Hoje [15 de maio] faz exatamente cinco anos que um bando armado de policiais irrompia em nossa casa às seis da madrugada, derrubando a porta e enchendo nossa casa de gritos, confusão e terror. Sem explicar-nos por quê até passadas muitas horas mantiveram separados a nós, os quatro que compartilhávamos a casa, e a uma amiga que estava casualmente de visita com a metralhadora na cabeça e de cara para a parede. Havia também duas meninas gêmeas de sete anos, filhas de uma de nós as quais não nos deixaram nem acalmar nem ver, e que mantiveram encerradas em seu quarto com Mossos [polícia catalã] que iam se revesando sem a presença de nenhum de seus adultos de confiança. Derrubaram tudo, bagunçaram tudo, nos mantiveram algemados, atemorizados pela brutalidade com que nos tiraram da cama, às seis ou sete horas, já não me recordo muito bem.
Separadamente, foram nos levando um a um, a diferentes delegacias da região, onde passamos a noite e, finalmente, ficou claro que nos acusavam de um delito de apologia do terrorismo e da violência e de injúrias à coroa. Poupo-os do caminho até que chegamos no dia 17 à Audiência Nacional, onde dormimos em seus infectos calabouços. Ali, as acusações iniciais, OH SURPRESA, haviam se convertido em “Organização terrorista anarquista”, “Bando armado”, “Doutrinamento” e outras tantas lindezas mais, de forma intelectual ou material, de tudo o que havia ocorrido naquele passado 2012, ano agitadíssimo, com Greve Geral incluída.
A promotoria pediu 42 anos de cárcere para cada um. O juiz Pedraz assinou a ordem de ingresso na prisão sem fiança.
Na sequência, ingresso na prisão de Soto del Real, em regime FIES e em celas de isolamento, desde onde, passado o tempo e de forma escalada, nos foram levando a diferentes prisões de segurança máxima. A mim coube Estremera.
Quatro meses depois tiveram que nos soltar em medida provisória, até que, dois anos mais tarde, arquivaram finalmente o caso por falta de evidências e consistência no relato policial.
Mas o dano já estava feito. E não só para nós, já haviam posto a etiqueta de terrorismo organizado ao anarquismo século XXI, já tinham preparado tudo para iniciar a ofensiva e criar o pânico e a insegurança que tão bons resultados lhes deu sempre para ter carta branca para legislar e pôr em prática suas malditas medidas excepcionais. Em seguida foram montando as operações [repressivas] Pandora e Piñata e a brutal onda de perseguição ideológica que desencadearam. Pouco depois aprovavam a Lei Mordaça.
E nós somos os terroristas?
Acaso há maior terrorismo que o monopólio da violência e a guerra silenciosa e cotidiana a que nos submetem?
Cinco anos mais tarde observo com raiva e tristeza que a situação não fez mais que piorar.
Mas, como diz a canção do Habeas Corpus, nos sobram a raiva e os sonhos.
Um membro do caso dos 5 anarquistas de BCN
Fonte: http://alasbarricadas.org/noticias/node/39991
Tradução > Sol de Abril
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Rogério Martins
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!