por Capi Vidal | 27/01/2019
Faz já mais de dois meses que o chamado movimento dos coletes amarelos começou na França uns protestos que se iniciaram com o anúncio por parte do presidente Macron do aumento do combustível e ante o qual centenas de milhares de pessoas saíram às ruas em 17 de novembro do ano passado.
A repressão policial sobre o movimento dos coletes amarelos não se fez esperar, com centenas de feridos e uns 200 detidos, apesar do qual na semana seguinte houve outra convocatória nas ruas e de novo exitosa. Desde então, as manifestações e ações continuaram e os enfrentamentos não se fizeram esperar, com o saldo de pelo menos 10 falecidos e centenas de feridos. Apesar de que, como temos dito, o início das revoltas foi originado no aumento do preço do combustível, os motivos dos indignados parecem ir mais além. Esta medida, tal e como interpretou uma grande parte da sociedade francesa, é uma de tantas que afeta principalmente as classes mais modestas. De fato, o impacto do movimento foi tal que o presidente teve que recuar, anulando a subida anunciada, algo que não reduziu as manifestações e protestos as vezes de caráter muito violento devido à indignação popular.
A tensão foi aumentando, com as festas natalinas pelo meio, o que mostra o calado político e social que a questão está tendo na França. Como se insistiu, se trata de um movimento transversal, de caráter heterogêneo, com distintos interesses e diferentes formas de pensamento e, sim, uma natureza política definida. Claro, houve organizações políticas que não tardaram em tratar de apropriar-se da situação, e a ambos lados do espectro político, incluída a extrema direita. Desde um ponto de vista libertário, o que interessa é o desenvolvimento de um movimento que utiliza meios horizontais e auto-organizativos, em tensão contra o Estado e o capital sem ingerências dos partidos políticos parlamentares. Os motivos originários podem ter sido a tentativa de uma melhora geral das condições de vida, mas veremos se os protestos não se reduzem ante meras reformas estatais e tratam de buscar objetivos maiores.
Ainda que o movimento dos coletes amarelos mostre uma raiva social muito legítima, produto de umas políticas contínuas que só favorecem aos mais poderosos, não há que idealizá-lo de maneira tosca e simplista deixando de lado assuntos controvertidos. Como temos dito, junto a outros interesses nacionalistas, a extrema direita tratou de influir no movimento, trazendo à luz a ideologia repugnante de alguns manifestantes, o qual supõe agressões racistas e homofóbicas. Se as manifestações nas ruas derivam em uma violência que compete com a policial, máximo de natureza abertamente reacionária, só pode ter nossa repulsa. Por outro lado, como cabia esperar, as últimas notícias são que parte do movimento deseja ir às urnas como organização política. Não só esta questão teme nosso rechaço como anarquistas, tal e como se comprovou uma e outra vez nos últimos anos, essa deriva dos movimentos de protesto não contribui para mudança social alguma.
Como anarquistas, deveríamos recordar a perspectiva autogestionária e a solidariedade de classe, claro, mas também a fraternidade entre povos e raças, junto a uma luta ampla de emancipação, no âmbito sexual e em muitos outros. Por outra parte, as justas exigências de melhores condições de vida que vão junto com estes movimentos não podem deter-se aí, e devem ter sua continuidade em uma luta permanente contra a miséria social que impregna a sociedade estatal e capitalista. A desejada revolução anarquista, que em minha opinião deve buscar permanentemente o vínculo da utópica sociedade de amanhã com a luta na atualidade, está sobre essa desejada autogestão de natureza libertária: liberdade, igualdade e, sempre, solidariedade. Se desejamos que estes movimentos sociais tenham continuidade em seu desejo transformador, em minha opinião, sem tutela de tipo algum, deveríamos mostrar-lhes estes princípios libertários inegociáveis.
Fonte: http://reflexionesdesdeanarres.blogspot.com/2019/01/los-coletes-amarelos-e-la-perspectiva.html
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
O gato chinês
espera sentado
pela sua vez
Eugénia Tabosa
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!