Qual tem sido o papel das mulheres na revolução de Rojava?
As mulheres são a base da revolução em Rojava. Elas são o motor das maiores mudanças da revolução. Mulheres de todas as idades, etnias e particularidades têm levado à revolução a ser o que é hoje. Desde a área de autodefesa, com a ação de Arîn Mîrkan, até o trabalho político e diplomático da co-presidenta da Federação Democrática do Norte e Leste da Síria (FDNLS), FawzaYuzuf.
Quais são as demandas da mulheres curdas?
O objetivo das mulheres do movimento de libertação curda é acabar com o patriarcado, o Estado e o capitalismo, e desenvolver o que elas chamam de ‘Modernidade Democrática’. Não existem demandas com prioridades específicas. Luta-se por acabar com a violência machista, assim como se luta por uma educação livre. Luta-se por uma auto-organização de defesa das mulheres, como também se luta por recuperar os princípios éticos de uma convivência livre. Luta-se por uma auto-organização política descentralizada, como também se luta por destruir a mentalidade e personalidade do macho dominante.
Quais são as particularidades do feminismo curdo?
O movimento curdo de libertação não é considerado feminista, embora o feminismo seja considerado como uma fonte imprescindível para as mulheres curdas e é uma aliança indiscutível. Elas têm sua própria ideologia de libertação da mulher, baseada em cinco princípios:
a) Amor à terra natal e a defesa da mesma.
b) O pensamento livre e a vontade livre. Ser você mesma e afastar-se das influências do sistema capitalista, patriarcal e estatal.
c) A auto-organização como modo de vida, com base no companheirismo entre iguais na luta.
d) A luta é um caminho sem fim, por mais que avance e tenha sucesso, nunca se pode deixar de lutar.
e) Ética e estética: somente por meio dos princípios éticos de amor e beleza dentro da vida é que se pode desenvolver uma luta que acarreta na liberdade.
Como as mulheres estão se organizando depois da revolução? Formaram alguma instituição?
Todo o sistema da FDNLS tem uma estrutura geral mista e uma réplica da estrutura: autônoma das mulheres (não mista). Para cada comitê que existe: educação, saúde, política, economia, justiça, etc. há uma parte autônoma de mulheres em que os homens não podem opinar ou influenciar. Suas decisões são autônomas e serão aplicadas nas estruturas gerais. Os temas que dizem respeito diretamente aos conflitos de gênero, como, por exemplo, a violência machista, são de competência das estruturas das mulheres, que decidem e organizam.
O que é Jineolojî?
Jineologî é a construção de uma nova ciência, feita sob o ponto de vista das mulheres. Através dos séculos, o conhecimento tem sido roubado das mulheres com violência. As mulheres têm sido alienadas dos saberes e relegadas ao ostracismo com o objetivo claro de submissão. Todas as áreas das ciências sociais tem um olhar patriarcal que as atravessa, e muitos dos conhecimentos desenvolvido nasceram com o objetivo de submeter, não só as mulheres, mas toda a sociedade, às diferentes formas de escravidão. Por estas razões que nasce o Jineologê, porque é necessário revisar todos os conhecimentos até agora escritos, detectar onde o sistema de dominação deixou marcas profundas e as corrigir. Isso não quer dizer que todos os conhecimentos não são válidos, mas que há uma falta de revisão com base numa discussão livre e com o objetivo de que os conhecimentos sejam postos a serviço da sociedade.
Fonte: rojavaazadimadrid.org/entrevista-a-rojava-azadi-en-la-penultima/
Tradução > P.O.A.E.F.
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