Entre 19 e 31 de março teve lugar no MACRO Asilo de Roma (Itália) o evento Arte Anarchia. Assim, o coletivo Escola Moderna / Ateneu Libertário comemora 10 anos de atividade ao lado da revista veneziana APARTe°, única no seu gênero no campo da arte e da anarquia, celebrando este encontro internacional e exposição sobre a relação entre Arte e Ideal.
O formato de Arte Anarchia tem paralelos com outras experiências recentes no estado espanhol como Arte e Propaganda libertária, ANARCO ou jornadas de Arte e Criatividade Anarquistas. É um formato de grupos de afinidade ou assembleias, que de forma horizontal e distribuída se auto-organiza pelos princípios de apoio mútuo. Alguns participantes em todos esses encontros tornaram a se reunir novamente em Roma. Enquanto o espaço apresentava suas próprias características como esperado.
E em primeiro lugar descobrimos que a exposição e o encontro não ocorrem em um espaço independente, autogerido e/ou ocupados, mas de uma instituição museológica como o MACRO Asilo em Roma. No entanto, esta é uma instituição que tem certas peculiaridades, primeiro de tudo é a falta de orçamento para seu funcionamento, como o patrocínio com o que contava passou para a espetacular iniciativa cultural romana, o MAXXI, construído por Zaha Hadid. Nessa circunstância, a nova direção do MACRO, liderado por Giorgio de Finis, antropólogo (que vem de um projeto alternativo interessante como é o MAAM, um museu criado em uma antiga fábrica ocupada, onde coexiste arte contemporânea com o caráter de refúgio e espaço de acolhida para os migrantes, em que a arte tem tomado um papel protetor impedindo o despejo forçado da propriedade), ele decidiu transformar o MACRO em uma espécie de “asilo” (daí o nome) para artistas, compensando a falta de recursos econômica com a abertura de espaços para oficinas temporárias, palestras, performances, mostras de vídeo e apresentações de curta duração (a duração de Arte Anarchia é excepcional), propostos pelos próprios artistas que encontram neste espaço um lugar para organizar e distribuir seus próprios projetos sem ter uma equipe de comissários para usar, por outro lado, provoca forte oposição aos domínios da gestão cultural e artística da cidade. Cabe destacar que, por exemplo, um dos eventos que coincidiram com Art Anarchia na época era um evento para celebrar o ano novo curdo organizado pelo grupo reconhecido Stalker.
Além do espaço onde tem lugar o encontro Arte Anarchia também encontramos novos aspectos nos conteúdos que não tem estado muito presentes em mostras sobre arte e anarquia anteriormente citadas e proporciona a exposição um novo enfoque, como um olhar para trás, referindo-se a projetos artísticos de caráter anarquista inscritos na história da arte, como a exposição de serigrafias de Flavio Costantini (uma referência dentro da gráfica anarquista) e Daniela Bognolo e documentos associados a obra “O funeral do anarquista Pinelli” Enrico Baj, que em 1972 provocou um grande escândalo e respostas duras de círculos conservadores, a tal ponto que sua exposição foi proibida. Nesta densidade histórica também contribui o fundo editorial ApARTeº, uma revista com uma frequência semestral há 15 anos, com especial atenção a qualquer material ligado à cultura libertária.
Também é de se destacar o olhar para o e-mail-art, uma prática na mais pura tradição conceitual de questionar os modos artísticos de objetos, de mercado e de distribuição que nunca acaba desaparecendo talvez porque é sempre relevante, em seu início por sua conexão com discursos anti-arte e a favor da democratização das práticas artísticas e a criação de redes de distribuição alternativas, mais tarde com o advento da net-arte, incorporando suas redes latentes às listas de e-mail e, agora no momento, pós-internet, com uma volta ao físico.
Na maior parte da exposição encontramos uma parte do que poderíamos chamar de “formalismo revolucionário” que brinca com os ícones e cores da anarquia, uma espécie de, uma vez que estamos na Itália, “pobreza política”, e com outra parte que alude ao agit-prop, em que se misturam projetos que partem da arte para incidir no espaço público com propaganda antiautoritária e anarquista completamente anônima, tais como o cartaz denunciando a brutalidade policial, sob o lema “O próximo pode ser você” nos mostra retratos de assassinatos pela polícia italiana dentre os quais podemos reconhecer a Carlo Giuliani, entre outros.
A arte de ação e a música também receberam seu espaço através de várias apresentações agendadas e concertos junto com diversas conversas ao longo de cada dia do evento.
Em suma, encontramos uma mostra que apresenta uma cultura construída de baixo para cima com a intenção de formar um contra-público a partir do pensamento libertário, onde a visibilidade é dada a uma rede internacional de práticas artísticas inspiradas por princípios anarquistas, num esforço mais para que estes tipos de encontros centrados na cultura visual cheguem a alcançar popularidade e a consolidação em outros aspectos da cultura libertária já assentados, como é o caso da literatura através de feiras de livros anarquistas.
Os materiais de arquivo e biblioteca foram doados por grupos como A-Rivista Anarchica, Associazione “Amici dell ‘Archivio Famiglia Berneri-Aurelio Chessa” CSL – libertários Centro Studi / Archivio Giuseppe Pinelli, FAL-Fundación Anselmo Lorenzo Madrid, FuoriPosto, Gruppo Anarchico Carlo Cafiero-FAI.
Os participantes do encontro foram Andreco, Enrico Baj, Nicoletta Braga, Daniela Bognolo, Paola Brolati, Belatz, Lorena Canottiere, Vico Calabrò, Andrea Chiarantini, Alberto Ciampi, Alessandro Colombo, Antonella Conte, Emiliano Coletta, Veronica Coltellacci, Flavio Costantini, Democracia De Michele rino, Marco Donnarumma, EnContingencia, Toni Ferro, Kiki Franceschini, Elisa Franzoi, Fotomovimiento, Fausto Grossi, JACA, Alessio Lega, Juan Loriente, Juan Domingo Pablo Macias Mestre, Valerio Muscella, Guglielmo Manenti, Antonio Manuel, Byron Maher Margherita Pevere, Professor Bad Trip, Pinta Laura Cazzaniga, Rainha do Bongo, Lavinia raccanello, Pedro G. Romero, Alessandro Ragazzo, Oliver Ressler, Diego Rosa, Sarah Revoltella, Fabio Santin, Norma Santi, Santiago Sierra, Daniela Spaletra, Carlos Taibo, Claudia Tumminello, tudo para Praxis, Alain Urrutia, Alice Vercesi, Luca Vitone, Erdrera Vendrell.
Fonte: https://contraindicaciones.net/arte-anarchia-en-el-macro-asilo/
Tradução > Liberto
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!