por Bethany Denton & Gabriel Spitzer | 10/11/2018
“Um programa de assistência, tocado por voluntários, baseado em bikes e funcionando 365 noites por ano com suprimentos de emergência básicos, troca de seringas e distribuição de naloxone… Em Olympia, Washington.” É assim que a voluntária Cassie Burke descreve o Projeto de Assistência Emma Goldman para os Sem-teto e a Juventude, ou EGYHOP.
O projeto vem acontecendo já fazem duas décadas nas ruas do centro de Olympia. Em termos práticos, em uma noite do início de outono, tudo começou com duas jovens montadas em moutain bikes frágeis, rebocando grandes caixas pretas amarradas com mais ou menos o que estivesse disponível.
“É só esse punhado de coisas aleatórias do tipo, com o que é que podemos amarrar tudo por hoje? O elástico se rompeu? A gente tem câmaras de ar? Temos corda? Temos qualquer coisa?”, diz Cassie.
Mas o conteúdo dessas caixas é pensado cuidadosamente: roupas gratuitas (principalmente meias), lonas e sacos de dormir quando o clima está frio, comida e bebida advinda de doações, e principalmente, suprimentos limpos para usuários de drogas injetáveis.
Krista Kohler, que vem pedalando com Cassie por sete anos, reúne os suprimentos em kits para as pessoas que são usuárias de drogas.
“Neste saco eu monto um kit esterilizado, com todos os suprimentos que temos acesso para passar para as pessoas, suprimentos que consistem em lenços com álcool, que são muito importantes para limpar a pele antes de injetar. Nós distribuímos água esterilizada, temos algodão limpo e individualmente ensacado, e um pequeno recipiente de fogareiro que está limpo. E, em seguida, laços para as pessoas”, explica ela, antes de entregar o kit a um participante.
David Long-Hair e as origens do EGYHOP
O Projeto de Assistência Emma Goldman para os Sem-teto e a Juventude recebe o seu nome de uma das anarquistas radicais mais prolíficas do século XX. Emma Goldman acreditava fortemente em, como Cassie chamou, auto-determinação, o que quer dizer que cada ser humano merece o direito de fazer as suas próprias decisões sobre como viver as suas vidas.
No começo dos anos 90, o legado de Emma Goldman inspirou um homem conhecido pelo nome de David Long-Hair.
“Eu sou David Long-Hair, e eu sou um voluntário nas ruas de Washington, Olympia, para a comunidade de usuários de drogas injetáveis, e é nossa responsabilidade social tentar nos proteger contra a disseminação da AIDS e do HIV”, disse David em uma entrevista por vídeo, em 1993.
No ápice da epidemia da AIDS, David Long-Hair estava cansado de ver a doença devastar a sua comunidade. Isso foi antes dos coquetéis antirretrovirais, quando muitos ainda estavam morrendo.
David e alguns de seus amigos começaram a pedalar pela cidade oferecendo ajuda a quem precisasse, particularmente a portadores de HIV e usuários de drogas.
Tudo isso estava rolando ao mesmo tempo em que o Estado de Washington era pioneiro em serviços de redução de danos, incluindo ter sido o primeiro governo da história a sancionar um sistema de troca de agulhas em Tacoma. Redução de danos se refere à ideia básica de que a dependência é complexa, e as pessoas que são usuárias de drogas ainda merecem acesso a medidas salvadoras de vidas, como suprimentos limpos e drogas de reversão de overdose, como naloxone. É por isso que o EGYHOP não se enquadra tanto na perspectiva de evangelizar a sobriedade, na medida em que o projeto tenta entregar às pessoas suprimentos que ajudam a deixá-las seguras no hoje e no agora, o que inclui também roupas quentes e meias limpas.
“E na próxima vez em que eu ver você”, David Long-Hair continua no vídeo, “e nós falarmos sobre recuperação e você me diz que você nunca mais dividiu a sua seringa, isso é excelente! Continue assim! E eu estarei aqui pra você, pode vir me ver e eu terei provisões limpas e preservativos, e veremos de te levar até um médico, e talvez um dia desses nós vamos sentar e conversar sobre você ficar limpo.”
‘Eu Vejo Um Buraco Muito Grande No Nosso Mundo’
Vinte e cinco anos depois, voluntárias como Cassie e Krista ajudam a dar continuidade ao programa. Elas carregam um grande recipiente vermelho para recolher agulhas usadas, e distribuem quitutes doados para um grupo na calçada perto do terminal de ônibus e do centro comunitário inter-religioso.
Organizações como a EGYHOP são ocasionalmente criticadas por encorajar o uso de drogas, ou incentivar a persistência de indivíduos em estilos de vida auto-destrutivos.
“Eu não compro necessariamente a ideia de ‘permitir'”, diz Cassie. “Eu acho que as pessoas que já usam drogas, que já vivem nas ruas, que já estão submersas nesse estilo de vida, é simplesmente onde elas estão. …Não acho que seja lugar de ninguém para se sentir como uma cultura, e que podemos dar às pessoas permissão para viver suas vidas onde elas estão. E eu acho que esse tipo de restrição é realmente falso para o tipo de mundo em que eu quero estar.”
“Eu apenas consigo ver um buraco muito grande no nosso mundo, na nossa cidade, no nosso mundo onde as pessoas não estão sendo cuidadas, a sua humanidade não vem sendo reconhecida, e simplesmente parece muito importante fazer parte de algo para preencher este vazio.”
Fonte: http://www.knkx.org/post/bike-based-anarchist-public-health-project-s-keeping-people-alive-olympias-streets
agência de notícias anarquistas-ana
Flauta,
cascata de pássaros
entornando cantos úmidos.
Yeda Prates Bernis
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!