Respondendo ao chamado pelo Mês pela terra e contra o capital, aconteceu em junho, na Okupa Viúva Negra, em Novo Hamburgo (RS), uma atividade onde compartilhamos alguns exemplos de luta pela terra e contra o capital na região.
Os exemplos foram focados sobretudo em relatos das lutas dos povos originários cuja relação com a terra se opõe diretamente aos projetos desenvolvimentistas que buscam aniquilar qualquer outra forma de vida ou relação com a terra que não seja a da propriedade e/ou da produção.
Mencionou-se às retomadas dos Guarani Mbyá que, há um par de semana atrás, retomaram, de forma autônoma, uma das suas terras ancestrais conhecida como “Fazenda do Arado Velho”, situada no bairro Belém Velho, na beira do lago Guaíba, onde chegaram de barco e montaram seu acampamento. Também a retomada Guarani Mbyá de Makiné que existe há um ano. Como qualquer confrontação direta com os poderosos, donos do capital, do Estado e da terra é propensa à repressão, os Guarani sofreram ameaças por parte de seguranças privados do local que estava reservado à construção de condomínios de luxo, projeto que está sendo barrado pela retomada dos Guarani! Também mencionamos o caso das retomadas autônomas Kaingang pela região do Alto Uruguai, região, hoje, cercada pelo agronegócio. Em Vicente Dutra, em uma terra retomada que aconteceu em julho de 2016, os Kaingang plantaram 4.000 pés de araucárias buscando fortalecer sua autonomia.
Lembramos também da legitimidade do uso da violência, seja para defender a terra dos exploradores, seja para atacar os inimigos, e vários lutadores encontram-se hoje nas cadeias por lutar contra o agronegócio. Três Kaingang seguem presos desde 2016 em Sananduva sendo acusados pela FARSUL de incêndio e formação de quadrilha. Seja ou não uma montagem por parte dos grandes proprietários rurais ligados com a polícia, reafirmamos nossa solidariedade com os presos e perseguidos.
Além dos exemplos locais, falamos também da situação do Machi Celestino Cordova, Mapuche preso na penitenciária de Temuco (Chile) há 5 anos, cumprindo uma pena de 18 anos. Além de evidenciar a perseguição dos Mapuche, exemplo claro da continuidade do Estado etnocida chileno, ressaltamos sua luta radicalmente anti-estatal como exemplo feroz de luta pela terra e contra o capital. Conscientes das diferenças históricas entre as diversas regiões da América Latina, sabemos que a luta pela terra e contra o capital se compõe de diversas expressões e estratégias inscritas em contextos diferentes, e a troca de experiências só poderá nutrir ainda mais nossas lutas.
Como anarquistas, nos fraternizamos com essas lutas sem procurar que elas cumpram com nossas expectativas antiespecistas ou antipatriarcais, para dar uns exemplos. Não procuramos neles, novos “militantes” anarquistas nem queremos nos apropriar de lutas que não nos pertencem, porém manifestamos, e sempre o faremos, nossa solidariedade mais que em palavras, a quem está disposto a entregar sua vida numa luta contra a hegemonia do capital e a onipresença do Estado.
A luta pela terra e contra o capital não se limita aos exemplos que mencionamos acima. As portas do ataque contra os inimigos da terra, aqui e agora, estão sempre abertas para a imaginação dos rebeldes. São infinitas as formas de lutar, desde retomadas de terra, a ocupações de Zonas a Defender, à destruição material de símbolos e expressões da devastação da terra. Enquanto tenhamos claro que a luta que levamos a cabo se fortalece na expansão da nossa solidariedade com xs que lutam contra inimigxs comuns sabendo respeitar nossas próprias diferenças, seguiremos abrindo os caminhos da luta multiforme que potencializa a destruição das relações de poder, do capital e do Estado.
Para terminar, mandamos um salve a todxs xs que, enfrentando as adversidades e as consequências de uma vida em combate, seguem dando guerra ao Estado e ao capital, lutando por um mundo em que a terra não seja vista nem como propriedade, nem como simples meio de produção.
Celestino Cordova na rua já!
Liberdade a Leonir Franco, preso em Sananduva por lutar pela terra!
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agência de notícias anarquistas-ana
Arco-íris no céu
Iluminando de cores
Minha caminhada.
Danielle Pereira D. de Oliveira – 9 anos
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!