Por um Balcãs de solidariedade e luta

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Declaração dxs participantes da 12ª Feira do Livro Anarquista dos Balcãs em Novi Sad, Sérvia.

Entre 28 e 30 de setembro de 2018, indivíduos e coletivos do movimento anarquista e antiautoritário dos Balcãs e outros lugares se reuniram em Novi Sad para a 12ª Feira do Livro Anarquista dos Balcãs. Vindxs de todas as partes da região, falamos muitas línguas: sérvio-croata, húngaro, romeno, esloveno, macedônio, búlgaro, albanês, grego, entre outras. Levando em conta nossos contextos heterogêneos, nosso encontro confirmou que a única língua que todxs nós partilhamos é a língua da luta e da solidariedade.

Durante os dias que passamos juntxs, compartilhamos muitas experiências de luta, atualizamos e testamos nossas análises e formulamos algumas propostas concretas para o futuro de nossas lutas. Por meio disso podemos reconhecer alguns padrões comuns que vêm das estratégias políticas anteriores da classe dominante em todas as partes da região. Mais uma vez, se utiliza do nacionalismo como ferramenta para disseminar as divisões como forma de facilitar o ataque contra xs oprimidxs e, ao mesmo tempo, criar um oponente falso na forma de um nacionalismo populista que aparenta se opor aos impactos realmente destrutivos da ofensiva capitalista enquanto na verdade fornece capital global e oportunidades para sua reestruturação.

Como sempre, nacionalismo é combinado com militarismo, obscurantismo religioso renovado, e patriarcado. Tudo isto está claramente presente na nova onda de tensões entre as várias forças do Estado e a ascensão de nacionalismos populares (como entre Kosovo e Sérvia, Macedônia e Grécia, Bósnia e Herzegovina, Croácia, etc.). Como resposta a estes esforços divisórios da classe dominante, as ações coordenadas e campanhas por todo os Balcãs contra o nacionalismo, o militarismo e qualquer tipo de divisão entre xs oprimidxs se expressam como uma necessidade urgente. E isto só pode ser alcançado por meio de mobilizações conjuntas das forças sociais. Um dos próximos movimentos importantes quando poderemos concretamente agir em direção a este objetivo será a mobilização contra a marcha Lukov em Sofia, na Bulgária, em fevereiro de 2019. Nós expressamos nosso total apoio à marcha anti-Lukov e convocamos todxs a criar mobilizações anti-nacionalistas locais e, se possível, vir a Sofia. Também enfatizamos nosso comprometimento para proteger nossas estruturas dos ataques fascista e a necessidade de reagir.

Paralelamente a isso, reconhecemos que a expansão do capitalismo global é limitada pela natureza finita de nosso planeta. Para compensar estas limitações, o capitalismo prontamente emprega métodos mortais de pilhagem e exploração vulgar, muito comumente e continuamente na forma de ataques contra os direitos dxs trabalhadorxs e ao meio ambiente. Não é coincidência que nos últimos anos os Balcãs tem visto a erupção de muitas lutas contra a apropriação capitalista da natureza: as minas de ouro em Chalkidiki, e Roșia Montană, grandes projetos hidrelétricos em rios dos Balcãs, dentre eles em Stara Planina na Sérvia, Mura na Eslovênia, Valbona na Albânia, fracking na Romênia e Bulgária, extração de combustível fóssil por toda a Grécia, e nas chamadas “zonas econômicas exclusivas” por companhias locais e gigantes como Repsol, Toral, ExxonMobil, e Edison, para citar algumas. Todos estes são exemplos particulares de como o setor extrativista da economia, dirigido por algumas corporações globais e protegido pelo aparato legal e repressivo do Estado, está tomando os territórios dos Balcãs, gerando poluição e destruição dos direitos trabalhistas, assim como de comunidades em intercâmbio.

Na periferia do sistema capitalista global, pilhagem e guerra transformam grandes segmentos da população em migrantes e refugiadxs; este processo não é só um problema teórico para nós nos Balcãs, mas também uma experiência vivida. Enquanto a população diversa e heterogênea busca um local para chamar de lar e reconstruir suas vidas, tornam-se alvos do capital e suas estruturas políticas: o primeiro diretamente integra-xs na economia capitalista como mão-de-obra barata, enquanto o segundo usa-xs como bode expiatório para justificar o crescente controle social de todxs, vigilância e repressão de segmentos antagonistas da sociedade e alimentar a direita popular e minar a solidariedade entre xs oprimidxs.

Três anos após o colapso da maquinaria da Fortaleza Europa, pessoas estão sendo encarceradas em prisões porque ousaram resistir ao regime de desumanização a que estão sujeitas. Casos como Harmanli na Bulgária, Moria na Grécia, e Röszke na Hungria são apenas os mais conhecidos que pontuam a processos mais amplos de repressão e criminalização. Por meio disso, não apenas migrantes que resistem são alvos, mas também as próprias ideias e práticas de solidariedade política transnacional. Agora que os estados balcânicos e europeus, em grande escala, retomaram o controle de suas fronteiras, ferramentas mais silenciosas e ainda mais letais de criminalização e racismo estão sendo usadas para empurrar as pessoas para as margens, frequentemente sujeitando-as a ilegalidade e às formas mais vulgares de exploração. Reconhecemos que é necessário romper o estado de exclusão que é imposto a migrantes e refugiadxs e desmantelar o regime europeu de desumanização das fronteiras e campos de concentração. Apoiamos todas as ações de solidariedade contra centros de detenção, áreas críticas e criminalização de migrantes.

A Feira deste ano também sediou um encontro entre as iniciativas sindicalistas de base dos Balcãs, pelo qual tivemos a chance de conhecer as lutas recentes de trabalhadorxs de estaleiros em Pula e Rijeka, na Croácia, das trabalhadoras do setor de serviços de higiene em Kosovo, a luta de trabalhadorxs de redes de supermercados e café na Grécia, setor de logística na Bulgária, e assim por diante. Vendo como estas lutas partilham de similaridades e, especialmente, levando em consideração a interconexão do capital nos Balcãs, concordamos com o reforço maior do apoio mútuo e compartilhamento de informações. Estabelecemos uma plataforma comum de compartilhamento de informação e alguns outros passos concretos foram feitos para que se possa facilitar a solidariedade dxs trabalhadorxs por todo os Balcãs. Novos canais de comunicação irão facilitar a solidariedade dxs trabalhadorxs e permitir coordenação eficiente de ações diretas por toda a região. Seguindo isto, as organizações anarcossindicalistas e radicais de base confirmaram sua posição em se focar na organização de lutas nos locais de trabalho, ajudar trabalhadorxs a se auto-organizarem; e agitar a luta de classes internacional nos Balcãs.

Finalmente decidimos nos encontrar no próximo ano em Sofia, na Bulgária, para a 13ª Feira do Livro Anarquista dos Balcãs anual. O movimento antiautoritário e anarquista se reunirá para providenciar um espaço para a continuidade de nossas lutas, e também para homenagear o centésimo aniversário de fundação da Federação Anarquista na Bulgária.

Contra o nacionalismo e o capitalismo! Por um Balcãs de luta e solidariedade!

Nenhum nome nos divide, nenhuma nação nos une!

Participantes da 12ª Feira do Livro Anarquista dos Balcãs

Novi Sad, 30 de setembro de 2018

Tradução > Imprensa Marginal

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