Janet Biehl – Peter Staudenmaier
Para muitas pessoas pode resultar uma surpresa saber que a história das políticas ecologistas não foi sempre inerente e necessariamente progressista. Seu papel no seio das ideologias de tipo fascista, e mais concretamente no nacional socialismo, é uma incômoda verdade para a esquerda e o ecologismo político.
Através de um exaustivo trabalho documental, Peter Staudenmaier mostra as raízes ambientalistas e antroposóficas em que se sustentava boa parte do movimento nazi. Converteram inclusive a agricultura orgânica, o vegetarianismo e o culto à natureza em elementos chave, não só de sua ideologia, mas também de suas políticas governamentais. Também, a tarefa propagandística de relevantes hierarcas nazis ou o vínculo com a natureza do movimento juvenil alemão — modelo para a organização militarista e disciplinar hitleriana — evidenciam que “o eco” formava um de seus eixos político-ideológicos mais importantes.
Como avisa Janet Biehl, esta associação entre ecologia e fins racistas, nacionalistas e fascistas, não pode se delimitar a uma época obscura anterior a Segunda Guerra Mundial. No ecologismo contemporâneo existem correntes de ultradireita, que inclusive chegaram a ocupar lugares de influência em Os Verdes alemães. Posições como a de Rudolf Bahro, defensor de um “Adolf verde” ou de “um pouco de eco ditadura” como saída à crise ecológica, evidenciam que, longe de ser um resíduo histórico, a irrupção política do ecofascismo é um risco evidente.
A cisão entre a questão social e a questão ecológica — ou as teorias em que a análise anticapitalista está ausente da crítica a degradação ambiental — brinda um espaço político e intelectual para o ecologismo autoritário. Esse risco é ainda maior na atualidade, quando o autoritarismo está se naturalizando como solução política a todas as crises de um mundo estruturalmente catastrófico. Temos a esperança de que os temas examinados neste livro contribuam para reforçar um modelo de política ecológica crítica e de confronto.
Janet Biehl (Cincinnati, 1953) É uma pensadora e ensaista estadunidense centrada no municipalismo libertário e na ecologia social. Foi estreita colaboradora de Murray Bookchin, com cujas teses antiestatais rompeu em 2011. Editora entre 1987 e 2003 de Left Green Perspectives, publicou Rethinking Ecofeminist Politics (1991), Las políticas da ecología social(Virus, 1998, reeditado pela quarta ocasião em 2018), Revolution in Rojava: Democratic Autonomy and Women’s Liberation in Northern Syria(2016), Ecología o catástrofe. La vida de Murray Bookchin (Virus, 2017), e coordenou The Murray Bookchin Reader (1997).
Peter Staudenmaier (1965) Professor de história alemã moderna na Universidade de Milwaukee. Foi ativista anarquista, participou do movimento verde e também do cooperativismo nos Estados Unidos e Alemanha. Como acadêmico, se centrou na história do nazismo e do fascismo, do pensamento racial e do ecologismo. Na atualidade, está imerso no projeto de pesquisa “La política da sangre e el suelo: ideales ambientales na Alemania nazi“, sobre os movimentos agrícolas alternativos no Terceiro Reich, os “defensores del paisaje” nacional-socialistas e os componentes ecológicos da política nazi nos territórios conquistados da Europa do Leste.
Ecofascismo | Lecciones sobre la experiencia alemana
Janet Biehl – Peter Staudenmaier.
Virus Editorial, Colección Ensayo. Barcelona 2019
206 págs. Rústica 21×14 cm
ISBN 9788492559916
17.00€
Tradução > Sol de Abril
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!