por Sylvia Colombo | 24/12/2018
Osvaldo Bayer, morto nesta segunda-feira (24/12), aos 91, foi um dos principais intelectuais argentinos. Historiador, escritor e ativista político que se definia ideologicamente como “um anarquista pacifista”, sua principal contribuição foi na exposição das injustiças e crimes cometidos pelo homem branco na Patagônia. Sua obra de maior projeção, “Los Vengadores da la Patagonia Trágica“, foi levado às telas em 1974 por Hector Olivera, ganhando o Urso de Prata do Festival de Berlim.
Bayer nasceu na Província de Santa Fe, em fevereiro de 1927, e foi um observador arguto e de primeira mão da história argentina do século 20. Ainda assim, sua principal preocupação estava voltada ao passado e aos rincões muito distantes de sua província ou de Buenos Aires.
Em 1952, foi estudar na Alemanha, país em que passaria depois longas temporadas de exílio. Estudou história na Universidade de Hamburgo. Ao voltar, enquanto realizava suas pesquisas, fazia artigos para jornais ou escrevia roteiros para o cinema. Já obcecado com a Patagônia, em 1958 lançou um jornal dedicado a essa região e seus temas, o “La Chispa“.
“Los Vengadores de la Patagonia Trágica“, também conhecido como “La Patagonia Rebelde“, saiu inicialmente em quatro tomos, entre os anos de 1972 e 1978, e é um ensaio crítico sobre como os governos argentinos ao longo da história, exploraram a região, minimizaram a cultura, mataram seus habitantes. Um dos temas centrais é uma greve de trabalhadores nos anos 1920 que estavam a serviço de uma empresa britânica. O governo argentino imediatamente enviou o Exército para defender os interesses britânicos, e neste embate foram fuzilado nada menos que 1.500 operários argentinos.
Seus escritos não deixaram em paz nenhum governo, e ele se refugiou primeiro da Triple A (guarda paramilitar peronista) e depois da ditadura (1976-1983) na Alemanha. Só voltaria ao país em 1983, voltando à sua produção intelectual e à sua ação política, porém, sem nunca militar em nenhuma associação específica.
Suas preocupações, além de sua amada Patagônia, onde também passou longas temporadas, eram o destino dos indígenas do país – praticamente arrasados pela Campanha do Deserto, no século 19 e, no 20, lutando para manter sua cultura -, mas também a luta pelos direitos da mulher, pela defesa do ambiente e pelos direitos humanos, atuando em favor das vítimas da última ditadura militar.
Num tempo em que estão ameaçados os direitos civis em tantos países, assim como os largos espaços de preservação ambiental que passaram a estar na mira de políticas de Estado que desejam torna-los “mais produtivos”, a obra de Bayer é extremamente atual. Que siga viva como nunca.
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