalece, dando-lhe um aspecto mais “humano”, como diriam muitos “esquerdistas humanistas”.
É por isso que pedimos a solidariedade de todxs vocês, porque para vocês é que falamos e lhes dizemos que estamos aqui com as nossas pequenas forças, resistindo a extinção temos sido condenados por sermos diferentes ao protótipo cidadãos.
Sabemos que há muitxs em toda parte que também se sentem em perigo, ameaçadxs ante a extensão das tecnologias de controle… e é por isso que xs convidamos a continuar no caminho da liberdade, cada um em seus lugares e sob suas formas e possibilidades, mas que nos sintonizando ecoamos uma única revolta que se estenda até cobrir com chamas todos os cantos do império…
Por isso, convidamos você a participar nesta guerra, propondo uma ação simultânea em 28 de abril, esse dia será realizada uma concentração do lado de fora deste centro penitenciário com a intenção de apresentar as doações de livros para a biblioteca Xosé Tarrío González, enquanto nós no interior realizaremos uma atividade antiprisão para inaugurar o espaço…
Então, convidamos a todxs que tenham materiais e livros para trazê-los em 28 de abril deste ano de 2018, fora da Penitenciária Norte onde será feita a compilação de todos os livros e solicitar que ingressem todos em uma mesma doação.
Nossa luta diária é pela destruição de todas as formas de dominação e pela desmistificação da prisão, evidenciando que a prisão está em toda parte para atacá-la de diferentes frentes; por isso este é um convite aberto não só para aqueles que querem participar do evento no dia 28 de abril, mas todos aqueles que neste dia ou qualquer outro desejam estender a revolta e demonstrar sua raiva ou cansaço contra a máquina da dominação, seja organizando um evento, fazendo um pixo ou um pequeno ato de sabotagem, o que importa é estender as contradições e fazer eco da revolta que vá crescendo até a insurreição generalizada que irá destruir o poder centralizado… jugo comum que todxs carregamos nas costas.
Seguimos em guerra, até que todxs estejamos livres …
Com amor e força
Fernando Bárcenas
[1] Anarquista que morreu numa unidade de isolamento FIES (Arquivo de Internos de Seguimento Especial) em Corunha, Galícia, em 2005.
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