Mais de 100 pessoas participaram sábado (27/04) na despedida de Pastora, mãe do preso anarquista Xosé Tarrío, falecida na quinta-feira passada.
Pouco mais de uma centena de pessoas se aproximaram sábado à Playa de Os Riás, em Corunha, para se despedir de Pastora Dominga González Vieites, mãe do preso político anarquista Xosé Tarrío, autor do famoso livro “Huye hombre, huye. Diario de un preso FIES” e que morreu em janeiro de 2005 por uma paralisia cerebral após uma longa agonia fruto de seu deteriorado estado de saúde após sua passagem por grande parte das prisões de todo o estado.
Tarrío, natural do bairro de Katanga em Corunha, nasceu no seio de uma família humilde e passou sua juventude entre internatos e reformatórios. Em 1987 foi condenado a uma pena de 2 anos 4 meses e um dia por um pequeno roubo causado por sua adesão as drogas. Já na prisão, deixou todas as drogas e adquiriu consciência política anarquista. Esses 2 anos, 4 meses e um dia se transformaram em 71 anos de condenações firmes. Catalogado como preso FIES (Arquivos Internos de Monitoramento Especial) Tarrío transitou por grande parte dos cárceres de todo o estado, cumpriu 17 anos de prisão, dos quais 12 esteve em isolamento, protagonizou motins e tentativas de fuga da prisão, algumas com êxito, e ao ver à luz seu livro, publicado pela editorial Virus em 1997 seu argumento contra o sistema penitenciário espanhol abriu os olhos de toda uma geração ante a crua realidade dos presos mais desfavorecidos.
Sua mãe, havia emigrado à Suíça ante a dura situação econômica, mas voltou à Corunha, incapaz de tolerar o que seu filho estava passando no cárcere, começou a envolver-se na luta contra as prisões. Com o tempo chegou a ser uma referência na luta anticarcerária e um nexo de união entre as diversas famílias anarquistas. “Podia haver conflitos entre muitxs de nós, mas quando chegava Pastora todxs nos esquecíamos” comentam seus familiares e companheirxs na Playa de Os Riás, onde faz 14 anos espalharam as cinzas de Xosé.
Apesar de que a manhã ameaçasse chuva constante, pouco a pouco, amigxs, familiares e companheirxs chegados desde todos os povoados do estado foram aparecendo na praia, até juntarmos mais de 100 pessoas. Passado já de meio dia se fez o ato de despedida, em um bosque junto a praia, onde se recorda Pastora com música e poesia, e se chama a que sua luta não morra. Finalmente familiares e amigxs espalharam suas cinzas e plantam uma árvore no mesmo lugar. As cinzas de Pastora já descansam junto às de seu filho Xosé. O ato termina com a canção “Carcelero” de Kojón Prieto e os Huajalotes, canção que Pastora gostava muito.
Após o emotivo ato aconteceu um almoço popular, apesar de ter sido ameaçada pela chuva, finalmente saiu o sol e todos os participantes puderam desfrutar de uma tarde na qual se mesclava a tristeza por sua partida e a alegria por continuar seu exemplo de luta. “O Sol saiu por Pastora, foi ela que não nos queria ver tristes” comentam alguns dxs participantes.
Os projetos de Pastora
Pastora levou adiante vários projetos e tinha vários mais em mente. Participou ativamente no Ateneu Libertário Xosé Tarrío, em Corunha, dentro do qual sempre impulsionou comedores populares para financiar a luta anticarcerária, tinha também a ideia de criar comedores sociais: “Que a ninguém falte um prato de comida” dizia ela a seus companheirxs do Ateneu.
Junto com o advogado e ativista Fran del Buey havia impulsionado a “Asociación Nais contra a Impunidade” (Mães contra a impunidade) onde se atenderam vários casos. Apesar de diversos problemas que a associação passou, nos últimos tempos estava revivendo e voltando a atender diversos casos de crueldade carcerária ou impunidade policial. Por um deles, a denúncia da morte do jovem Diego Viña sob custódia no quartel da Guarda Civil de Arteixo, foi processada junto com outras ativistas de Nais contra a impunidade assim como familiares do próprio jovem morto sob custódia do corpo armado.
Outro projeto no qual Pastora se encontrava participando era uma associação de familiares de presxs e represaliadxs a nível estatal “Famílias frente à crueldade carcerária”.
Além disso, Pastora tinha outra ideia para um projeto, que não pode realizar, consistia em comprar uns terrenos e uma casa para acolher a ex-presxs sem família, dando-lhes um lar e pondo-os a trabalhar a terra, buscando o empoderamento dxs ex-presxs, para que com o tempo pudessem apadrinhar a novos ex-reclusxs que fossem chegando.
Ademais Pastora havia participado em vários livros, entre eles o segundo livro de Xosé Tarrío “Que la luta no muera. Ante la adversidad: Rebeldía e amistad” o qual prologava um texto seu.
Todo um símbolo da luta anticarcerária
Pastora passou anos participando no movimento contra as prisões, chegando a ser nexo de união do movimento anticarcerário e do movimento libertário. Sua valentia, dignidade e sua empatia a fizeram ser uma pessoa muito conhecida ao mesmo tempo que querida ao longo de todo o estado.
Em Corunha, ontem apareceu um novo mural, próximo da famosa Torre de Hércules no qual se pode ler “Que la luta no muera. Abaixo os muros. A Nai das punks” (Abaixo os muros. A mãe dxs punks). Uma homenagem a uma mulher que nos demostrou uma vez mais a força que tem as mães defendendo a seus filhxs das injustiças. Pastora faz parte já da memória histórica e coletiva do movimento anticarcerário.
Fonte: https://galiza.lahaine.org/ultimo-adios-a-pastora-dominga
Tradução > Sol de Abril
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