Rebeldias: Pensamento e atualidade para um mundo livre, nº 3, Outono de 2018
Depois de vários meses desde a nossa última edição, estamos de volta. Nesta edição, concentramos o conteúdo em notas ligadas à organização para lidar com a desapropriação de nossas vidas. No nível regional, este ano assistimos à consolidação da nova onda neoliberal em todo o continente. Na região do Brasil Lula da Silva foi condenado a 12 anos de prisão por corrupção, um problema que pode ser interpretado como uma parte da direita daquele país realizando um bloqueio para que o ex-presidente não venha novamente postular as eleições deste ano, mas, no entanto, não evita as responsabilidades do líder do Partido dos Trabalhadores como um dos principais promotores da IIRSA (Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana) em nível sul-americano; mesmo assim, grande parte do setor empobrecido apoia a candidatura dificultada, demonstrando a baixa aderência às propostas vindas de baixo. Além disso, fazer vista grossa à corrupção instalada no aparelho do Estado brasileiro, tanto em tempos de PT como nos de Temer, é um erro terrível da esquerda local (o mesmo erro cometido com o governo corrupto de Maduro). A corrupção também abalou o Estado peruano, cujo chefe, o oligarca Pedro Pablo Kuczynski, teve que renunciar antes de seu congresso. PPK, que permanecerá como o presidente que perdou Fujimori diretamente responsável pelo desaparecimento de milhares de agricultores e ativistas sociais no Peru durante os anos de guerra contra o Sendero Luminoso, também permanecerá na memória coletiva como presidente PKK que hipocritamente chamava de corrupto a Maduro (que também é), que finalmente renunciou por essas mesmas razões.
Na região do Chile, vemos o início do segundo mandato do oligarca Piñera, que, parafraseando o início do governo de Bachelet, veio com a retroescavadeira reacionária para bloquear a alguns “progressos” feitos pela administração anterior, e que não é coincidência que o Tribunal constitucional deu a sua aprovação para a restituição do lucro como uma forma de administração para os condutores de universidades privadas, bem como a aplicação escandalosa da objeção de consciência na Lei do Aborto sob três fundamentos, o que resultou que em muitas cidades não há profissionais dispostos a realizar esse procedimento por razões morais, no caso de estupro, violentando mulheres que chegam aos hospitais nesses casos (exemplo disso é a cidade de Osorno). Por outro lado, o governo está obcecado com o controle e a repressão. Estamos em um período em que os novos policiais especializados são anunciados para perseguir combatentes e lutadores territoriais pertencentes aos povos originários, se propõe uma emenda à lei antiterrorismo que na prática irá expandir a fabricação de montagens e a higienização dos fluxos migratórios; essas são algumas das propostas que saem do chapéu das democracias do capital. O trânsito de pessoas faz parte da relação social produtiva que descaradamente enriquece a burguesia. A atuação da polícia com a correia um pouco mais solta resulta em inúmeras pessoas presas e feridas em cada manifestação. No campo do chamado desenvolvimento global, o TPP11 abre caminho para a consolidação de novas formas de dominação que, sob formas antigas, afetam o mesmo grupo explorado; nisto Trump vira a camisa e pede a incorporação ao instrumento. As economias em dificuldades e os interesses desenfreados pela hegemonia e a acumulação acrescentam novos confrontos em localidades no Oriente Médio, onde o número de mortos aumenta silenciosamente.
Antes de todos esses casos de corrupção e refluxo do capitalismo, uma série de questões é aberta. Quando cairá os peixes grandes, aqueles que foram enriquecidos durante anos às expensas das receitas públicas e do lobby privado? Qual será a saída para os diferentes povos latino-americanos em face desta repressão devastadora: mais uma vez populismo de esquerda, ou a organização social fora do Estado? Em um território, e ainda mais, em um continente cheio de conflitos e contradições – re-surgimento do fascismo – onde tanto a esquerda quanto a direita se mostraram iguais, acreditamos que a opção é mais que óbvia: organização para enfrentar a ameaça de nossas vidas. A rebelião implica uma rejeição da sujeição diária imposta. É urgente estimular as relações comunitárias e a prática da solidariedade. De certa forma, observamos que o nosso inimigo determinou o fim da sua existência devorando tudo o que ele pode até o seu último suspiro.
Comitê Editorial – Outono de 2018
> Você pode baixar a edição “Rebeldias N° 3, Outono de 2018”, aqui:
https://revistarebeldias.files.wordpress.com/2018/04/1rebeldias-nc2b03-otoc3b1o-2018.pdf
Tradução > Liberto
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Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!