por Mireia Redondo | 29/10/2018
Há uns dias, VOX [partido ultradireitista] fazia um ato em Vistalegre [Madrid] no qual participaram muitíssimas pessoas, Bolsonaro e os partidos de extrema direita na Europa não só sobem mas que, ademais, ganham. Trump, ganhou. Partidos de direita como Ciudadanos ou PxC recebem uma quantidade de votos muito maior do que o desejável (manipulando, também, certa parte do discurso feminista). Não só temos o problema de que estes partidos existem, temos o grande problema que o que dizem, é aceito. Há anos que nos alarmamos pelo crescimento de todos estes partidos e personagens, mas ao mesmo tempo ficamos boquiabertas ante o apoio que recebem. Inclusive, às vezes, nos bloqueamos pensando o que não fizemos, e pensando e debatendo seguimos sem fazer muita coisa. Sabemos que quando as coisas ficam feias dentro do sistema econômico no qual vivemos, o fascismo e a ultradireita sobem como a espuma com a habitual ajuda da direita e ante a fraqueza dos demais partidos e entes parlamentaristas.
De certa maneira se poderia dizer que toda a ladainha para que as pessoas confiemos de maneira cega e dependente nas instituições se quebra e reconstrói com uma forma muito mais autoritária ante as crises. O protecionismo paternalista e tóxico se torna veneno racista do pior. A exploração para e pelo país faz do já questionável conceito de pátria um silencioso desfile de silêncio sacrificado pelo bem de sabe-se lá quem.
Tudo o que dentro do patriarcado capitalista se considera uma normalidade boa e inquestionável (Estados, pátria, exército, fronteira, produtividade, silêncio, homogeneidade…), se acaba se desdobrando em sua pior forma e faceta. Claro que isto conduz à inevitável necessidade de questionar profundamente todas estas ferramentas do sistema, não só quando estão sob a dinâmica mais autoritária. Sabendo que nos conceitos como pátria, patrimônio, Estado, nação, país etc, por muito ilustrados que sejam, não são mais que facetas do patriarcado, me sinto especialmente cômoda com o anarcofeminismo, já que este questiona de maneira inequívoca o patriarcado, o capitalismo, o autoritarismo e as dependências tóxicas e representatividades próprias de um sistema não baseado nas pessoas, na base, no bairro, no povo. A auto-organização, a autogestão, a autodefesa tanto no trabalho, como nas ruas, em casa e como forma de vida me parecem particularmente menos artificiais e menos paternalistas.
Por isso me defino não só como feminista, também ponho anarco. Porque não me vale qualquer postura, não quero que me confundam com qualquer fascista, identitária, direitosa ou burguesa que se autodenomine feminista. Me nego a que não apareça de maneira evidente a questão de classe e a da verticalidade. Já sabemos que de base o feminismo se não é anticapitalista ou antirracista não tem sentido, mas eu já opto por botar o prefixo, assim fico tranquila.
Bem, a questão é que recordando o testemunho que nos deixaram nossas avós anarquistas, creio que ante o auge do fascismo e da direita temos muito que dizer e ainda mais que fazer. Podemos seguir deixando o assunto em mãos do mesmo sistema que dá lugar ao fascismo, e isso seria o pior. Ou poderíamos tentar fazer um movimento de mulheres trabalhadoras antirracista, antifascista, autogestionado etc. Já, isso parece que está longe, ou talvez tão longe como o queiramos ver.
Também poderíamos desempoeirar e reescrever esses discursos das mulheres libertárias para difundir a ideia, contra o fascismo, o patriarcado, a exploração e toda autoridade.
Ou também poderíamos começar a derrubar um a um todos os argumentos misóginos, machistas, homófobos e transfobos desses partidos e movimentos políticos (que por outro lado são uma de suas bases mais fortes, e seria mais que interessante desmontar e enfrentar). Enfrentando-os cara a cara e sem fraqueza nem piedade, já que eles não a tem. Se eles ganham, se eles calam, então estaremos cada vez menos seguras. Pensemos nisso, o anarcofeminismo tem mais para oferecer do que nos parece, valorizemos. Que conste que só são ideias, ainda que gostaria que fossem propostas super sérias, mas… Ainda assim, sigo pensando que quem melhor para combater o fascismo que já temos encima que as mulheres, as duplamente, triplamente esquecidas e exploradas? Temos tanto que ganhar, oferecer e valorizar: a nós mesmas!
Saúde e anarcofeminismo
Fonte: https://tanitalga.wordpress.com/2018/10/29/el-anarcofeminismo-contra-el-fascismo/
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Do céu bela aurora
Do mar doce maresia
Do dia perfeita hora
Alaine
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!