By Anonymous Contributor | 03/07/2018
A seguir, relatório e análise preocupante de alguém que esteve em Portland no dia 30 de junho, durante os violentos confrontos que ocorreram entre membros do grupo de extrema-direita Patriot Prayer e manifestantes antifascistas.
Quando chegamos lá, eram quase quatro da tarde com grandes grupos dos dois lados. É muito difícil estimar números, mas parecia que havia cerca de 150 no lado antifascista e 60 no lado fascista. A manifestação começou às 4 e eles estavam berrando e gritando com a gente enquanto faziam seus discursos.
Todo o parque foi cercado e policiais com equipamentos anti-manifestação estavam atrás das cercas com armas. Havia também vários grupos de policiais no parque onde o nosso lado estava. Eles continuaram entrando no grupo por trás e empurrando as pessoas para nos intimidar. Esses policiais não estavam em trajes de choque e também tinham alguns policiais “médicos” entre eles. Definitivamente havia uma presença policial mais pesada do que em comícios e eventos passados. Não aconteceu muita coisa entre os grupos por mais ou menos duas horas, enquanto os discursos continuavam e, de vez em quando, ouvíamos gritos repugnantes de “USA!” vindos do grupo.
Uma ou duas vezes, um ônibus escolar apareceu levando mais pessoas para o lado do Patriot Prayer¹. Por volta das 6 da tarde, eles começaram a marchar. Quando saíram da rua pela primeira vez, parecia que estavam de costas para nós e começariam a marchar nessa direção. Mas pouco antes de começarem a se mover, eles se viraram para nós e, em vez disso, marcharam em nossa direção. Nós os interceptamos no canto da praça e as pessoas jogaram ovos, lixo e acenderam fogos de artifício para eles. Houve fortes estrondos que dispararam e outros fogos de artifício surgiram no chão.
Os policiais começaram a disparar balas de borracha e gás para nós e muitas pessoas foram atingidas. Alguns manifestantes sofreram golpes na cabeça com esses projéteis e ficaram gravemente feridos. Pelo menos uma pessoa foi levada diretamente para o hospital após este ataque da polícia. Não houve aviso dos policiais de que eles estavam prestes a disparar, eles simplesmente começaram a nos atacar. Havia balas de pimenta atiradas na multidão pelos policiais e fomos empurrados para trás quando a fumaça começou a encher o ar. O Patriot Prayer virou a esquina e nesse momento tínhamos um bloco nos separando. A marcha foi para o norte a alguns quarteirões e nós voltamos para a rua que eles estavam passando e nos aproximamos deles. Houveram várias pancadas e mais fogos de artifício, não consegui ver de que lado.
Quando o clima esquentou e as lutas violentas começaram, a cena era incrivelmente caótica e as pessoas sofriam ferimentos graves imediatamente. Infelizmente algumas pessoas do nosso lado tinham decidido ir à orla na esperança de confrontos na fonte, mas isso fez com que ficássemos em minoria e mais vulneráveis e ficamos indefesos quando as coisas ficaram realmente extremas. Os fascistas tinham escudos e mastros de bandeira e espancavam e feriam muitas pessoas com suas armas. As lutas duraram cerca de dez minutos e terminaram quando mais pessoas se machucaram. Havia sangue por toda a calçada e pessoas tinham seus rostos esmagados e estavam incapazes de ficar em pé. As pessoas tentavam se reagrupar e também continuavam a seguir o ritmo, à medida que mais e mais policiais começaram a arregaçar as mangas atrás de nós e vieram da rua onde as brigas haviam acabado de acontecer.
Nossos números diminuíram conforme as pessoas saíam para atendimento médico e apoiar os feridos. Nós continuamos indo para o norte na rua e tínhamos um bloco entre nós e a marcha como antes. Nós estávamos em um ritmo muito rápido neste momento, tínhamos policiais de todos os lados e os fascistas à nossa direita. As pessoas começaram a fazer barricadas nas ruas laterais que o Patriot Prayer tentaria avançar. Foi um raciocínio rápido e um esforço combinado entre as pessoas que levavam latas de lixo e materiais de construção para construir rapidamente. O grupo fez barricadas e avançou rapidamente enquanto a marcha continuava para o norte. Havia vários carros de polícia que desciam a rua atrás de nós e muitos policiais começaram a surgir de todos os lados.
