Silvia Rivera Cusicanqui, socióloga, historiadora, cineasta e ativista feminista, nasceu em La Paz, na Bolívia, em 1949. Tornou-se uma das intelectuais mais importantes da América Latina, uma mulher multitalentosa, professora rural, pedagoga contra a proibição da Coca, cineasta, anarquista, amante de plantas e cozinha tradicional andina. Seu projeto intelectual e vida militante sempre andaram de mãos dadas.
Quando as ditaduras bolivianas lhe enviaram para o exílio, Silvia escreveu o livro “Oprimidos, mas não derrotados”, que se tornou um clássico, onde se interpela a esquerda dogmática que nunca aceitou os índios como atores políticos.
Em seu discurso, Rivera pretende buscar a conexão com o nosso passado indígena pré-hispânico, a recuperação da linguagem, sotaques, expressões, conhecimentos e saberes afro e indígena que tem sido negados por séculos de colonialismo e eurocentrismo. Levanta a necessidade de descolonizar o olhar, gerar um pensamento próprio; que as abordagens criadas na América Latina sejam aceitas como conhecimento e não simplesmente como um saber.
A luta da socióloga gira em torno de retomar todos aqueles conhecimentos que foram desprezados, através de séculos de colonialismo e eurocentrismo, em nossas terras. As propostas de Rivera baseiam-se em explicar que somos uma raça mista e impura, mas devemos buscar nosso passado afro e indígena, onde sentimos orgulho de nossas raízes. Somente assim poderemos não apenas descolonizar o conhecimento, mas também fazê-lo com o ser, afastando-nos dessa ideia de felicidade ou do mundo melhor que a modernidade capitalista nos vende.
Em 30 de novembro de 2018, Silvia Rivera, deu uma palestra intitulada “Descolonizar as Ciências Sociais na América Latina”, no auditório da Faculdade de Ciências da Educação da Universidade de Cauca em Popayan. Rivera deu um contexto sobre os movimentos de resistência indígena realizados na Colômbia, pelas mãos de Quintin Lame.
A professora Rivera destacou a intenção de recuperar as terras ancestrais que tinham sido tomadas dos indígenas colombianos pelo Reino de Espanha, e mais tarde pela República da Colômbia: “Quando a colônia formal acaba na década de 1820, com o estabelecimento de repúblicas, as relações coloniais não terminam, de fato, aprofundam essas relações e também se disfarçam; isso faz com que o colonialismo liberal torna-se mais perverso, o colonialismo formal espanhol dá origem a um novo mecanismo de dominação, que é a declaração de igualdade de todos perante a lei, que é realmente uma igualdade fictícia, porque na verdade aos povos indígenas são reconhecidos apenas um direito: o direito de vender suas terras”.
Os movimentos liderados por índios alfabetizados, que fizeram o trabalho de recuperar sua própria memória através da oralidade e depois com a ajuda da paleografia, tentaram se afastar dos modelos eurocêntricos que lhes haviam sido impostos nas diferentes universidades. A partir daí, devido à rejeição que seus conhecimentos e linguagens tiveram, pouco a pouco os povos indígenas criaram conexões entre os estudantes que mais tarde gerariam resistências.
Neste sentido, salientou Silvia Rivera Cusicanqui: “Os movimentos indígenas fizeram uma ligação entre história e mitologia. O mito e a história começam a se combinar para dar sentido à luta que vai além do material. Isto é, aqueles espaços que haviam sido apropriados pelas fazendas, não só eram vistos como a materialização de recuperação de terras, mas também eram vistos como lugar sagrado, montanhas, guaduas (uma planta típica), onde foram feitos os rituais, e que hoje em dia continuam em resistência contra as invasões”.
Tradução > Liberto
Conteúdo relacionado:
agência de notícias anarquistas-ana
Vai brotar no tempo
Tempo traz vento
Natureza canta e desencanta.
Mara Mari
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!