É terrorismo: O pretexto estatal para suprimir iniciativas contra-hegemônicas

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por Mirna Wabi-Sabi

Os esforços do Facebook de detectar e erradicar “comportamentos não autênticos coordenados” de Russos são um pretexto para suprimir o ativismo político e as iniciativas contra-hegemônicas. A revista americana qual eu edito é as vezes coordenada, mas garanto que é sempre autêntica. No início de agosto de 2018, nós do Gods and Radicals (godsandradicals.org) tentamos impulsionar um artigo sobre mudança climática¹ no Facebook e recebemos esta mensagem:

Ação não autorizada- seu impulsionamento não foi aprovado porque sua página não está autorizada a fazer postagens de natureza política e temas de importância Nacional

Pesquisamos o que o processo de autorização era e não consideramos levar adiante quando descobrimos que:

A autorização demanda o nome completo do Admin da página, seu passaporte ou identidade, seu endereço de residência, e número de registro social.

Não a informação da organização, mas do indivíduo responsável.

Vamos começar esclarecendo por que estamos pagando pra impulsionar postagens no Facebook:

O Facebook já determina as postagens que você vê e as que você não vê, tanto de amigos quanto de páginas. As páginas em particular são muito manipuladas. Por exemplo, Gods & Radicals tem 10 mil seguidores, mas muitas vezes nossas postagens são vistas apenas por 500 a 1000 pessoas.

A única maneira que o Facebook permite que um post seja visto por mais seguidores é se você pagar. É cerca de 1 dólar por 100 pessoas“. – Rhyd Wildermuth, editor-gerente da G&R.

Independentemente de quem acha que não devemos pagar por impulsionamentos ou usar o Facebook como uma plataforma em geral, precisamos discutir a significância de Governos e Corporações terem esse tipo de controle sobre a disseminação de informações e ideias, e das informações pessoais e localização das pessoas que as espalham.

O Departamento de Segurança Interna (The Department of Homeland Security/DHS) “foi fundado há 15 anos para evitar outro 11 de setembro, mas hoje acredito que o próximo grande ataque é mais provável de nos atingir on-line do que em um avião“. – Kirstjen Nielsen (Secretária de Segurança Interna dos Estados Unidos).

Esta parceria entre FB e DHS não é surpreendente, mas é alarmante. Significa dar carte blanche para solicitar e armazenar nomes, locais / endereços IP e fotos de quem eles quiserem, e usar essa informação quem sabe como. Tratar o ativismo político como se fosse uma atividade terrorista é intimidação deliberada das autoridades contra ativistas, e ao mesmo tempo fabrica apoio público à políticas fascistas. Quando o Estado define o que é “terrorismo”, ele não apenas faz isso para justificar ações inaceitáveis (violência militar, censura, etc…), mas faz isso para garantir que tal rótulo não seja usado contra eles².

Os dois editores da G&R não residem atualmente nos EUA e não estamos interessados em divulgar nossos locais. Isso significa que o que escrevemos e compartilhamos é “intrometer-se”? Os EUA financiaram uma ditadura militar no Brasil e controlam essencialmente todos os aspectos da nossa economia e do nosso processo eleitoral. Mas nós não estamos autorizados a impulsionar um artigo sobre como banir canudos de plástico não reverte a mudança climática ou até mesmo reduz significativamente a quantidade de plástico no oceano… (Preciso afirmar que os oceanos e a mudança climática não são questões importantes apenas no campo político dos EUA?)

Essa nova política não afeta apenas estrangeiros ou pessoas que estão fora dos EUA, afeta todos e todas em todos os lugares. Se você estiver em um endereço IP dos EUA, mas tiver seu idioma definido em Russo, ou se você for um americano que fala inglês tentando aumentar o número de participantes em uma reunião, isso também se aplicará a você. Eric O. Scott, um escritor pagão e organizador trabalhista, não conseguiu divulgar uma reunião para os Socialistas Democratas da América (Democratic Socialists of America) em Columbia, Missouri. Ele disse que, apesar de já ser uma figura pública na política, com privilégios de classe, gênero e raça, ele ainda preferiu não concluir o processo de autorização:

É fácil imaginar um cenário em que um estado exige que o Facebook entregue todas as informações de registro para qualquer pessoa associada a uma página de esquerda. […] E, claro, se promover qualquer tipo de texto que possa ser considerado “político” requer registro, isso exige que qualquer pessoa que queira divulgar textos que tenham real substância se registre. O que isso significa é arrepiante.

Esta política não é um esforço real de promover alfabetização midiática. Realmente devemos nos concentrar em identificar autenticidade. Mas essa democracia capitalista depende da incapacidade da população de discernir entre informações autênticas e inautênticas. Esta política é simplesmente uma tentativa de manter exclusiva a capacidade de manipular a “passabilidade de autenticidade”. Muito parecido com a proibição de canudos de plástico, não é algo que fará o que se propõe a fazer.

[1] https://godsandradicals.org/2018/08/04/on-plastic-straws-and-the-coming-collapse/

[2] https://inimiga.noblogs.org/about-state-terrorism-and-its-genocidal-tool-of-social-control/

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