• O informe que põe em dúvida o relato oficial.
• O perito Enrique Prueger disse que o estudo que realizou, sem a aprovação da família, contradiz o parecer da autopsia e concluiu que Santiago “foi plantado” e que não pode ter ficado submergido 53 dias.
Por Adriana Meyer | 26/07/2018
Quando apareceu o corpo de Santiago Maldonado, seu irmão Sergio disse que o resultado da autopsia, que determinou que morreu por afogamento e hipotermia, não encerrava o caso mas que abria mais perguntas que respostas. A Justiça em primeira e segunda instância rechaçou os pedidos da advogada da família, Verónica Heredia, para que se iniciassem uma investigação com especialistas independentes de todos os poderes do Estado, e assim esta reivindicação chegou à Corte Suprema. Dentro dos argumentos propostos pela advogada estava a necessidade de ampliar alguns pontos da perícia geral da descoberta do corpo, porque a autopsia não determinou o modo que morreu o tatuador anarquista, quando sucedeu, nem em que circunstâncias. Aquele parecer, assinado por unanimidade por todos os peritos das partes, havia estabelecido que o corpo esteve no rio Chubut entre 53 e 73 dias, e que não havia sinais de que tivesse sido movido. No entanto, um estudo elaborado pelo perito criminalístico Enrique Prueger põe em questão tais conclusões e volta a abrir a porta à hipótese de que tenha sido plantado.
“Os próprios estudos verificatórios da autopsia do corpo de Santiago Maldonado põe por terra os resultados do parecer final”, expressou Prueger no PáginaI12. “O informe da bióloga é ignorado, descreve que há pólen nas calças, e que dito pólen desaparece em tecidos com mais de 30 dias na água”, acrescentou. Por seu lado, Heredia disse que o informe de Prueger não foi pedido pela família mas enfatizou que “os resultados que difundiu um portal regional estão em linha com as perguntas que formulamos ao juiz no expediente sobre a autopsia, porque não entendíamos por que chegavam a essas conclusões”. Gustavo Lleral rechaçou responder-lhes e por isso denunciou ante o Máximo Tribunal que o magistrado lhe impede propor aos peritos que fizeram a autopsia.
O instituto que Prueger dirige em Neuquén, que também intervém no caso Rafael Nahuel, emitiu o informe assim que fez um experimento com um pedaço de carne, e detectou “dois erros” no informe da autopsia que 28 profissionais assinaram em 24 de novembro. O perito afirmou que Maldonado não esteve 78 dias submergido onde o encontraram, que foi “plantado por alguém desde umas horas antes a uns dez dias prévios a sua aparição”, e abriu duas possibilidades, que qualificou de terríveis e sinistras: “Santiago morreu afogado e seu corpo foi escondido em algum lugar antes de ser jogado ao rio para que o descobrissem, ou foi preso, escondido – foi golpeado talvez para esperar que seus golpes desaparecessem – e em seguida afogado e colocado nesse lugar”.
A advogada Heredia indicou que “é um trabalho por sua conta, mas as conclusões que transcenderam estão em sintonia com nossas dúvidas sobre a autopsia: as condições e o lugar que se encontra o corpo de Santiago, uma parte do rio que nessa época tinha trinta centímetros de água, passaram por ali tantas vezes nos rastreamentos, por que os mesmos mergulhadores que passaram sete vezes por ali em 17 de outubro se deparam com o corpo e não dão nenhuma explicação sobre por quê não o encontraram antes, e como chegamos ao 1º de agosto com toda a violência empregada pela Gendarmeria [polícia nacional]”.
Leticia Povilauskas, licenciada em Geologia e Palinologia, analisou as roupas de Maldonado e sua relação com o entorno vegetal do rio Chubut. Segundo consta no informe da autopsia, se encontraram grãos de pólen pertencentes a Cupressaseae, coníferas de zonas florestais da Patagônia. Povilauskas concluiu como “muito importante” que “sob nenhum ponto de vista os grãos de pólen encontrados podem permanecer aderidos às roupas citadas, submergidas no lugar do fato por um período de tempo prolongado, tendo em conta a mínima velocidade que possa ter a corrente de fluxo no rio, a energia presente no meio aquático e a quantidade de oxigênio removido no leito. Estas condições fazem com que o pólen se desprenda facilmente das roupas”.
O outro item questionado se refere às tabelas que se utilizam, segundo o critério de Prueger, para relacionar a temperatura da água com a permanência do corpo no meio aquoso e o fenômeno cadavérico que se produz. “Não se tomou a temperatura média da água no período entre o que desaparece e aparece Maldonado; os peritos utilizaram os valores mais baixos (3.2° e 3.9°) devendo ter utilizado o valor médio, que é de 6,27°, de acordo com os registros oficiais. Isto modifica a interpretação das tabelas utilizadas (REH e Madea), que tivesse jogado um cadáver com cabelos e epidermes desprendidos, unhas soltas, pele macerada e inchaço, entre os dias 10 a 16”, descreveu.
Por último, assinalou que introduziram “um quilograma de carne na água para verificar a degradação semana a semana, com peso e fotografias, pelo acionar da fauna ictícola e de rapina que, segundo a autopsia, há nesse lugar. Em 40 dias, se reduziu quase à metade, produto de peixes depredadores e vermes”. Se bem o corpo de Santiago apresentava sinais de haver sido mordido, são insignificantes comparados com a perda de massa que apresentam as fotos do experimento. “Nas ciências fáticas não existem estudos complementares mas verificatórios, e esses estudos neste caso jogam por terra as conclusões do parecer”, disse claramente.
Para a família a autopsia não esteve mal feita, mas tem “buracos negros” e incógnitas. No mesmo sentido impugnaram a peritagem do DNI [documento de identificação] de Santiago porque “não estão fazendo nas mesmas condições em que se encontrou o corpo”.PáginaI12 consultou a um dos especialistas que assinou a autopsia, que avaliou que Prueger manejou informação incorreta, por exemplo sobre a temperatura da água “que se tomou dia a dia”, e que usou parâmetros que não são os que teve Maldonado. A fonte científica reiterou que “não há argumentos forenses que indiquem que o cadáver esteve em outro lugar”, mas agregou que “tampouco diz que não tenha estado”. Essa ambiguidade é a que busca dissipar o pedido da família. Assim mesmo, este perito ponderou a seriedade dos estudos biológicos sobre o pólen. E coincidiu com a importância de que a autopsia não conclui o caso, mas pôs em mãos de uma “elucidação criminalística” o resultado final.
Fonte: https://www.pagina12.com.ar/130832-el-informe-que-pone-en-duda-el-relato-oficial
Tradução > Sol de Abril
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