O proletariado não é uma coisa, nem uma identidade, nem uma cultura, nem um coletivo estatístico que tem uns interesses de classe próprios que defender. O proletariado se constitui em classe mediante um processo de desenvolvimento e formação que só se dá na luta de classes. O proletariado, reduzido no capitalismo avançado ao status de produtor e consumidor, supõe uma categoria social passiva, sem consciência própria; é uma classe para o capital, submetida à ideologia capitalista. Não é nada, nem aspira a nada, nem pode nada. Só na intensificação e agudização da luta de classes surge como classe e adquire consciência da exploração e domínio que sofre no capitalismo e, no processo mesmo dessa guerra de classes se manifesta como classe autônoma e se constitui como proletariado antagônico e confrontado ao capitalismo, como comunidade de luta. Enfrentamento total e a morte, sem possibilidades nem aspirações reformistas ou de gestão de um sistema hoje já obsoleto e caduco.
Esta noção de classe como “algo que acontece”, que brota e floresce do solo dos explorados e oprimidos, é chave. A classe não se refere a algo que as pessoas são, mas a algo que fazem. E uma vez que entendemos que a classe é fruto da ação, então podemos compreender que qualquer tentativa de construir uma noção existencialista ou cultural e ideológica de classe, é falsa e está condenada ao fracasso.
A classe não é um conceito estático, sólido ou permanente; mas dinâmico, fluido e dialético. A classe só se manifesta e se reconhece a si mesma nos breves períodos nos quais a luta de classes alcança seu ponto culminante.
O proletariado se define como a classe social que carece de todo tipo de propriedade e que para sobreviver necessita vender sua força de trabalho por um salário. Fazem parte do proletariado, sejam ou não conscientes disso, os assalariados, os desempregados, os precários, os aposentados e os familiares que dependem deles. Na França fazem parte do proletariado os quase três milhões de desempregados e os vinte e seis milhões de assalariados ou autônomos que temem engrossar as filas do desemprego, além de uma cifra indefinida de marginalizados, que não aparecem nas estatísticas porque foram excluídos do sistema.
A democracia parlamentar europeia se transformou rapidamente, desde o início da depressão (2007), em uma partidocracia “nacionalmente inútil”, autoritária e mafiosa, dominada por essa classe dirigente capitalista apátrida, que está a serviço das finanças internacionais e das multinacionais. Se produz uma profunda e extensa proletarização das classes médias, uma massificação do proletariado e a erupção violenta e intermitente de irrecuperáveis coletivos, subúrbios e comunidades marginalizadas, antissistema (não tanto por convicção, como por exclusão). Os Estados nacionais se convertem em instrumentos obsoletos (mas ainda necessários, como garantidores da ordem pública e defesa armada da exploração) dessa classe capitalista dirigente, de âmbito e interesses mundiais. Sua forma de governo é o totalitarismo democrático: uma democracia reduzida a mínima expressão de votar a cada tantos anos, para eleger entre representantes maus ou piores do capital, sem capacidade alguma de intervenção ou decisão na vida social ou política.
Os subúrbios se convertem em guetos de excluídos do sistema, que o Estado tenta isolar entre si, entregando seu domínio às gangues, às drogas, às máfias, às escolas, aos trabalhadores sociais, ongs, etc, prisões e polícia, para que conjuntamente imponham o controle e/o sacrifício econômico, político, social, moral, voluntário, e se faz falta também físico, de “todos os que sobram”, com o objetivo preciso e concreto de desativar seu potencial revolucionário, tentando converter esses bairros periféricos em colmeias de mortos viventes, aos quais as instituições estatais declararam uma guerra total de extermínio e aniquilação.
A luta de classes não é só a única possibilidade de resistência e sobrevivência frente aos ferozes e sádicos ataques do capital, mas a irrenunciável via de busca de uma solução revolucionária definitiva à decadência do sistema capitalista, hoje inútil e criminosa, que além disso se crê impune e eterno. Luta de classes ou exploração sem limites; poder de decisão sobre a própria vida ou escravidão assalariada e marginalidade.
Não são só coletes amarelos, Senhor Macron, é a guerra de classes, estúpido. É o velho topo que aparece e desaparece de cena, cavando sem cessar seu túnel sob um mundo caduco e obsoleto.
Agustín Guillamón
Fonte: http://alasbarricadas.org/noticias/node/41211
Tradução > Sol de Abril
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