Entrevista: CR Moska fala sobre as origens do movimento anarcopunk em Salvador
por Eduardo Ribeiro | 06/06/2018
Entre começo de 2016 e final de 2017, iniciei uma série de entrevistas com o objetivo de contar a história do movimento anarcopunk no Brasil. Quando já havia gravado 17 conversas, notei que só estava conseguindo retorno de gente de São Paulo. No bolo de gravações, só havia duas conversas com anarcopunks do começo do movimento que não eram paulistas/paulistanos: o CR Moska e o João Matos, ambos de Salvador, Bahia. Daí, o que era pra ser a história oral do anarcopunk no Brasil virou um recorte sobre o anarcopunk em São Paulo, que, torço eu, em breve será publicado em quatro capítulos na VICE.
Mas os bate-papos com o Moska e o João foram ótimos. Os movimentos anarquista e punk de Salvador estão entre os mais interessantes do Brasil, já que é de lá que veio o jornal O Inimigo do Rei, tão importante quanto o carioca Libera… e o material gráfico do CCS paulistano para a formação libertária dos jovens anarquistas da década de 1980/começo dos 90 — os punks.
Resolvi transcrever e compartilhar as entrevistas dos dois, para não morrer com essas informações na gaveta — na verdade acabei usando uma ou outras aspas, sim, mas em momentos específicos de contextualização. A começar pela ideia que troquei com o Moska:
Como você começou a curtir rock?
CR Moska: O rock, na década de 1980, tinha uma visão muito crítica do mundo, né. Ele vem com muita influência do punk, e quase todas as bandas daquele período faziam música com um conteúdo mais politizado. Talvez por isso o rock tenha me tocado mais do que outros estilos naquele momento. Porque a MPB fazia mais protesto na década de 70. Nos anos 80, os artistas da MPB já estavam se voltando para outras temáticas. E o adolescente nos anos 80 teve uma caída pra um tipo de arte mais crítica, com uma visão mais política do mundo naquele momento em que a sociedade estava muito conturbada.
E o seu primeiro contato com o anarcopunk?
Em 89, se não me engano, onde eu moro, na periferia de Salvador, Bahia, nós tínhamos um coletivo que se chamava FARPA. Aí um cara que era anarcopunk começou a fazer parte desse grupo também. Éramos uma galera que já se reunia pra discutir questões políticas, pensar em algumas ações. Nós trocávamos livros, discos. Era um grupo de jovens periféricos com poucos recursos que se juntaram para compartilhar informações. Começamos a produzir zines, fazer eventos. Desse grupo também surgiram bandas. Não era um grupo punk, era mais anarquista, mas as pessoas já mostravam uma inclinação ao movimento punk nessa época.
Qual foi o primeiro grupo anarcopunk de Salvador?
O Movimento Punk Libertário de Salvador, que depois mudou de nome para Movimento Anarco-Punk surgiu só em julho de 90. Até ali o primeiro movimento a contar com integrantes anarcopunks era o FARPA, fundado em de agosto de 89. O anarcopunk surgiu como uma forma de romper com o movimento punk, porque ele era muito problemático. Tinha aquela porção de gangues, brigas e futilidades, desentendimentos por conta de questões que não vinham ao caso, então pra se distanciar e sair dessa problemática toda surge o anarcopunk como um movimento à parte, uma forma mesmo de romper com isso.
>> Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui:
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