Violência e mulheres são temas chaves nas rimas da rapeira guatemalteca Rebeca Lane, que se encontra na Europa apresentando seu último disco, ‘Obsidiana‘. Após sua passagem pela Alemanha e Áustria, este mês visita a Espanha.
por Judit Alonso | 04/06/2018
Rebeca Lane começou a cantar em 2012 e já lançou cinco discos: Canto, Poesía Venenosa, Dulce Muerte, Alma Mestiza e Obsidiana. Não obstante, sua carreira artística iniciou anteriormente. “Foi um passo natural, eu já fazia poesia que começou a ter mais musicalidade, como a do hip hop, logo comecei a rapear”, explicou em entrevista com Deutsche Welle por causa de sua turnê europeia que a levou por diversos países, entre eles a Alemanha.
Se trata da quarta visita ao país germano. “Desde a primeira vez que vim já havia bastante gente que conhecia minha música nos círculos feministas e queers”. A primeira vez foi em 2016. Em 2017 a cantora visitou a Alemanha em duas ocasiões e este ano esteve aqui de novo. Ainda que já tenha subido a vários cenários de cidades como Berlim e Frankfurt, em cada nova viagem se incorporam novas cidades ao roteiro alemão. Um fato que está contribuindo para isso é que “uma gravadora, Flofish, já lançou dois discos meus na Alemanha”, destacou.
Raízes que marcam letras
Lane realizou estudos de sociologia na Universidade de San Carlos da Guatemala, durante os quais realizou pesquisas sobre culturas urbanas, entre elas o hip hop. “As ciências sociais também são para transformar a realidade”, considerou. Os estudos, assim como sua ascendência indígena por parte de mãe, marcaram sua carreira musical. “O fato de tomar consciência de ter ascendência indígena, é um caminho que veio através da música”, explicou, recordando que se trata de um processo de entender “nossa herança cultural” e de “reconstruir as raízes, de voltar a olhar para trás”. “No caso guatemalteco se nega esta ascendência que nomeia aos antepassados europeus mas não aos anteriores”, lamentou, frisando que “na família se perdeu a linguagem”. E é que “o fato de ser indígena implica que tuas condições de vida são inferiores as do resto”.
A situação dos povos indígenas na Guatemala tem sido criticada a nível internacional. Só faz um par de semanas, a relatora especial das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, qualificou de “fracasso do Estado da Guatemala” a persistente e histórica situação de discriminação contra a população indígena, descendente da cultura maia. “Há políticas estatais racistas criminalizando os povos indígenas”, agregou a rapeira, recordando o assassinato de vários líderes comunitários durante o mês de maio passado devido a suas “resistências a megaprojetos”.
O descontentamento com a situação política do país que, recentemente, viveu uma onda de manifestações pedindo a demissão de seu presidente, Jimmy Morales, também fica patente nas rimas da artista. Na canção ‘Reina del Caos‘, que trata sobre sua experiência como feminista e anarquista, denuncia um país onde se criminaliza a mobilização social. “Se tem feito muitas marchas para que se vá. Jimmy Morales só tinha três meses no poder quando saíram os casos de corrupção”, recordou.
Rimas com compromisso
Lane crítica que para fazer arte e ter espaços de promoção na Guatemala não se deve falar sobre a realidade política e a memória histórica. Um aspecto que se reflete em ‘Desaparecidos‘, uma canção que dedica a sua tia, a guerrilheira e poeta Rebeca Eunice Vargas Braghiroli, que se encontra entre as 45.000 pessoas registradas como desaparecidas pelo exército guatemalteco no final da Guerra Civil em 1981. Na América Central a cultura hip hop relata as realidades das sociedades”, considerou.
O machismo, a discriminação contra a mulher e a violência são uma temática recorrente em sua discografia; se reflete em temas como ‘Este cuerpo es mío‘ ou ‘Ni encerradas ni con miedo‘, que recolhem vivências pessoais: durante três anos a rapper manteve uma relação com um homem que a maltratou física e psicologicamente. “Marcou minha vida como mulher”, recordou ao falar de dita experiência.
Não obstante, “o hip hop, como uma ferramenta de expressão de emoções, me permitiu empoderar-me da palavra e criar empatia com outras mulheres”, disse. “As canções tiveram seu poder, não pensei no efeito que iria ter”, assegurou. Por este motivo, agora “já sou mais consciente do que escrevo”. Assim, em uma das canções de seu último disco, ‘Siempre viva‘, narra os “tipos de violência que, através das redes sociais, se exerce contra as mulheres. É um tipo de violência real, que te dá medo”, agregou, lamentando que páginas web feministas tenham sido obrigadas a fechar após ameaças de agressão ou violação.
Assim mesmo, suas reivindicações ultrapassam fronteiras com a realização de oficinas de empoderamento para mulheres e colaborações musicais com outras artistas da região. Entre elas destaca o trabalho com a argentina Vaioflow, com a qual tem levado a cabo o tema ‘Velas y Balas‘. Centrada na repressão, a canção documenta dois casos que sacudiram a opinião pública no ano passado em ambos países: a tragédia do Hogar Seguro Virgen da Asunción [orfanato] da Guatemala, no qual morreram 40 jovens queimadas ao provocar um incêndio para protestar contra as agressões físicas e sexuais que sofriam, e a morte de Santiago Maldonado após a repressão às comunidades mapuches na Argentina.
Fonte: http://www.dw.com/es/rebeca-lane-rap-anarquista-y-feminista-desde-guatemala/a-44071788
Tradução > Sol de Abril
>> Clipes
Velas y Balas: https://www.youtube.com/watch?v=xDVEzNVhxv4
Bandera Negra: https://www.youtube.com/watch?v=4HbsZhzRBfg
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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2016/04/16/mexico-o-hip-hop-como-luta-libertaria/
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