Entramos em uma rua lateral para confrontar a marcha uma segunda vez e nos deparamos com uma parede de policiais protegendo-os. Havia pedras e outros projéteis lançados visando a marcha e também os policiais. A essa altura, a marcha já estava a uma distância razoável e não parecia haver uma maneira de chegar perto deles. Houveram muitos disparos ensurdecedores presumivelmente pelos policiais. E mais caos se seguiu à medida que nossos números continuava a diminuir, conforme as pessoas se separavam e eram forçadas a sair. O número de policiais continuava crescendo enquanto eles marchavam em nossa direção. Eles entraram e oficialmente se pronunciaram e declararam que estaríamos sujeitos a prisão se continuássemos lá.
Decidimos que era uma decisão segura sair e voltamos para a praça para ver se a manifestação continuava ou não. Quando chegamos à praça, os fascistas estavam seguros atrás de uma parede de milicos e a polícia anunciou que todos os três parques estavam sendo fechados imediatamente. Ainda havia um grande número de antifascistas nos parques e nós saímos devagar enquanto policiais entravam.
Os fascistas acreditam que isso foi uma vitória total para eles. Eles nos deixaram mais feridos do que os deixamos. Eles eram maiores e tinham músculos mais fortes do que nós. Mas não vamos contar nossas vitórias e perdas puramente de forma quantitativa. Quando os fascistas atacaram pela primeira vez, muitos antifascistas correram deles. Este não foi um movimento covarde, embora os fascistas tenham feito muitos comentários nas mídias sociais dizendo isso. Sabemos que eles poderiam ter nos matado, atirado em nós e nos esfaqueado. Não há como avaliar exatamente que ameaça enfrentamos, e prefiro ser chamado de covarde pelos fascistas do que perder minha vida.
Ainda assim, quando vi meus amigos sendo espancados nas ruas, cercados por brutamontes chutando seus corpos e batendo em suas cabeças, corri de volta para o meio, a todo vapor. Sozinho, eu não teria sido capaz de empurrá-los de volta. Mas outros correram de volta para a multidão comigo, e com raiva e ferozes fomos capazes de resgatar nossos amigos feridos e levá-los para a segurança.
Para os fascistas, isso foi uma vitória porque eles tinham mais força que nós. Mas não é nem o meu objetivo, nem o meu desejo ser uma massa ambulante e falante de violência masculina. Os fascistas tinham mais força porque tudo o que sabem é usar violência, força e uma cultura misógina que valoriza a pura força sobre qualquer outra coisa. Nada disso quer dizer que não devemos usar violência contra eles. É claro que devemos responder à violência deles com violência. Não conheço nenhum antifascista que não queira se defender. Então, não pudemos vencê-los por força, mas podemos ser mais espertos.
Somos mais ágeis, somos mais inteligentes, somos mais corajosos. Nós nos amamos com uma força que os fascistas nunca puderam entender. Temos tantas ferramentas à nossa disposição. Estávamos mal equipados no sábado para nos defendermos da forma como gostaríamos. Nós nunca queremos ver nossos amigos hospitalizados, quebrados, contundidos. Fizemos o que podíamos com as ferramentas que trouxemos conosco. Vamos aprender com tudo isso, que precisamos de mais ferramentas, físicas e mentais. Todos nós precisamos considerar o que poderíamos ter feito a mais e o que precisaríamos para fazer isso. Tudo o que eles sabem é como dar um soco, mas nós somos criativos – e não apenas nas ruas. Lembre-se que as ruas não é o único lugar em que lutamos contra o fascismo. Nós não temos que seguir as regras. E nossa criatividade, força interna e rebeldia levarão à sua destruição.
Fonte: https://itsgoingdown.org/against-the-fascists-portland-june-30/
[1] Patriot Prayer é um grupo de extrema-direita de Portland, são como aquelas pessoas que fazem protestos pedindo intervenção militar, só que mais perigosos e numerosos.
Tradução > Gabriel Assis
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!