por Matteo Moca
Se a família e a escola sempre foram consideradas como os ambientes onde, de modo mais natural e completo, as crianças podem receber uma educação e crescer positivamente, nos últimos tempos alguns endereços pedagógicos parecem tender para outra direção, aquela que vê na educação difundida em todos os espaços, sobretudo naqueles da cidade, uma ocasião única de contato e crescimento. Trata-se daquilo que geralmente vem sendo chamado de sistema formativo integrado e do qual, mesmo não lhe dando esse nome, fala também Gianni Rodari em sua Escola da fantasia, quando escreve que “aquilo que as crianças aprendem na escola representa a centésima parte daquilo que aprendem com seus pais, parentes, amigos, no meio físico e social em que crescem, nas ruas, pela televisão, pelos jogos, pelos objetos, em tudo e com todos” e insiste no necessário abandono dos esquemas pré-constituídos porque “uma criança precisaria aceitá-lo como um fato novo, com o qual o mundo recomeça a cada vez do começo”.
Colin Ward, nos ensaios que compõem o novo volume editado pela Eleuthera, L’educazione incidentale (A educação incidental), prossegue com grande força teórica e prática nessa direção, analisando como os outros espaços guardam lugares de relações vitais e de experimentações únicas, uma vez que, como escreve Francesco Codello em sua rica e aprofundada Introdução, “para Ward cada ângulo da cidade é uma aula escolar, cada ocasião é propícia a estimular a autonomia e a participação dirigida para a vida social”. Este último aspecto, relativo à educação como participação na vida social, torna-se fundamental: em um livro muito precioso, Brainframes. Mente, tecnologia, mercado, editado pela Baskerville, o sociólogo Dennis De Kerckhove, escreve sobre como o crescimento e a educação arriscam-se com a participação na vida da cidade, porque esta “requer um acordo entre os seus habitantes sobre os tempos, sobre os valores, sobre as normas e o comportamento público”, construindo sozinhos assim uma “república-cidade” baseada na sintonia e sociabilidade.
L’educazione incidentale coloca junto, portanto, alguns dos momentos de reflexão mais importantes de Ward sobre a educação; cada parte do livro é enriquecida com um precioso apêndice de Codello que permite situar o testo no interior da obra de Ward, dá a oportunidade de aprofundar os argumentos tratados e refletir amargamente sobre a situação atual. O adjetivo “incidental” especifica o caráter mais profundo desses ensaios – uma ideia devedora daquela formulada por Paul Goodman, outro grande educador, sociólogo e escritor, dentre os maiores e mais honestos conhecedores da Gioventù assurda (Juventude absurda) – que veem Ward elevar a perspectiva comum que reserva à escola e à família os únicos lugares destinados à educação: “A escola tornou-se um dos instrumentos com os quais o adolescente vem excluído das responsabilidades e atividades reais, tanto da vida quanto da sociedade” escreve Ward. Os lugares onde são possíveis, então, aprender e crescer em comunidade são, segundo as palavras da introdução de Codello, “as ruas da cidade, os parques e os bosques do campo, os espaços destinados ao jogo (mais ou menos estruturado), os ônibus escolares e os banheiros das escolas, as lojas e as vendas artesanais, [que] não somente oferecem oportunidades extraordinárias para uma educação informal, mas são lugares vivos que se revelam vitais para a aprendizagem”.
As contribuições recolhidas são, como se perceberá, variadas e tocam muitas problemáticas ligadas ao mundo da educação além de muitos lugares da cidade. É suficiente também somente percorrer os títulos de alguns desses ensaios para notar a multiplicidade de questões, por exemplo Un programma scolastico piú rurale, (Um programa escolar mais rural), onde é exposta uma interrogação inevitável: “a escola é um tipo de aprendizagem obrigatório para a vida, mas para qual tipo de vida?”. La libertà della strada (A liberdade da rua), na qual, ao invés, Ward denuncia uma sociedade baseada na mania da segurança, no medo do diferente e do desconhecido (no Apêndice, Codello confronta esses arrazoados com as proibições atuais dos meninos voltarem para casa sozinhos depois da escola, pondo luz em uma contínua privação de autonomia) ou La città come risorsa (A cidade como recurso), ensaio no qual são encerrados muitos dos motivos recorrentes da visão da cidade de Ward, como exploração dos lugares urbanos, a sociabilidade e os espaços de experiência democrática. Um dos textos é dedicado, inclusive, ao ônibus escolar como lugar de cultura, analisando o tempo que as crianças passam no veículo para alcançar a escola, importante porque se trata de um momento onde a vigilância dos adultos está ausente, e, portanto, podem surgir de maneira espontânea questões e atitudes que de um lado replicam aquelas que veem na casa de seus pais e por outro, ao invés, vivem uma naturalidade e originalidade, em outras situações difícil de ocorrer.
Em uma época dominada pelos mecanismos inflados e que rangem pela unificação do pensamento e do individualismo desenfreado, o pensamento anarquista de Colin Ward brilha como uma estrela isolada e necessária: não se trata de evocar momentos de manifestações agressivas ou protestos violentos, não é isso o anarquismo para Ward (e a prova é o essencial e indispensável L’anarchia. Un approccio essenziale (A anarquia. Uma abordagem essencial), sempre editada pela Eleuthera), mas provar e refundar o próprio pensamento sobre ideais libertários, igualitários e de solidariedade, que somente podem reencontrar a sua natureza mais íntima em um ideal generoso e utopista, com a firme e inequivocável convicção que, como escrevia também don Milani, “sair por si próprio é egoismo, sair todos juntos é a política”. O cenário no qual o homem deve reencontrar o seu movimento é, para Ward, aquele da cidade, com a habitação de todos os seus espaços e o empurrão para a construção de uma comunidade honesta.
Colin Ward
L’educazione incidentale
Eleuthera
256 pg, 17 euros
Tradução > Carlo Romani
Fonte: https://www.alfabeta2.it/2018/06/24/colin-ward-manifesto-per-uneducazione-felicemente-anarchica/
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Sabiá-da-mata
No caminho da escola
Alegra o meu dia.
Emerson Dupcoski Barbosa – 14 anos
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!
Um puta exemplo! E que se foda o Estado espanhol e do mundo todo!
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