I
Hoje assistimos pontualmente a um novo capítulo do ciclo histórico aberto pela insurgência das multidões no final do século passado e início deste contra a ofensiva da sociedade bélica-espetacular, capítulo que hoje se realiza no território controlado pelo Estado venezuelano. Um ponto de encontro de contradições e conflitos, que foi chamado a inaugurar -com o Caracazo- tal ciclo de ascensão do conflito social e político que tanto a oposição burguesa quanto o chavismo desejam encerrar – com diferentes variantes e ritmos – em favor da reestruturação da sociedade capitalista.
II
Neste capítulo da trama histórica, por um lado, estão o governo e o Estado chavista, a ponta de lança dos governos progressistas latino-americanos que hoje debatem entre a retirada organizada e a dissolução, tendo já cumprido seu papel de disciplinar e domesticar as multidões com o preço das matérias-primas em alta enquanto se adaptavam às exigências da pilhagem capitalista. Para logo implementar e realizar o ajuste e a repressão que os governos neoliberais não puderam realizar.
Assim, o governo encabeçado por Nicolás Maduro e a canalhada militar no qual ele baseia seu poder de fogo, responsável por mais de 250 assassinatos em protestos sociais desde 2013 nas mãos do aparato repressivo – e que inclui mais de 35 assassinatos nos últimos 10 dias, centenas de execuções extrajudiciais nas ruas e bairros, bem como nas prisões dos últimos tempos, de perseguição, acusação e assassinato de combatentes sociais, enormes índices de feminicídios e travesticídios com a cumplicidade e o encobrimento do poder judiciário, além dos milhares casos de desnutrição e mortes em hospitais.
O mesmo governo que cedeu 15% do território ao capital extrativista para a extração de ouro, bauxita, coltam, etc. na mineração a céu aberto, com o Arco Mineiro do Orinoco-A.M.O., adaptando assim o território e as multidões às demandas do capital global e à construção da infra-estrutura para seu saque (IIRSA), aprofundando a subordinação e interferência, no território venezuelano, dos estados russo e chinês através de empréstimos, endividamento e concessões.
III
Por outro lado, a oposição burguesa, porta-estandarte da reconfiguração e atual ofensiva do capitalismo espetacular de guerra que se estende no território latino-americano, ramificações da velha oligarquia venezuelana e seu programa neoliberal delineado em seu “Plano País”, onde o empreendedorismo e sua lógica totalitária de lucro esculpiriam a reconstrução nacional nas mãos do FMI e do capital global.
A mesma oposição que súplica atualmente para uma das facções militares descontentes com a distribuição do poder, contando assim com o infame tio Sam e a direitada latino-americano e mundial para promover uma saída via intervenção a seu favor na disputa pela gestão da ordem política e social, postulando uma eventual transição nas mãos dos militares e do pacote imperial. Assim, o capital bélico-espetacular de guerra nucleado nos EUA e nos seus Estados satélites, é a arma da oposição burguesa para desencadear o conflito e marcar novos precedente nas formas de intervenção do capital global no território latino-americano – uma forma de intervenção que tem o seu eco no século passado – para construir e consolidar uma ofensiva dos Estados e do capital na América Latina e assim fechar o ciclo histórico aberto pelo Caracazo.
IV
A nossa proposta: o conflito. Neste quadro, não há nada que valha a pena defender ou salvar, seja a democracia, os direitos, a revolução, as liberdades democráticas, ou socialismo. Não há limpeza numa casa que desmorona. A resistência defensiva não tem o menor sentido, mas com uma passagem para a ofensiva auto-organizada a partir das bases autônomas e horizontais que aguçam o conflito social -que a oposição burguesa e o chavismo tanto temem- nas ruas, bairros, campos, fábricas, escolas, universidades, etc.
Como nenhum Estado, governo ou autoridade de qualquer tipo resolverá os problemas da multidão, mesmo o problema da multidão é a autoridade em todas as suas manifestações, somente a própria força, o desenvolvimento de organizações e métodos combativos no calor do conflito social através da ação direta, além da necessária coordenação de ações e extensão da solidariedade como arma entre as multidões, seriam o caminho que marcaria uma brecha no horizonte diferente das tempestades conjugadas pelo poder que paira sobre nossas cabeças. Quer dizer: A emancipação das multidões será obra das próprias multidões.
NEM MADURO, NEM GUAIDO!
NEM DITADURA,NEM DEMOCRACIA!
NENHUM ESTADO OU IMPÉRIO NOS DARÁ LIBERDADE!
A EMANCIPAÇÃO DAS MULTIDÕES SERÁ OBRA DAS PRÓPRIAS MULTIDÕES!
Grupo de Afinidades Libertárias – Fevereiro de 2019.
Tradução > Chimera
Fonte: https://indymedia-venezuela.contrapoder.org/spip.php?article1382&lang=es
agência de notícias anarquistas-ana
Quietos, no jardim,
mãos serenadas. Na tarde,
o som das cigarras.
Yberê Líbera
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!