3 dias de discussões, exposições, oficinas e espetáculos no Tanneries, para descobrir a esmagada história partisan do Maio de 68.
Como não se deixou de perceber, estaremos em pleno aniversário de 50 anos do maio de 68. Por um tempo exitamos em nos colocar em greve de comemoração, aborrecidos pelas tentativas de reapropriação e de “lifting” liberal. Mas há, entretanto, um fio histórico que corre de maio de 68 às nossas lutas atuais e decidimos explorar esta história subterrânea, nos agarrar à ocasião para fazer eco às memórias vivas, proteiformes e subversivas do “espírito de maio”. Trata-se de pensar como aquilo ressoa hoje nas nossas cabeças, nossas vidas e nossos movimentos.
É surpreendente, e nos deixa atônitos, que tantos políticos, jornalistas e outros especialistas se espalhem em indecentes celebrações oficiais a propósito de um movimento marcado por sua hostilidade à autoridade. A maquinaria colocada em cena para tentar tornar inofensiva uma das mais poderosas revoltas dos últimos 50 anos é armada de grandes cordas. Aquela revolta foi reprimida, com muitas mortes e milhares de pessoas presas; depois ridicularizada e descrita como uma crise adolescente de uma geração estragada pelos 30 gloriosos; para, finalmente, ser em parte integrada e até considerada, nesses últimos anos, como um símbolo do “declínio moral” de nossa época pelos reacionários de todas as feições. O título mesmo de “Maio de 68” é simbólico e paradoxal, tanto que durante o mês de junho mais de 9 milhões de pessoas juntaram-se à maior greve geral selvagem que conheceu esse país. Circunscrever esses eventos no tempo e fixando-os num início e num final é uma tentativa de fechá-lo em suas possibilidades ainda abertas. É negar que as tensões que explodiram naquele momento vão além do maio de 68 e nos alcancem ainda hoje.
Para além da sublevação operária e estudantil, o que alimentou nosso espírito foi igualmente a “inversão de perspectiva”, devido à irrupção dos movimentos de liberação feminina, dos e das homossexuais, dos jovens, dos marginalizados mas também da palavra, dos espíritos, dos corpos e desejos. Essas perturbações mais íntimas, mas igualmente políticas, alimentaram as críticas e práticas subversivas contra a alienação ou a normalidade que fazem eco na nossa época, mais do que nunca.
Longe de criar um ícone, trata-se para nós de encontrar os traços, de pensar em conjunto as pistas abertas por esse “espírito de maio”. Como disse Kristin Ross, maio de 68 não pode ser considerado independentemente da memória e do esquecimento coletivos que o cercam. Essas tentativas de enviar aos museus nossas revoltas, trazem à luz a questão da transmissão. Como comunicar nossas experiências, escrever nossa própria história? Como propagar nossa fúria e repartir nossos imaginários? Qual estratégia para que os movimentos que atentam contra a ordem como “maio de 68” não sejam um acontecimento isolado, mas uma ideia profunda, que impregna desde a raiz às reflexões e práticas? Fortes como o que nos liga nesse momento, nós os convidamos a vir compartilhar essas questões e participar do Festival do livro e das culturas livres, em 4, 5 e 6 de maio de 2018, no espaço autogerido das Tanneries, em Dijon.
Por que hoje como ontem, nos une a energia de fazer dançar o velho mundo e suas palavras de ordem.
O coletivo de organização do festival do livro e das culturas livres.
Programa completo e infos: festivaldulivre.tanneries.org
agência de notícias anarquistas-ana
Seus cachos de seda
são borboletas douradas
brincando na brisa.
Humberto del Maestro
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!