Pela autogestão generalizada da vida e da produção!
por Caralampio Trillas | 12/10/2018
Desnecessário tipificar o fenômeno contemporâneo, fazê-lo pode até parecer arrogância intelectual de tão didáticas as suas evidências. Quer por indícios, quer por fatos incontestáveis, tudo está bastante claro.
O ambiente polarizado tem favorecido igualmente posições polarizadas. Os paralelos com o passado só têm servido para justificar as posições, em qualquer dos casos, ditadas pelo medo.
O mais grave disso, na perspectiva do medo, é que ela é pouco propositiva. Ela se justifica por ela própria, não precisa de reflexão e, mais que tudo, coloca ênfase no problema e não na sua solução. Ela favorece a posição de quem tem um projeto claro, de governo ou de partido, para o período posterior ao pleito.
Assim, a polarização, fundamentada ou não, não é apenas uma posição política, ela é a lógica de se fazer política. Ela substitui os projetos populares, subordina-os à “urgência”, às agendas de quem tem projeto para depois da resolução do embate.
Nesse contexto, a força vibrante do povo, que poderia decidir em favor de alguma solução, fica capturada pela lógica do problema que, a despeito de ser real, não é menos desmobilizadora e paralisante. Fica subordinada às regras do jogo, sempre excludentes e cerceadoras.
Diante desse fato, não cabe no momento erigir tribunais para os sufragistas atemorizados, incluindo-se entre eles os libertários. Não é caso de fazer valer a ortodoxia, de destacar-se dos demais pela visão pretensamente “mais consequente”. O purismo seria parte inclusive da lógica da polarização.
No meu entender, diante do avanço do fascismo, o voto pode muito pouco, é quase uma falácia. Nesse momento, o voto é mais a expressão de uma opinião que força transformadora. Ele demarca muito mais uma posição que nos defende de um mal maior.
Por tudo isso, além de pregar a abstenção, eu acredito que seja fundamental formar uma frente antifascista. Uma na qual estejam os abstencionistas e os sufragistas. Uma que não se paute pela polarização eleitoral, mas pela ação concreta e transformadora para enfrentar qualquer dos cenários pós-eleitorais. Uma que promova, no cotidiano, simultaneamente a defesa das lutadoras e lutadores e combata o totalitarismo que nos ameaça a todas e todos.
Manter o foco nos resultados eleitorais apenas é, com já escrevi em outra parte, tomar a consequência pela causa. O sintoma pela doença.
Sem querer defender a panaceia para o “mal do fascismo”, o que é necessário fazer é o mesmo que devíamos ter feito muito antes, para evitar o que enfrentamos agora. Nessa construção é impossível “queimar etapas”.
Pela autogestão generalizada da vida e da produção!
PS: Se não ficou claro, esse texto apenas reforça uma posição mais imediata, reclamando por outra mais efetiva. Nesse sentido, o sufrágio aparece como aspecto tático diante do que se nos apresenta.
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