Centenas de pessoas percorreram Atenas em memória de Pavlos Fyssas, músico e militante antifascista assassinado por um militante do Aurora Dourada em 18 de setembro de 2013.
por Miguel Carvajal | 19/09/2018
Milhares de pessoas marcharam na tarde de ontem, 18 de setembro, no porto de Piros no quinto aniversário da execução de Pavlos Fyssas em 2013. A manifestação foi encabeçada pelos pais do músico e ativista antifascista e transcorreu do seu bairro natal e cenário de sua morte, Keratsini, até os escritórios do grupo de extrema direita Aurora Dourada em Piraeus, onde ocorreram confrontos entre a tropa de choque e alguns manifestantes.
O chamado foi seguido em outras cidades helênicas, como Tessalônica, Patras e Agrinio. De acordo com a mídia local, 25 prisões e seis detenções foram feitas em nível nacional e pelo menos uma pessoa foi hospitalizada, embora sua vida “não esteja em perigo”.
O assassinato seletivo de Pavlos Fyssas em 17 setembro de 2013 marcou um antes e um depois no panorama político e social da Grécia e teve suas repercussões em outras partes do mundo. O autor confesso do esfaqueamento fatal, Giorgos Roupakias, era militante ativo do partido neonazista Aurora Dourada e efetivamente era empregado na cafeteria da sede do partido em Nikea, bairro vizinho de Keratsini, cenário do crime. Ambos os subúrbios estão na área do porto de Piraeus, que era um dos baluartes do grupo de extrema direita.
“O INIMIGO SÃO OS BANCOS E OS GOVERNOS”
A mobilização foi gestada durante toda a semana com várias palestras, eventos e uma modesta manifestação organizada pelo sindicato Keerfa no último sábado na Praça Syntagma, em Atenas. No entanto, a agitação culminou ontem com a grande manifestação em Piraeus. Convocada pela família de Fyssas e secundada por várias organizações, como a Coordenação Antifascista e partidos políticos como a SEK, entre outros, reunindo milhares de pessoas.
Os manifestantes percorreram a principal artéria da cidade enquanto gritavam slogans como “na Turquia, na Grécia ou na Macedônia, o inimigo são os bancos e os governos”. Esta avenida larga era conhecida anteriormente como Panagis Tsaldaris, mas hoje foi renomeada Pavlos Fyssas pelo município. Uma coroa de flores foi colocada por sua família na altura do local do assassinato, onde fica um sensível monumento com a efígie do cantor.
A marcha, em seguida, se dirigiu para o porto de Piraeus e chegou a Praça Korai, onde está o teatro municipal e um das principais sedes do Aurora Dourada, que a polícia isolou mediante um férreo dispositivo de segurança. Vários ônibus blindados atravessaram no meio da praça impedindo o acesso aos escritórios do grupúsculo, reconhecível pela propaganda exibida em sua fachada.
Quando a maior parte da manifestação deixou a praça em direção ao porto, alguns elementos localizados na retaguarda do grupo protagonizaram por alguns minutos confrontos de baixa intensidade com a tropa de choque. Alguns coquetéis molotov foram lançados, com os manifestantes recebendo em troca projéteis de gás lacrimogêneo. Um dia depois dos eventos, não há registro de detentos ou feridos nesses confrontos.
AURORA DOURADA NA MIRA
Os participantes da manifestação gritavam slogans como “golpes e uma pá para [enterrar] Kasidiaris, e um grande buraco para enterrar Michaloliakos”. O segundo é o líder do Aurora Dourada e o primeiro é o seu lugar-tenente. Ambos dividem espaço no banco dos réus no marco do julgamento aberto em 2015 contra o partido neonazista e que deverá ser concluído no final deste ano ou início de 2019. No final do processo, o partido poderia ser declarado uma “organização criminosa” pelo aparato judicial.
Babis, presente na manifestação e vizinho e ativista do bairro vizinho de Perama, assegura que a morte de Fyssas foi “a gota que transbordou no vaso”. Nas palavras da jornalista Afroditi Fragou, com o assassinato de Fyssas queriam enviar a mensagem de que eles eram “a força hegemônica nas ruas”.
Lidsa Repa é vizinha de Keratsini e explica como o assassinato serviu para desmascarar o grupo ultra. “Pavlos estava passeando com a namorada quando o mataram, não são pessoas que ajudam pessoas necessitadas.”
Elenitza Kiramargyou, representando o governo municipal descreve a zona, onde cerca de 100.000 pessoas vivem, como “um bairro de classe operária composta por sucessivas ondas de imigrantes da Ásia Menor e outras partes da Grécia”. A conselheira garante que o Aurora Dourada perdeu “todo o seu poder” em Keratsini após o assassinato.
“As pessoas perceberam que não era apenas um partido político, mas algo que pode matar um garoto do bairro sem razão, enviando um assassino desde o bairro vizinho”, diz Kiramargyou, referindo-se às conversas telefônicas entre membros do partido que mostra como a ordem para executar o homem de 34 anos foi dada.
Embora o grupo neonazista tenha fechado cerca de 50 dos 70 escritórios que tinha operando na Grécia em 2013, deixou de ser a terceira força parlamentar para se tornar a quinta e perdeu sua impunidade nas ruas, segundo Fragou não é o momento de ser complacente. “Com o debate em torno do nome da Macedônia [ponto principal da agenda nacionalista grega], eles pensam que podem continuar fazendo parte do debate político e esse é o maior perigo”, adverte o jornalista.
“Quando a besta se encontra encurralada, o último golpe pode ser o mais perigoso”, diz Babis, o veterano ativista de Perama. Foi precisamente neste bairro que, no último sábado, um jovem teve de ser hospitalizado após receber uma surra enquanto caminhava para um concerto em memória de Pavlos Fyssas realizado na baía de Keratsini. A mídia local atribui o ataque aos militantes do Aurora Dourada.
Tradução > Liberto
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