A ignomínia do Vale dos Caídos deve desaparecer
A CNT faz um chamado a todas as organizações sindicais, sociais e políticas a participar em uma marcha ao Vale dos Caídos no sábado, 20 de abril de 2019.
Em 2019 completam 60 anos de sua construção. Um monumento que é lugar de peregrinação fascista e culto ao bando franquista.
O Vale dos Caídos foi construído entre 1940 e 1958 durante o franquismo como homenagem aos caídos em guerra do bando franquista e exaltação ao Regime. Um monumento que foi construído por prisioneiros antifranquistas. Nele se encontram enterrados 33.833 corpos de ambos os bandos, ainda que sabemos que a cifra oficial é pequena.
Neste “monumento” também estão enterrados José Antonio Primo de Rivera, fundador da Falange, organização fascista que teve a seu cargo a repressão sistemática contra pessoas pertencentes a organizações sindicais, partidos de esquerda e seus familiares, repressão ampliada às tropas sublevadas e a seus colaboradores, civis e eclesiásticos. E Francisco Franco, militar golpista, chefe supremo do bando sublevado e ditador durante quatro eternas décadas.
É inconcebível que em um país que se chama a si mesmo democrático se permita ainda render culto aos que acabaram com os direitos e liberdades conseguidos a força de anos e anos de luta.
Ainda mais inconcebível é que se esteja negociando com a família do ditador o translado de seus restos a conveniência dessa família que amealhou sua fortuna graças ao espólio e o roubo durante mais de 40 anos de ditadura e que segue gozando de benefícios e privilégios inimagináveis em um lugar civilizado. Propomos a solução tomada pela Alemanha no caso de outros reconhecidos fascistas, jogar suas cinzas em algum lugar desconhecido.
E a Igreja, colaboradora necessária, segundo a ONU, no extermínio efetuado pelo Regime, deixa claro quem é, com seu convite para servir de lugar de sepultamento do ditador na Catedral da Almudena. Era de se esperar.
O Vale dos Caídos representa a ignomínia para as pessoas que morreram lutando contra o fascismo ou foram assassinadas durante a guerra e a ditadura. Uma guerra que teve consequências terríveis para a população civil. Mais de 500.000 mortes entre vítimas civis e combatentes, 450.000 pessoas obrigadas a exilar-se, e milhares delas foram deportadas a campos de concentração e de extermínio sob o domínio da Alemanha nazi, centenas de milhares de represaliados/as durante o franquismo (Espanha é, ATUALMENTE; o segundo país do mundo com maior número de desaparições forçadas), mulheres tiveram as cabeças raspadas e foram violadas, deixadas sem possibilidade de subsistência, milhares de bebês roubados de suas mães, prática que continuou no período da democracia e tantas outras formas de humilhação e destruição dos vencidos.
Todas essas vítimas, mulheres, homens, meninas e meninos, tem nomes e sobrenomes e merecem ser recordadas. Suas famílias merecem ser escutadas e dispor de um lugar digno onde chorar a seus familiares. E seus verdugos têm de ser julgados e condenados ao lugar da história que se merecem e fora de um lugar onde se exaltam sua memória e seus crimes.
Por tudo isso, a Confederação Nacional do Trabalho exige:
– A retirada dos corpos de José Antonio Primo de Rivera e de Francisco Franco Bahamonde.
– A expulsão, com anterior auditoria de contas e bens, dos monges beneditinos. E que o Estado deixe de financiá-los, ali e em qualquer outro lugar.
– A transformação do Valle em um lugar de memória e recordação das vítimas do franquismo, onde desapareça toda simbologia franquista, e sobretudo, a cruz.
– Recuperar o verdadeiro termo pelo qual se conhece este entorno natural, “Cuelgamuros”.
– Uma condenação pública e com consequências por parte do Estado espanhol e todas as instituições e organizações que são parte do mesmo, do golpe de estado de 1936 e do regime franquista.
– A entrega ao Estado, e ao povo em geral, da documentação sobre as pessoas enterradas no Vale, atualmente em poder do abade do monastério, que a trata como pertence pessoal e ideológica.
– Que se exumam os restos das vítimas que, inclusive depois de mortas, foram tratadas como vencidas e enterradas com seu verdugo.
– Que a exumação se faça realizando provas de DNA para a posterior judicialização dos assassinatos.
– A derrogação da lei de anistia de 1977.
– Que todo este processo seja acompanhado por pessoas da ONU especialistas em genocídio e desaparições forçosas.
Após mais de quarenta anos de pretendida democracia e negligência política, leis pela memória histórica feitas sob encomenda e homenagens a franquistas permitidos e muitas vezes fomentados por parte das instituições do Estado, é hora de trabalhar todas as organizações conjuntamente com o fim de converter o mausoléu franquista em um lugar de memória de todas as vítimas do genocídio franquista.
A batalha da memória contra o esquecimento é fundamental entre todas as que se estão levando em favor dos direitos e liberdades. De nós depende que o franquismo ganhe ou perda esta batalha. Nossos familiares, e para a CNT todos os companheiros e companheiras mortos e represaliados o são, como defendemos ante a ONU, merecem e devem ser recordados. Reabilitar nosso passado também é dignificar sua luta e a nossa.
Sejamos dignos herdeiros de suas ideias e de suas reivindicações, gritemos alto e claro: por mais que 80 anos tenham passado desde o final da guerra, O fascismo Não Passará! Nós Passaremos!
Memória, Dignidade e Luta!
Secretariado Permanente do Comitê Confederal
agência de notícias anarquistas-ana
o crisântemo amarelo
sob a luz da lanterna de mão
perde sua cor
Buson
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!