A p r e s e n t a ç ã o
Todo ato é um ato político. Toda ideia carrega uma ideologia e todo contexto histórico apresenta suas contradições. Tivéssemos a convicção de que o aprendizado histórico impediria a sociedade de voltar a cometer os mesmos erros do passado talvez nós não estivéssemos aqui hoje, em pleno ano de 2018, nos preocupando em retomar um tema já amplamente debatido e que quiséramos estivesse esquecido nas catacumbas como reminiscência de um vergonhoso passado.
Não é o caso.
Se o silêncio é conivente com a opressão e com o opressor, são as vozes das mulheres, milhões delas, que vibram e ecoam hoje, nas ruas de todo o Brasil, combatendo os anseios totalitários de uma parcela da população que reivindica a volta do autoritarismo, seja em sua estrutura imperialista, fascista ou nazista, ou em sua forma tupiniquim, integralista.
São mulheres que dizem não à intolerância e ao ódio, que acusam as velhas instituições e costumes de serem coniventes com o autoritarismo e sonham construir um mundo novo, livre e plural. Faz-se necessário então, retomar, após 83 anos da publicação da primeira edição, o livro Fascismo: filho dileto da Igreja e do Capital, de Maria Lacerda de Moura.
São as palavras de Maria Lacerda, assim como de tantas outras brasileiras, que não se calaram e construíram as lutas antifascistas entre as décadas de 1920 e 1940, que se colocaram para impedir que o regime de violência e opressão encontrasse solo fértil e se espalhasse por aqui.
A recepção destas ideias e desta luta, contudo, não ocorreu sem questionamentos e resistência. Mesmo dentro dos meios anarquistas, a voz da mulher livre encontrou críticas e foi alvo de deslegitimações. Maria Lacerda não passou ilesa.
Uma das críticas mais contundente foi a de Osvaldo Salgueiro, na edição de n° 97 do jornal anarquista A Plebe, no artigo “Crítica e Doutrina”. Para o autor:
Os escritos de M. L. de Moura, muitas vezes, afiguram-se-nos sobremaneira apocalípticos. Escreve, atabalhoadamente, a propósito e a despropósito de tudo, e parece não possuir o indispensável conhecimento acerca de coisa alguma. Além disso, diz sempre as mesmas coisas, sempre as mesmas frases feitas, dando a fastidiosa impressão de que o seu último livro publicado é uma nova edição do precedente, diferindo, apenas, no título e na capa.
O ataque a Maria Lacerda não foi capaz de silenciar nem a obra, e, muito menos, a autora. A resposta ao ataque não tardou e já na edição seguinte do jornal aparece o artigo “Maria Lacerda de Moura e o seu último livro”, assinado por A. N., em solidariedade à escritora mineira. Neste A. N. pergunta:
Não haverá obra mais urgente, mais útil para a humanidade, para passar do sonho à realidade, para acabar coma infame sociedade capitalista do que criticar tão parcialmente uma mulher como Maria Lacerda de Moura e um livro de combate às forças reacionárias como “Fascismo, filho dileto da Igreja e do Capital”?
Não é mais urgente o combate ao fascismo do que o capricho das palavras? A intenção do livro, do que a deslegitimação da obra por eventuais imprecisões históricas?
A. N. nos lembra então, neste mesmo artigo, qual deve ser o foco e o objetivo de escritores, editoras e organizações anarquistas, no Brasil e no mundo, frente a este contexto:
O fascismo, ameaçando avassalar o mundo, não merece que se multipliquem as edições novas e revistas para combate-lo?
É fazendo coro com as ideias de A. N. que a editora Entremares assume sua responsabilidade frente ao tenebroso contexto histórico que estamos vivendo e publica a segunda edição do livro Fascismo, filho dileto da Igreja e do Capital, porque, como diria Buenaventura Durruti, “o fascismo não se discute, se destrói”.
Título: Fascismo: filho dileto da Igreja e do Capital
Autor: Maria Lacerda de Moura
Editora: Entremares
Número de páginas: 200
Preço: R$ 30,00
Contato: entremares.noblogs.org
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